sábado, 30 de novembro de 2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

OS PRÍNCIPES DE PORTUGAL


Os portugueses tiraram a fome e curaram os corpos no Brasil e em África

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Para lá de devaneios românticos, imprestáveis para o conhecimento objectivo e científico da História e da Antropologia, o que realmente importa mensurar e avaliar na relação entre Portugal e o mundo que o português criou juntamente com os povos que no processo dialéctico se constituíram em Portugalidade - nas suas dimensões física e territorial, institucional e política, económica e tecnológica, espiritual e cultural - é o facto de tal processo, longo de meio milénio, se ter saldado por um grande triunfo.

Ora, expliquemo-nos.

Usando a terminologia de Claude Lévi-Strauss, a "sociedades frias" (isto é, privadas do conhecimento de si mesmas, e até desconhecedoras do mundo para além dos seus pequenos mundos), sucederam "sociedades quentes" (isto é, conscientes de si e da diversidade do mundo); logo, com a percepção dinâmica que permite superar limitações, vencer desafios e fazer escolhas entre futuros.

O que era o Brasil em 1500? Para cada uma das 350 tribos que povoavam a imensa superfície brasileira e se desconheciam entre si, o mundo era o rio de onde tiravam o peixe, a cadeia montanhosa que todos viam como barreira e limite da existência, a praia de mar banhada pelo oceano que pensavam ser infinito. Transpondo o Oceano, a mesma questão se coloca às então sociedades frias e ágrafas (privadas de escrita) da costa ocidental de África. Em ambas as margens, não havia o Bom Selvagem, nem a abundância que os Iluministas imaginaram no século XVIII. Ali, a existência era curta e violenta, inapelavelmente submetida a uma luta sem quartel pela caça e pelas terras de cultivo. Hoje, graças ao notável desenvolvimento da historiografia sobre a África e a América pré-colombiana, afastado o sonho de uma era dourada que jamais existiu, tomamos consciência da importância decisiva do encontro ente o Ocidente e os mundos ameríndio e africano ocidental.

Onde antes toda a energia de homens, mulheres, crianças e idosos estava consagrada a satisfazer a necessidade primária de alimento, mercê da agricultura extensiva e do recurso à caça, passou a haver agricultura intensiva e, logo, agricultura industrial com capacidade para aprovisionamento e exportação.

Onde antes o alimento era escasso e quantas vezes insuficiente para debelar a fome endémica ou fornecer os nutrientes necessários a impedir a propagação de doenças, deu-se a introdução da actual base alimentar dos povos americanos e africanos. Bom seria lembrar que os portugueses levaram ao Brasil a galinha, o pato, o carneiro, a vaca, a ovelha, mas também a banana, a laranja, o coco, a cana de açúcar, como importante seria lembrar que a dieta africana foi revolucionada pela introdução pelos portugueses do milho (que destronou o sorgo), mas, sobretudo, pela aclimatação do gado, graças à capacidade em erradicar pela veterinária as patologias locais endémicas.

Onde antes a duração média de vida dos ameríndios e africanos não excederia os 25-30 anos de idade e a mortalidade causada directamente pelas chamadas doenças tropicais reclamava um pesado tributo, os portugueses introduziram a quinina - a planta que matava a febre - e lentamente fizeram aplicar as regras cautelares que impediam as febres sezonais; mais, foi graças à medicina tropical que os africanos passaram a saber fazer o diagnóstico e o tratamento de doenças até aí incuráveis como o dengue, a cólera, a turberculose, a lepra, as chagas, a cegueira das nascentes e a doença do sono.

Desconfiemos, pois, sempre, de quantos desconhecem ou evitam pôr de relevo os indiscutíveis benefícios levados pelos portugueses. Uma relação adulta e racional com a História não se compraz com leituras reducionistas e limitadas.

MCB


Fonte: Nova Portugalidade

George Henrique Alves Eu iria discordar da afirmação de que a banana e do côco foram trazidos por portugueses ao Brasil...mas fui pesquisar, e VSa têm razão...achava eu que bananeiras e coqueiros fossem endêmicos na minha pátria... Puxa vida.... mais uma vez agradeço os portugueses!! Viva Portugal!

DEUS - PÁTRIA - REI


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

JANTAR DOS CONJURADOS 2019 - Braga

DEUS - PÁTRIA - REI: JANTAR DOS CONJURADOS 2019 - Braga: As Reais Associações de Viana do Castelo e de Braga convidam V.ª Ex.ª a participar no “Jantar dos Conjurados” que se realizará no dia 30 ...

Castelo de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso

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Возрождение имперских традиций

SAR DOM DUARTE DUQUE DE BRAGANÇA EM MOSCOVO
Em frente ao quadro da Imperatriz Catarina II da Rússia, os herdeiros aos tronos da Russia e Portugal celebraram a amizade russo-portuguesa.
SAR Dom Duarte duque de Bragança, a grã-duquesa da Rússia Maria Wladimirovna e seu filho o grão-duque George Mikhailovich celebraram a amizade russo-portuguesa no Palácio de Tsaritsyno e trocaram entre si as Ordens de Vila Viçosa, de Portugal, e a Ordem de Santo André, da antiga Rússia czarista.



terça-feira, 26 de novembro de 2019

Museu Geológico, Lisboa

Visita Guiada: Museu Geológico, Lisboa - No coração da Lisboa histórica, este museu está praticamente intocado há quase 150 anos, quando foi inaugurado. É, portanto,

Eduardo Nascimento (1944-2019): uma voz portuguesa...

DEUS - PÁTRIA - REI: Eduardo Nascimento (1944-2019): uma voz portuguesa...: O primeiro negro a pisar o palco da Eurovisão era português Tive há anos acesso a documentação vária existente no Arquivo Histórico...

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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Liberdade de Expressão, Sempre!

Censurar ideias?! Nunca! Em tudo e sempre, liberdade de pensamento e de expressão! Silenciar o pensamento divergente é o denominador comum de todas as tiranias.

No Público de 7-1, Susana Salgado questionou “O princípio do fim da liberdade de expressão?”. Para além de manifestar preocupação em relação às fake news e às redes sociais, sugere que a democracia, em defesa dos seus valores e frente aos populismos emergentes, adopte uma atitude fiscalizadora do exercício da liberdade de expressão.
Pergunta: “deve haver liberdade de expressão numa sociedade democrática para quem defende valores não democráticos?”. A resposta só pode ser uma: sim! A democracia não é o regime político de alguns, mas de todos e para todos, ou seja, também para os que não são democratas e até defendem valores antidemocráticos. Aliás, também se aplica a justiça aos injustos e os cuidados de saúde aos suicidas. Em nenhum caso se admite que um Estado de direito recorra aos métodos terroristas, nem sequer para combater o terrorismo. A democracia é para todos, ou não é democracia: não há democracias a meias, ou apenas para os que defendem valores democráticos. 
Diz que, “em teoria, um democrata não rejeita a liberdade de expressão do que é diferente”. Um democrata não é quem, “em teoria”, defende a liberdade de expressão, mas quem, na prática da vida pública, a exerce e respeita. Todos são democratas “em teoria”: os regimes comunistas também se consideram ‘democráticos’ e o próprio Hitler, eleito democraticamente, considerava-se o legítimo representante do povo alemão. Mas, destes democratas “em teoria”, Deus nos livre! Uma democracia, sem uma prática política plural e livre, não é uma democracia, mas a sua caricatura.
O que será então mais democrático: dar espaço à expressão de ideias que desafiam o que é considerado democrático na nossa sociedade, ou simplesmente silenciá-las, limitando a liberdade de expressão?” Censurar ideias?! Nunca! Em tudo e sempre, liberdade de pensamento e de expressão! Silenciar o pensamento divergente é o denominador comum de todas as tiranias, sejam de esquerda ou de direita. As ideias e os pensamentos não se silenciam, mas criminalizem-se as acções contrárias à liberdade e à dignidade humana. Se se proíbe o Mein Kampf, de Adolf Hitler, não há nenhuma razão para também não censurar o Manifesto comunista porque ambos são apologias de ideologias antidemocráticas. Com efeito, o parlamento europeu equiparou o comunismo ao nazismo, ao aprovar, por 535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções, a resolução Importance of European remembrance for the future of Europe
Mas, pergunta, permitindo uma total liberdade de pensamento e de expressão, não se estão a permitir “manipulações intencionais” da opinião pública? Claro que sim, porque o reconhecimento de qualquer liberdade pressupõe o risco do seu abuso. A existência do matrimónio também possibilita a violência doméstica, que não se resolve proibindo o amor conjugal, mas penalizando os comportamentos agressivos. Nunca “a liberdade de expressão de uns significa a opressão de outros”, porque o ordenamento jurídico, que deve assegurar a efectiva liberdade de expressão de todos os cidadãos, também prevê os mecanismos de prevenção e punição do crime de abuso desta liberdade. 
É verdade, como se diz neste artigo, que as redes sociais “intensificam angústias e ressentimentos e amplificam a sua visibilidade” e que “o ódio polariza e prepara o clima para que a desinformação e as notícias falsas sejam aceites”. Mas é ingénua a suposição de que as redes sociais inventaram este sentimento: o comunista ódio de classe, ou o nazi ódio antissemita, não precisaram das redes sociais para se imporem, e causarem milhões de vítimas. As redes sociais, como a imprensa, a rádio e a televisão, são apenas meios técnicos, que tanto servem para o bem como para o mal. Mas não se combate o ódio, ou a desinformação, com a supressão da imprensa, ou o controle das redes sociais. Combate-se o ódio com a caridade e a desinformação com a verdade, mas não com a censura, nem com o silenciamento dos dissidentes. 
As redes sociais, não obstante as suas evidentes fragilidades, prestam um inestimável serviço à democracia, como contra-poder dos grupos económicos e políticos que controlam os meios de comunicação social. O unanimismo dos media portugueses é, infelizmente, uma realidade; por exemplo, na gratuita publicidade às iniciativas fracturantes e no sistemático silenciamento das reações contrárias. Mesmo o Polígrafo, na sua louvável actividade crítica, nem sempre é isento e objectivo e, por isso, também foi contraditado nas redes sociais, nomeadamente pelo Notícias Viriato.  
Muito embora nesse artigo se apresente Mark Zuckerberg como o grande campeão da total liberdade de expressão, o Facebook remove, censura e silencia, durante períodos mais ou menos longos, alguns dos seus utilizadores, não por questões de ódio ou qualquer prática criminosa, mas por razões que, salvo melhor opinião, atentam contra a liberdade de pensamento e de expressão dos seus utentes.  
E, quando os utilizadores “espalham todo o tipo de teorias da conspiração, incluindo os que negam o Holocausto”?! Uma teoria da conspiração, ou o negacionismo em relação ao Holocausto, não se combatem com medidas censórias ou repressivas, mas com a evidência histórica, que descredibiliza e ridiculariza quem nega a realidade. Em questões científicas, históricas e políticas opináveis, não há, nem pode haver, dogmas: só recorre à razão da força quem não tem a força da razão. 
Verdadeiramente perigosa é a proposta com que se conclui este texto: “esta é a oportunidade para pensar uma regulação séria do online”! Pior ainda: “Devem os gigantes da Internet (Facebook, etc.) policiar os conteúdos que publicam, ou devem ser os governos e as organizações internacionais a fazê-lo?” Regular?! Policiar?!  
Para quem ainda não tivesse percebido que este manifesto obedece a uma lógica totalitária, paternalista e censória, a citação do marxista Marcuse dissipa qualquer dúvida: “o compromisso dos liberais com o discurso livre é absurdo, porque este é apenas mais uma forma de opressão. Mais de 50 anos depois, é essencial encontrar formas de assegurar a participação de todos, regulando simultaneamente os conteúdos publicados”.  
Marcuse disse-o, mas Adolf Hitler e Josef Stalin puseram em prática esta grande “oportunidade”: os seus regimes dedicaram-se, efectivamente, a “policiar” o pensamento e a impor uma “regulação séria” dos cidadãos! Portugal é, talvez, o único país europeu em que o comunismo, estalinista e trotskista, ainda tem uma considerável representação parlamentar, o que significa um sério perigo para a democracia. Ante a tentativa de impor uma nova censura, há que defender, sem tibiezas, a liberdade de pensamento e de expressão em Portugal, na Europa e no mundo inteiro. 
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: Observador
DEUS - PÁTRIA - REI

terça-feira, 19 de novembro de 2019

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Que Bandeira Para Portugal?

DEUS - PÁTRIA - REI: Que Bandeira Para Portugal?: A propósito da teatral aparição da deputada do Livre e do seu assessor no parlamento, Helena Matos transcreveu as palavras proferidas n...

domingo, 17 de novembro de 2019

Jantar dos Conjurados 2019

DEUS - PÁTRIA - REI: Jantar dos Conjurados 2019: Irá realizar-se no próximo dia 30 de Novembro com início às 19:00, na Associação Comercial de Lisboa (Rua das Portas de Santo Antão, 89...

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Museu Geológico, Lisboa

Visita Guiada: Museu Geológico, Lisboa - No coração da Lisboa histórica, este museu está praticamente intocado há quase 150 anos, quando foi inaugurado. É, portanto,

12 de Novembro de 1877: O explorador português Serpa Pinto inicia a travessia do continente africano...

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Serpa Pinto, de seu nome Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto, 1º Visconde de Serpa Pinto, * Cinfães, Tendais, Quinta das Poldras, 20.04.1846 - † Lisboa, Lisboa, 28.12.1900. Era filho de José da Rocha Miranda de Figueiredo (*1798 - †1898) e de D. Carlota Cassilda de Serpa Pinto (*1800); Neto paterno de Luis da Rocha Figueiredo (*1768) e de D. Rosa Teixeira Pinto (*1768) e neto materno de Alexandre Alberto de Serpa Pinto da Costa (*1780 - †1838) e de D. Joaquina Antónia da Silveira de Lacerda Pinto de Athaíde e Vasconcelos. Serpa Pinto era descendente de Dom Afonso Henriques, por via materna.

Serpa Pinto foi:

- Explorador de África.

- Primeiro português a atravessar o Continente Africano do Atlântico ao Índico, de Benguela a Durban (1877/79).

- Oficial da Ordem da Torre e Espada e da Ordem de Cristo.

- Governador de Cabo Verde.

- General de Brigada.

- Deputado às Cortes por Cinfães, pelo Partido Progressista.

- Senhor da Casa do Paço da Serrana, Cinfães.

- Comandante do destacamento português em território Macololo aquando do Ultimato Inglês de 1890.

- Deputado às Cortes, por Cinfães, pelo Partido Regenerador (e não pelo Partido Progressista).

Biografia:

Nasceu na freguesia e paróquia de Tendais, casa e quinta das Poldras, concelho de Cinfães, no dia 20 de Abril de 1846, filho do Miguelista José da Rocha Miranda de Figueiredo, médico, e de sua mulher D. Carlota Cassilda de Serpa Pinto - sendo neto homónimo, pelo lado materno, do famoso liberal, militar e político, Alexandre Alberto de Serpa Pinto (†1839).

Ingressou no Colégio Militar com dez anos e aos dezassete tornou-se no seu primeiro Comandante de Batalhão aluno.

Serpa Pinto viajou pela primeira vez até à África oriental em 1869 numa expedição ao rio Zambeze. Integrava uma coluna de quase mercenários, cujo objectivo conhecido era o de enfrentar as milícias do Bonga, que já infligira nas tropas portuguesas várias e humilhantes derrotas. Mas Serpa Pinto integra a coluna como técnico, avaliando a rede hidrográfica e a topografia local, pelo que podemos inferir ou suspeitar dos intuitos não apenas bélicos, mas de interesse estratégico no reconhecimento e posterior controle da região.

Em 1877 Serpa Pinto é nomeado por Decreto de 11 de Maio do mesmo ano, para participar numa expedição científica à África Central da qual também faziam parte os oficiais da marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. Segundo o decreto foram nomeados «para comporem e dirigirem a expedição que há-de explorar, no interesse da ciência e da civilização', os territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique, e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze… » Este objectivo constituía uma vitória de José Júlio Rodrigues sobre Luciano Cordeiro dado que este último tinha lutado por uma travessia de costa a costa, passando pela região dos grandes lagos da África Central. Feito o trajecto Benguela-Bié, divergências entre Serpa Pinto e Brito Capelo levam a expedição a dividir-se, com Serpa Pinto, por sua iniciativa a tentar a travessia até Moçambique. Na verdade Luciano Cordeiro que nunca se tinha conformado com o facto da expedição não ser de costa a costa veio a encontrar em Serpa Pinto um irmão do mesmo sonho, já que Serpa Pinto sonhava desde longa data com uma empresa grandiosa em África. Desde o princípio da viagem Serpa Pinto tenta desviar os objectivos da expedição. Capelo e Ivens recusam-se ao que consideram ser “os desvarios de Serpa Pinto” e cognominando-o de falsário participam a separação. Serpa Pinto acabou por falhar o seu objectivo, pois não o conseguiu como pretendia, atingir qualquer ponto da costa moçambicana, como foi sua declarada intenção. Chegou, no entanto, a Pretória, e posteriormente a Durban. Brito Capelo e Roberto Ivens mantiveram-se fiéis ao projecto inicial concentrando as atenção na missão para que haviam sido nomeados, ou seja nas relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Mais tarde, Capelo e Ivens explicaram que não tinham "o direito de divagar nos sertões, por onde quiséssemos, dirigindo o nosso itinerário para leste ou norte".

A expedição de Serpa Pinto tinha como objectivo fazer o reconhecimento do território e efectuar o mapeamento do interior do continente africano, para preparar a entrada de Portugal na discussão pela ocupação dos territórios africanos que até então apenas utilizara como entrepostos comerciais ou destino de degredados. A «ocupação efectiva», sobre a ocupação histórica, determinada pelas actas da Conferência de Berlim (1884-1885) obrigou o Estado Português a agir no sentido de reclamar para si uma vasta região do continente africano que uniria as provincias de Angola e Moçambique (então embrionárias) através do chamado "mapa cor-de-rosa"; esta intenção falhou após o ultimato britânico de 1890, o «incidente Serpa Pinto», já que nela interveio o explorador, ao arrear as bandeiras inglesas, num espaço cobiçado e monitorizado pela rede de espionagem do Reino Unido, junto ao lago do Niassa.

A aventura de Serpa Pinto, travessia solitária e arriscada, moldaram a imagem de um homem intrépido que concedeu ao militar uma aura de heroicidade necessária às liturgias cívicas e às celebrações dos feitos passados, quando Portugal atravessava uma grave crise política e moral. Nesse sentido a sua figura foi explorada como o novo herói, das novas descobertas que já não passavam por sulcar os mares, mas rasgar as selvas e savanas de África como forma de manutenção do prestígio internacional na arena diplomática europeia.

Conotado com a ala direita dos partidos monárquicos portugueses, por um dos quais foi três vezes deputado (partido Regenerador), o seu nome feneceu depois de 1910, por um lado pela necessidade de exaltação das novas figuras heróicas republicanas e pela cristalização do espaço colonial europeu pós-guerra (1914-1918). A sua figura é ressuscitada pela filha, Carlota de Serpa Pinto, que o glorifica como ídolo heróico do Estado Novo, aventureiro e administrador colonial, em detrimento do político e cientista (embora este estatuto que, por vezes, lhe foi imposto, seja o mais discutido de todos).

Foi nomeado cônsul-geral para o Zanzibar em 1885 e governador-geral de Cabo Verde em 1894.

Tanto o Rei D. Luís I, como o seu filho Carlos I de Portugal, nomearam-no seu Ajudante de Campo e o segundo concedeu-lhe, em duas vidas, o título de 1.º Visconde de Serpa Pinto (1899).

A vila de Menongue, no sudeste de Angola, foi chamada Serpa Pinto até 1975 em alusão a este explorador.

Cronologia:

11.05.1877 Hermenegildo de Brito Capelo, Roberto Ivens, oficiais da marinha, e Alexandre Alberto Rocha Serpa Pinto, oficial do exército, foram designados por decreto para as expedições a África. O seu principal objectivo era o estudo do rio Cuango e das suas relações com o rio Zaire.

07.07.1877 Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens partem de Lisboa para Luanda, para realizarem expedições científicas no interior de África.

12.11.1877 O explorador português Serpa Pinto inicia a travessia do continente africano.

08.03.1878 Os exploradores portugueses Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto chegam a Belmonte, no planalto do Bié, no interior de Angola.

12.02.1879 Serpa Pinto chega a Pretória tendo explorado o Cubango e o Alto Zambeze.

09.06.1879 Chega a Lisboa Serpa Pinto, após a travessia de África com Capelo e Ivens começada em 7 de Julho de 1877.

Obra Literária:

Como eu atravessei a África (Vol. I)

Como eu atravessei a África (Vol. II)

(Fontes: Investigação António Carlos Janes Monteiro, GeneAll, Wikipédia e Miguel Ângelo Bôto)

Da Direita e das direitas

O que é estranho é que, mais de 45 anos sobre o 25 de Abril e quase 44 anos sobre o 25 de Novembro, a direita partidária ainda esteja nesse registo assustadiço, preferindo ser ou dizer-se de centro.

A direita tem por bases filosóficas o pessimismo antropológico e o realismo geopolítico e rejeita as concepções optimistas do homem que, de Rousseau a Marx, foram a base ideológica de utopias que levaram aos Goulags soviético e maoista. Acredita na importância da História, da Geografia e da Geopolítica para a definição e para a acção dos homens e das comunidades políticas e acredita na Nação como comunidade de destino, corpo intermédio entre o individual e o universal, a pessoa e a humanidade.

Respeita a religião, a memória colectiva, a família. Tem uma concepção orgânica da sociedade; valoriza a pessoa e as suas liberdades mas não sacraliza o individualismo e o arbítrio. Por isso, embora veja na iniciativa privada e no mercado livre a melhor forma de dinamizar a economia e criar riqueza, sustenta que há uma ética de justiça e de solidariedade que, em nome do interesse colectivo, deve corrigir as desigualdades mais profundas e proteger os grupos mais débeis, reforçando a coesão nacional. Sendo pela liberdade económica, está longe dos dogmas ultra-liberais.
Em síntese, a direita é tendencialmente nacionalista em política, liberal-solidarista em economia e conservadora em costumes. E quando não é conservadora em costumes, deixando a vida privada no domínio do privado, não prescreve a legalização de soluções de rotura.
A própria natureza “geométrica” desta classificação, apesar de seguir uma dicotomia mais ou menos constante de conservadores versus progressistas, aponta para o seu carácter relativo em termos de tempo e lugar.
De todas as formas, qualquer síntese deste tipo será sempre tendencial, até porque direita e esquerda são conceitos relacionais, com uma dinâmica histórica.
A oposição direita/esquerda teve origem na arrumação espacial dos deputados em França, depois da Revolução, quando, por facilidade de contagem, os partidários do direito de veto do Rei ficaram à direita do Presidente da Assembleia Constituinte e os opositores se posicionaram à esquerda. A própria natureza “geométrica” desta classificação, apesar de seguir uma dicotomia mais ou menos constante de conservadores versus progressistas, aponta para o seu carácter relativo em termos de tempo e lugar.
Em França, que foi o modelo europeu de grandes transformações de regimes e constituições, a direita, depois da Restauração, era tradicionalista, católica e conservadora; a esquerda, republicana, laica e liberal. Com a industrialização, a urbanização e a “questão social”, a economia, o dinheiro e as classes sociais entraram nos critérios: a direita defendia a propriedade, a esquerda considerava-a, com Proudhon, um roubo. E com a Primeira Internacional e o proletariado como classe vanguardista e libertadora da Humanidade, quando a esquerda radical passou também a ser, além de socialista, internacionalista, os liberais chegaram-se à direita, com medo da “rua” nas revoluções de 1848.
O que é estranho é que, mais de 45 anos sobre o 25 de Abril e quase 44 anos sobre o 25 de Novembro, a direita partidária ainda esteja nesse registo assustadiço, preferindo ser ou dizer-se de centro.
Mas a partir da derrota na guerra franco-prussiana, o nacionalismo vai, em França, por obra de pensadores como Renan, Taine, e depois Barrès e Maurras, não só integrar o pensamento da direita conservadora, como dar-lhe um sentido orgânico e autoritário. E surgirá, também em França, em autores como o mesmo Barrès e Georges Sorel, a vontade de fundir o nacionalismo e os nascentes movimentos sociais; foi esta ideia que, junto ao sindicalismo revolucionário e pelo engenho de Mussolini, inspirou inicialmente o fascismo, que é uma simbiose de “direita” e “esquerda” tradicionais.
E o fascismo triunfa em países como a Itália por ser, para as classes médias nacionalistas e conservadoras, uma alternativa e uma força frente a ameaça do comunismo e dos comunistas que, depois da vitória de Lenine na Rússia, são vistos como o inimigo principal da civilização. O marxismo-leninismo inspira a Terceira Internacional e é essa esquerda marxista-leninista que entra em conflito com sociais-democratas e liberais – a esquerda moderada.
A direita – nacional-populista – foi buscar a fronteira e a identidade nacional; a esquerda – internacional-populista – foi buscar as minorias e a gestão dos seus direitos e identidades para as congregar numa nova internacional contra a opressão de uma vasta classe dominante.
Mas o triunfo eleitoral do hitlerismo na Alemanha leva as esquerdas a unirem-se em “frentes populares”. A guerra de Espanha e o curso subsequente das alianças europeias levará à guerra mundial, em que a Alemanha e as potências do Eixo vão perder contra a aliança da Anglo-América e da URSS. Derrota no campo de batalha e em todos os campos, em face dos excessos concentracionários do hitlerismo – uma versão socio-darwinista, etnocêntrica e pagã do nacionalismo. Depois, a damnatio memoriae caiu, não apenas sobre o hitlerismo, mas sobre todos os fascismos e nacionalismos – e, por amálgama manipulada, sobre toda a direita.
A Guerra Fria levou a um reagrupamento anti-comunista e anti-soviético, animado pelos Estados Unidos, numa frente ampla que subordinou e dissolveu outros conceitos ideológicos e uniu as direitas permitidas e até as excluídas com as esquerdas moderadas.
Quando Gorbachev, sob pressão económica e cultural da América de Reagan, liberalizou politicamente a URSS, levando-a ao suicídio, e os partidos comunistas caíram por toda a parte, os conceitos e definições voltaram a uma espécie de estaca zero. A questão económica, que perdeu importância quando deixou de haver modelos socialistas, trouxe uma escalada do modelo liberal democrático que se impôs como único modelo político; e o capitalismo, com a globalização, voltou a não ter regras nem limites.
Daí vieram – sobretudo a partir da crise de 2008 – as novas forças chamadas “populistas”, numa linha geral de reacção ao optimismo globalizador mundial e à infalibilidade da “mão invisível”. Vieram da direita, mas também da esquerda, ou daquela esquerda que não se converteu totalmente à gestão do capitalismo. A direita – nacional-populista – foi buscar a fronteira e a identidade nacional; a esquerda – internacional-populista – foi buscar as minorias e a gestão dos seus direitos e identidades para as congregar numa nova internacional contra a opressão de uma vasta classe dominante: a humanidade em geral, opressora do planeta e das outras espécies; os indivíduos de raça branca, responsáveis, geracional e transgeracionalmente, pela opressão dos indivíduos de outras raças; os indivíduos de sexo masculino, responsáveis pela opressão dos indivíduos de sexo feminino; os indivíduos de sexo fixo ou correspondente ao biológico, responsáveis pela opressão dos indivíduos de géneros alternativos; e os indivíduos de cultura de matriz cristã, responsáveis por todas as inquisições, opressões e perseguições a indivíduos de outras crenças ou descrenças.

Em Portugal

A partir do fracasso da República dos Democráticos, da reacção militar do 28 de Maio e do Estado Novo, a direita governou autoritariamente Portugal por quase meio século. Quando a esquerda chegou ao poder, pelo golpe militar do 25 de Abril, a esquerda mais radical – poderosa em termos de activismo de rua e de influência no MFA – tratou de neutralizar e eliminar a direita que existia. De resto, a esquerda tinha, há muito, a hegemonia cultural, uma vez que Salazar, ao centralizar e monopolizar o pensamento político da direita e ao domesticar a sua própria área política, fora secando intelectualmente as direitas, facilitando, paradoxalmente, o domínio da esquerda na cultura. Fosse como fosse, quando do golpe militar de Abril, a direita que existia ainda tinha visões alternativas à descolonização, ideias políticas e alguma capacidade de mobilização de quadros e de militantes.
Portugal deve ser hoje o país mais à esquerda da Europa Ocidental e o que tem mais representações parlamentares de extrema-esquerda: a comunista, a bloquista, e as do populismo radical – planetário, animalista, racial e sexual.
A sua neutralização fez-se manipulando e aproveitando os golpes de 28 de Setembro de 1974 e de 11 de Março de 1975 e com o silêncio de Pilatos do PPD-PSD e do CDS, que depois aceitaram o Pacto MFA-Partidos para sobreviver. Eram uma direita conveniente à esquerda e, por isso, tolerada. Tinham um eleitorado de direita mas, ideologicamente, não tinham valores de direita, além do anti-comunismo e de uma vaga defesa da economia liberal.
O que é estranho é que, mais de 45 anos sobre o 25 de Abril e quase 44 anos sobre o 25 de Novembro, a direita partidária ainda esteja nesse registo assustadiço, preferindo ser ou dizer-se de centro, de centro-direita ou até de centro-esquerda.
Isto ainda é mais extraordinário num tempo em que a direita, nas suas várias formulações, cresce e se multiplica por toda a parte, por reacção ao domínio de um ultraliberalismo e de uma globalização sem limites, conscientemente servidos ou inconscientemente viabilizados pela ideologia da chamada “Nova Esquerda”,
Portugal deve ser hoje o país mais à esquerda da Europa Ocidental e o que tem mais representações parlamentares de extrema-esquerda: a comunista, a bloquista, e as do populismo radical – planetário, animalista, racial e sexual.
Como reconstruir em Portugal uma direita que seja idealista e realista; uma direita que, respeitando o tempo passado, seja deste tempo? Como consolidar aqui uma direita que não seja uma amálgama de slogans ocos, nem se sinta obrigada a apresentar constantes atestados de bom comportamento perante o sistema e a sua retórica, adoptando servil e acriticamente as categorias impostas pela semântica da esquerda doméstica do séc. XX? Como mobilizar uma direita nacional que não se molde à imagem caricatural que a esquerda faz dela nem se perca em chavões importados, roncantes e patrioteiros, alheios à realidade do nosso passado, presente e futuro?
Estamos num tempo de reacção e a reacção começa pela negação do estabelecido e envolve uma certa radicalidade. Por isso, e porque as sínteses vêm depois das antíteses, só muito dificilmente se chegará agora à síntese.
Desde 2016 que, na Europa e nas Américas, as direitas ganham referendos e eleições, elegendo governos e partidos populares e abalando o que parecia sólido e inamovível. Estas direitas são identitárias e são nacionais e, quer sejam mais conservadoras ou mais liberais em costumes, respeitam a propriedade e a liberdade económica, pondo-lhes limites de interesse nacional e de justiça social. Não negam o projecto europeu mas querem uma Europa das Nações, com base nas soberanias nacionais e na tradição cristã europeia, e não uma federação ou confederação de interesses económico-financeiros, em que os grandes – países e corporações – mandam, com a cumplicidade de elites periféricas, cuja ambição máxima é serem procônsules ou mesmo capatazes dos seus próprios povos.
Sem pretender excluir outras famílias ideológicas que também cabem na direita e sem nunca descurar as nossas especificidades históricas e culturais, são, aparentemente, estas as linhas de identificação à direita capaz de responder aos presentes desafios. Até porque, como o conceito é relacional, será esta a direita passível de se integrar no movimento das direitas nacionais e populares que agora contesta a hegemonia política do bloco central e o domínio cultural de uma esquerda também renovada.

Nova esquerda, nova direita

É que a esquerda deixou de ser leninista para ser gramsciana: não trata já de um assalto final ao “Palácio de Inverno”, ao Estado, mas da conquista das mentalidades para dominar a sociedade, suplantando “corpos intermédios” entre o local e o global, como os Estados, através de uma desconstrução (e reconstrução) cultural e civilizacional. Assim, a esquerda internacional continua a ter um projecto de mudança da sociedade; só que não é, para já, um projecto de socialismo totalitário, instaurado por revoluções com sangue, partidos únicos, polícia política, confiscações, campos de concentração ou fuzilamentos, mas um projecto de mudança da própria natureza humana e da sociedade, uma mudança radical mas feita em suaves prestações e viabilizada por pequenas e médias decisões, aparentemente inócuas. O fim é a destruição dos chamados “valores tradicionais” e a sua substituição pelos valores de uma humanidade nova e de um novo ser humano, actualmente em construção experimental – volátil em matéria de género, desenraizado da família e da pátria, activamente neutro em termos religiosos, inibido de usar certas palavras e conceitos, permanentemente ameaçado pelo clima e pelos eco-inconscientes e em tudo semelhante aos animais, que, por sua vez, o novo homem irá “humanizando”.
A esquerda deixou de ser leninista para ser gramsciana: não trata já de um assalto final ao “Palácio de Inverno”, ao Estado, mas da conquista das mentalidades para dominar a sociedade, suplantando “corpos intermédios” entre o local e o global, como os Estados, através de uma desconstrução (e reconstrução) cultural e civilizacional.
É hoje pelo domínio da escola, da Academia – sobretudo das Humanidades – e dos media que a esquerda passa o seu pensamento, “apartidário, não-ideológico e científico”, através de mensagens cada vez mais simplistas, como que isentas e factuais, dirigidas a destinatários (e a re-emissores) cada vez mais formatados e acríticos.
Curiosamente, é também hoje a esquerda, como detentora da nova verdade absoluta, quem proíbe pensamentos, palavras, actos e omissões; e é sobretudo ela quem hoje censura, julga e persegue. O newspeak, termo que George Orwell cunhou no 1984 e que definiu como “uma linguagem forjada para estreitar a amplitude do pensamento”, com “a eliminação ou substituição de certas palavras e a criação de palavras novas, para fins políticos”, acabou por ser a sua profecia mais certeira para o futuro que agora vivemos.
Diz o credo de isenção jornalística que todo o profissional bem pensante ao serviço da verdade absoluta tem de falar newspeak, temperando com um ou mais adjectivos torpes a ocasional referência a Marine Le Pen, Donald Trump, Jair Bolsonaro, Boris Johnson, Matteo Salvini, Santiago Abascal e criaturas afins – seres intrinsecamente perversos e diabólicos de que “ninguém gosta” (a não ser uns quantos eleitores). Do mesmo modo, onde quer que dois ou três generosos activistas se reúnam em nome da morte assistida, da vida interrompida, dos mil géneros e transgéneros, da guerra dos sexos, da luta das raças e da agonia do planeta, aí estará um profissional da informação; em contrapartida, os fiéis ou apóstolos de outras causas não-alinhadas que acaso se reúnam aos milhares num qualquer terreiro ou santuário terão de se contentar com a presença de Deus.
A retórica dominante, como a de todo o pensamento de raiz utópica, é agradável, sobretudo perante públicos de conceitos médios e banalizados, cada vez com menos ciência e paciência para um “pelo contrário”, um “não é bem assim” ou um “no entanto” que seja. Até pela sua laicização deturpada da mensagem cristã, o optimismo antropológico da esquerda e a promessa de igualdade, de libertação da História e de todas as tradições, barreiras e tabus, na sua vacuidade demagógica e redutora, são infinitamente mais “simpáticos e generosos” do que quaisquer propostas realistas. Além disso, enquanto a direita e as direitas têm sempre um cunho local e uma especificidade nacional (logo, “egoísta”), a esquerda, declaradamente internacionalista (logo, “generosa”), internacionalizou efectivamente as suas causas – do catastrofismo climático ao anti-racismo à americana, das políticas de género à higienização histórica.
Resistir a este projecto e encontrar-lhe uma alternativa deve ser, essencialmente, a missão das direitas ou do que quer que seja que valha a pena pensar e construir para parar o experimentalismo suicida e a regressão civilizacional sob a capa de progresso que ameaçam a Europa e as Américas.
Desde a crise de 2008-2010, e mais claramente desde 2016, que há uma mudança profunda na política e na geopolítica do mundo euroamericano. Uma mudança que, este ano, nas eleições para o Parlamento Europeu, confirmou uma forte representação de partidos e forças políticas nacionalistas e identitárias, diferentes entre si, mas a que os seus adversários e os media chamam indiscriminadamente populistas, de extrema-direita ou de direita radical. Graças à sua presença na União Europeia e à de representantes de países que, a leste, sofreram o “paraíso socialista na terra” – e também aos conservadores, aos democratas cristãos e aos liberais europeus –, o Parlamento de Bruxelas votou a equiparação do comunismo ao nazismo, para grande indignação da esquerda radical. Já é um princípio.
A entrada no Parlamento e na competição político-partidária, ao fim de 45 anos, de partidos ainda neófitos mas que já representam alguma alternativa às oposições centristas despolitizadas – ou seja, a um PSD, e até a um CDS, quase ideologicamente indiferenciáveis do PS – pode vir a mudar as coisas.
Nestes trinta anos, o capitalismo liberal vitorioso estendeu-se a toda a terra, sem quaisquer limites, nacionais ou racionais, tornando-se, assim, próximo do “capitalismo selvagem”, descoberto e criticado por Karl Marx, um modelo que só se salvou graças às regras impostas pelo poder político – de Bismarck a Ted Roosevelt, dos fascistas aos sociais-democratas, dos solidaristas cristãos aos sindicalistas do Front Populaire. Desindustrialização na Europa e nos Estados Unidos, discrepâncias salariais faraónicas, destruição de tradições, culturas e indústrias, do Nordeste americano ao Nordeste francês, migrações, por vezes economicamente necessárias mas política e culturalmente explosivas, tem sido o quadro desde os anos 90 do século passado. E como as forças políticas do “grande centro” – centro-direita conservador e democrata-cristão, centro-esquerda social-democrata e socialista – se têm mostrado incapazes de responder a estes desafios e a natureza política tem horror ao vazio, surgiram novas forças, novos partidos e novos líderes.
Portugal, que não tem claramente muitos destes problemas mas que tem outros, ficou fora desta tendência. Não tem uma imigração significativa de origens culturalmente estranhas, embora isso possa estar a mudar; é um Estado-nacional antigo e sem dissidências religiosas ou raciais; e não tem separatismos ou secessionismos nacionalitários, como os nossos vizinhos do Reino de Espanha, com a Catalunha e o País Vasco.
Nas últimas eleições, sem grandes alternativas conhecidas (o Chega e a Iniciativa Liberal eram novos e desconhecidos), muitos eleitores conservadores ficaram em casa, entendendo que, para centro e centro-esquerda, o Partido Socialista estava muito bem, de preferência sem Geringonça. Mas a entrada no Parlamento e na competição político-partidária, ao fim de 45 anos, de partidos ainda neófitos mas que já representam alguma alternativa às oposições centristas despolitizadas – ou seja, a um PSD, e até a um CDS, quase ideologicamente indiferenciáveis do PS – pode vir a mudar as coisas. E PSD e CDS, ou se reformulam e estabelecem pontes para reconstruir e consolidar uma direita plural mas que possa funcionar ocasional e estrategicamente em bloco, ou podem estar a caminhar rapidamente e em força para a irrelevância.
Jaime Nogueira Pinto

Fonte: Obrevador

DEUS - PÁTRIA - REI

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A 11 de Novembro de 1861 Morria D. Pedro V

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Nunca um Príncipe herdeiro fora tão preparado para reinar. Instruído numa noção voluntarista de governação e em prol do bem da coisa comum enquanto pupilo de Alexandre Herculano, assim como na aquisição de competências técnicas, políticas e culturais ministradas por Seu Pai, o Rei-Artista que promovia o culto da Arte, e pelos mestres por Ele contratados. O Príncipe Real e Duque de Bragança Dom Pedro dominava desde cedo, fluentemente, o francês, alemão, grego, latim e inglês.

Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança era ainda muito jovem quando, em consequência do falecimento aos 36 anos de Sua mãe a Rainha Dona Maria II – durante o parto do Seu 11.º filho -, ascendeu ao trono de Portugal com apenas 16 anos, embora o Seu Pai D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha-Koháry (tornou-se Rei de Portugal jure uxoris, após o nascimento do Príncipe herdeiro) tenha permanecido como Regente até à maioridade do novo Rei. Senhor de um enorme magnetismo pessoal, desde cedo, apesar do Seu pragmatismo, causou um fascínio pouco comum entre o Seu Povo que cedo Lhe dedicou enormíssima afeição.

Não se pense que o encantamento que o nosso Rei provocava era apenas interno, pois as Suas viagens oficiais ao estrangeiro eram sempre acompanhadas pelos locais e pelas mais prestigiadas publicações da Nação visitada.

Era Dom Pedro V ainda um Rei em vias de ser, em 1854, quando iniciou uma viagem, pelas Cortes europeias, para aprender a prática de reinar e dar-se a conhecer aos reais primos. Juntamente, com seu irmão e herdeiro presuntivo, o Infante Dom Luís de Bragança, puderam privar, com a mais importante das cabeças coroadas da época, Sua Majestade Britânica a Rainha Vitória, aquela que de tão grande deu nome a uma Era.

A Família Real Britânica recebeu-Os como membros da Sua própria família e entre a Rainha Vitória, o Príncipe consorte Albert de Saxe-Coburgo-Gotha (primo do Regente de Portugal Rei-consorte Dom Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha) e Dom Pedro V estabeleceu-se uma enorme amizade que perdurará até a trágica e imprevisível morte do monarca português. Numa visita que duraria exactamente um mês e que começou no dia 3 de Junho de 1854, o monarca português nunca foi tratados com visita de Estado, mas apesar das cortesias protocolares em público, mas com manifestações de amizade e familiaridade em privado.

Dom Pedro V e Dom Luís acompanharam sempre a Monarca inglesa e o seu Príncipe-consorte nos mais importantes eventos a que sempre concediam o privilégio da Sua Presença. Assim foi no Baile dos Marqueses de Breadalbane – a quem a Rainha dedicava amizade -, onde perante mil convivas a realeza portuguesa mereceu lugar de destaque como se pode constatar pela entrada dos convidados de honra. Depois de anunciar a entrada da Rainha Vitória pelo braço do anfitrião, o Mordomo anunciou: ‘Sua Majestade o Rei de Portugal e Sua Excelência a Marquesa de Breadalbane’. Depois ‘Suas Altezas Reais o Príncipe Albert e a Duquesa de Cambridge’ e, de seguida, ‘Suas Altezas Reais o Príncipe Dom Luís de Portugal e a Princesa Mary’.
Também, em 10 de Junho de 1854, Dom Pedro V e Dom Luís acompanharam, à direita no lugar de honra, a Rainha Britânica na sumptuosa reabertura do Palácio de Cristal, reinstalado em Sydenham Hill.
Foram pois, o Rei e Príncipe portugueses recebidos na intimidade da Família Real Britânica e essa amizade haveria de perdurar, mesmo para além da estadia nas Terras de Sua Majestade, pois continuariam a corresponder-se com assiduidade tornando-se a Rainha Vitória e o Príncipe Albert, conselheiros e mesmo confidentes do jovem monarca português.

Regressado, Dom Pedro V foi Aclamado Rei aos 18 anos, em Sessão das Cortes de 16 de Setembro de 1855, perante os Pares do Reino e os Deputados da Nação: Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Ainda, em 1855, procede à inauguração do primeiro telégrafo eléctrico no país e, a 28 de Outubro, do ano seguinte, inaugura o caminho-de-ferro entre Lisboa e o Carregado. Pouco depois estabelecem-se as primeiras viagens regulares de navio, entre Portugal e Angola. Senhor de enormes preocupações com aculturação, o jovem Soberano criou, em 1859, a próprias expensas, com um donativo de 91 contos de réis, o Cuso Superior de Letras, onde era presença constante não lições do seu amigo, o lente Rebello da Silva.

Rapidamente conseguiu reconciliar o povo português com a Família Real, depois da cisão que a guerra civil provocara, graças a ter preocupações sociais bem presentes no Seu reinado, pugnando pela abolição da escravatura – tornou livres os filhos nascidos das ainda escravas -, por percorrer os hospitais onde se demorava à cabeceira dos doentes durante as epidemias de cólera (1853/56) e de febre-amarela (1856/57), o que lhe granjeou enorme popularidade, pelas grandes obras públicas efectuadas e por ser um Monarca infatigável e meticuloso soberano que se dedicava afincadamente no governo do País, estudando com minúcia as deliberações governamentais propostas e os impacto delas, tendo mandado pôr à porta do Palácio da Ajuda a famosa caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-Lhe com franqueza, depositando lá as suas expectativas e queixas!

Em 1858, D. Pedro V, casa-se com a sua alma gémea, a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, o ramo católico da família real de Hohenzollern. O feliz casamento é abruptamente ceifado no ano seguinte pela morte da Rainha Dona Estefânia, vítima de difteria. Sendo a saúde pública um dos interesses do casal real, Dom Pedro V, correspondendo à vontade da mulher, fundou o hospital público D. Estefânia, como o e instituições de caridade.

Além do progresso material e da política prática, do Fontismo com a mala-posta, os caminhos-de-ferro, a modernização agrícola, etc., Dom Pedro dá um carácter humano à função real, com a reforma da educação, e claro pela Sua filantropia, com acções nos hospitais, prisões, e asilos.
Mas, a nível político nem tudo foi do agrado do Monarca, pois do novo situacionismo de 1856 a 1860 diria D. Pedro V era uma Canalhocracia estabelecida entre Saldanha, Fontes e Rodrigo. Saldanha tenta reunir antigos conservadores, como Atouguia, cartistas dissidentes de Cabral e setembristas moderados, como o Duque de Loulé, começando por organizar um centro eleitoral, preparado por Reis e Vasconcelos, Rebelo da Silva, entre outros. A partir de 7 de Julho, a dinâmica do novo situacionismo passa a ser marcada pela acção governamental de Rodrigo da Fonseca e Fontes Pereira de Melo. Lavradio vai para embaixador em Londres e Loulé abandona o governo, mantendo-se Atouguia. Ainda em Julho derrotando as perspectivas de conciliação com o setembrismo e com os cartistas à maneira de Alexandre Herculano que se remete para o exílio interno de Vale de Lobos, vencia a Regeneração, o Fontismo!

Os seus pensamentos, que redigia freneticamente, são intemporais:
‘Devemos também lembrar-nos que existe para eles [Reis] uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.’

Assim Disse El-Rei:

'Um dos caracteres essenciais das manobras políticas da nossa época é, sem dúvida, que todos se odeiam, e que ninguém quer sinceramente o mal do outro; além disso, noto que se enforcam os pequenos ladrões, mas que se louvam os grandes [ladrões].'

‘Os olhos já vão rompendo a nuvem de poeira que se tem levantado diante deles; e o Povo algum dia declarar-se-á solenemente contra o escárnio que há 20 anos todos os governos em Portugal dele têm feito. E fatal e tremendo será esse desagravo. Ainda é tempo de remediá-lo, mas não há tempo a perder.’

Mas a tragédia atinge Portugal e o Rei Bem-Amado morre, inesperadamente!
Quando Dom Pedro V falece precocemente a 11 de Novembro de 1861, com apenas 24 anos, vitimado pela febre tifóide que contraíra em Portalegre, depois de consolar alguns doentes.
A Rainha Vitória do Reino Unido escreveu:
‘Que infortúnio horrível! (…) Com a mão da morte teima em perseguir aquela querida Família! (…) Parece inacreditável, que terrível calamidade para Portugal, e que grande perda para a Europa! O querido Pedro era tão bom, tão inteligente, tão fantástico!’
O Povo sofreu, inconsolável, pela perda do Seu Soberano Dom Pedro V de Portugal, O Esperançoso que dera Esperança e alento, novamente, para se Cumprir Portugal!

‘Foi a única vez que vi Herculano chorar’, alguém disse.

- Chorai Nobres! Chorai Povo! Morreu o Vosso Rei! Morreu o Rei! Viv’ó Rei!, o Arauto, um gentil-homem usando as antigas vestes, soltou este brado à porta da câmara mortuária.

Os sinos soluçaram, todos se vestiram de dor e na Câmara Municipal, enlutados, confluíam os fidalgos, os vereadores, os procuradores do Povo! O alferes mor do Reino, montava o seu Bucéfalo e de estoque real desfraldado e, seguido por todos, serpenteou as ruas da Capital do Reino bradando a plenos pulmões: ’Real! Real! Real! Pelo Muito Alto e Muito Poderoso e Fidelíssimo Rei de Portugal, Dom Pedro V. Desembocaram no Castelo de S. Jorge onde o alferes mor subiu à Torre de Menagem e colocou o Pavilhão Real a meia-haste.

Miguel Villas-Boas