domingo, 31 de dezembro de 2017

FELIZ ANO NOVO!

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FOI DAQUI, O ÚLTIMO BASTIÃO TEMPLÁRIO, QUE PORTUGAL CONSTRUIU O SEU IMPÉRIO

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O Convento de Cristo, em Tomar, foi a sede dos cavaleiros templários na Península Ibérica até à extinção da ordem pela Santa Sé. Em Portugal, contudo, é sabido que a Ordem jamais foi realmente extinta, pois o Rei Dom Dinis nacionalizou-a como Ordem de Cristo. Já portugueses, os cavaleiros de Cristo desempenhariam séculos depois papel fundamental na expansão portuguesa e nas Descobertas. Vale bem a pena este curto documentário da emissora pública portuguesa Rádio e Televisão de Portugal (RTP).



sábado, 30 de dezembro de 2017

Portugalidade tailandesa

Foto de Nova Portugalidade.


Ontem fez um calor de ananases, 36 graus à sombra, uma brisa de fornalha, as pedras ardendo. Passei pelo colégio católico propor a um padre amigo uma conferência sobre Portugal que aqui em Banguecoque terá lugar em finais de Março. Época de provas e exames. Um silêncio de sepulcro, aqui e ali cortado pela repetição de mnemónicas que alunos agrupados em torno de mesas no recreio repetiam à exaustão. Os asiáticos são estudantes sofridos. Aguentam oito, nove, dez horas lendo, relendo, recitando. A um canto, aos pés da Nossa Senhora, dois rapazes de joelhos e suados, rezavam. Ali estiveram quase um quarto de hora desfiando o rosário. São os católicos tailandeses, fruto da nossa presença. Haverá em Portugal algum miúdo que se ajoelhe durante um quarto de hora sob um sol inclemente pedindo a protecção da Virgem para os exames que se aproximam ? Estas coisas deixam-me a um tempo perturbado e cheio de alegria. Afinal, no mundo, ainda há espaço para a espiritualidade e para o valor teraupêutico da oração.

MCB

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

ACTA DAS CORTES DE LAMEGO

Foto de A.M.T.

Em nome da sancta, e individua Trindade Padre, Filho, e Spirito santo, que hé indivisa, e inseparavel. Eu Dom Afonso filho do Conde D. Henrique, e da Rainha Dona Tareja neto do grande D. Afonso Emperador das Espanhas, que pouco há que pella divina piedade fui sublimado à dinidade Rey. Ia q Deos nos concedeo algûa quietação, e com seu favor alcançamos vitoria dos Mourosnossos inimigos, e por esta causa estamos mais desalivados, porque não soceda despois faltarnos o tempo côvocamos a cortes todos os que se seguem. O Arcebispo de Braga, o Bispo de Viseu, o Bispo do Porto, o Bispo de Coimbra, o Bispo de Lamego, e as pessoas de nossa Corte que se nomearaô abaxo, e os procuradores de boa gente cada hum por suas Cidades, convem a saber por Coimbra, Guimarães, Lamego, Viseu, Barcellos, Porto, Trancoso, Chaves, Castello Real, Bouzalla, Paredes velhas, Cea, Covilham, Monte maior, Esgueira, Villa de Rey, e por parte do Senhor Rey Lourenço Viegas avendo tambem grande multidão de Môges, e de clerigos. Ajûtamonos em Lamego na Igreja de Santa Maria de Almacave. E assentouse el Rey no trono Real sem as insignias Reaes, e levantandose Lourenço Viegas procurador del Rey disse.

Fez vos ajuntar aqui el Rey D. Afonso, o qual levantastes no Câpo de Ourique, para que vejais as letras do santo Padre, e digais se quereis que seja elle Rey. Disserão todos: Nos queremos que seja elle Rey. E disse o procurador: Se assi hé vossa vontade, dailhe a insignia Real. E disserão todos: Demos em nome de Deos. E levantou se o Arcebispo de Braga, e tomou das mãos do Abbade de Lorvão hûa grande coroa de ouro chea de pedras preciosas que fora dos Reys Godos, e a tinhão dada ao Mosteiro, e esta puserão na cabeça del Rey, e o senhor Rey com a espada nua em sua mão, com a qual entrou na batalha disse: Bendito seja Deos que me ajudou, com esta espada vos livrei, e venci nossos inimigos, e vos me fizestes Rey, e companheiro vosso, E pois me fizestes, façamos leys pellas quais se governe em paz nossa terra. Disserão todos: queremos senhor Rey, e somos contentes de fazer leis, quais vos mais quiserdes, porque nos todos com nossos filhos e filhas, netos e netas estamos a vosso mandado. Chamou logo o senhor Rey os Bispos, os nobres, e os procuradores, e disserão entre si, Façamos primeiramente LEIS DA HERANÇA E SUCCESSÃO DO REYNO, e fizerão estas que se seguem.

Viva o senhor Rey Dô Afonso, e possua o Reyno Se tiver filhos varões vivão e tenhão o Reino, de modo que não seja necessario torna los a fazer Reys de novo. Deste modo socederão. Por morte do pay herdarâ o filho, despois o neto, então o filho do neto, e finalmente os filhos dos filhos, em todos os seculos para sempre. Se o primeiro filho del Rey morrer em vida de seu pay, o segundo será Rey, e este se falecer o terceiro, e se o terceiro o quarto, e os mais que se seguirem por este modo. Se el Rey falecer sem filhos, em caso que tenha irmão, possuirá o Reyno em sua vida, mas quando morrer não será Rey seu filho, sê primeiro o fazerem os Bispos, os procuradores, e os nobres da Corte del Rey, Se o fizerem Rey sera Rey, e se o não elegerem não reinará. Disse despois Lourenço Viegas Procurador del rey aos outros procuradores.

Diz el rey, se quereis que entrem as filhas na herança do reyno, e se quereis fazer leis no que lhes tocar. E despois que altercarão por muitas horas, vierão a concluir, e disserão. Tambem as filhas do senhor Rey são de sua descendência, e assi queremos que sucedão no reyno, e que sobre isto se fação leis, e os Bispos e nobres fizerão as leis nesta forma. Se el Rey de Portugal não tiver filho varão, e tiver filha, ella sera a rainha tanto que el Rey morrer; porem será deste modo, não casará senão com Portugues nobre, e este tal se não chamará Rey, senão despois que tiver da rainha filho varão. E quando for nas Cortes, ou autos publicos, o marido da Rainha irâ da parte esquerda, e não porá em sua cabeça a Coroa do Reyno. Dure esta ley para sempre, que a primeira filha del Rey nunca case senão com portugues, para que o Reyno não venha a estranhos, e se casar com Principe estrangeiro, não herde pello mesmo caso; PORQUE NUNCA QUEREMOS QUE NOSSO REYNO SAYA FORA DAS MÃOS DOS PORTUGUESES, que com seu valor nos fizerão Rey sem ajuda alhea, mostrando nisso sua fortaleza, e derramando seu sangue. Estas são as leis da herança de nosso Reyno, e leo as Alberto Cancellario do senhor Rey a todos, e disserão, boas são, justas são, queremos q valhão por nos, e por nossos decendentes, que despois vierem. E disse o procurador do senhor Rey. Diz o senhor Rey, Quereis fazer LEIS DA NOBREZA, E DA JUSTIÇA ? E responderão todos, Assi o queremos, fação se em nome de Deos, e fizerão estas. Todos os decendentes de sangue Real, e de seus filhos e netos sejão nobilissimos. Os que não são descendentes de Mouros, ou dos infieis Iudeus, sendo Portugueses que livrarem a pessoa del rey, ou seu pendão, ou algû filho, ou genro na guerra, sejão nobres. Se acontecer que algum cativo dos que tomarmos dos infieis, morrer por não querer tornar a sua infidelidade, e perseverar na lei de Christo, seus filhos sejão nobres. O que na guerra matar o Rey contrario, ou seu filho, e ganhar o seu pendão, seja nobre. Todos aquelles que são de nossa Corte, e tem nobreza antiga, permaneção sempre nella. Todos aquelles que se achrão na grande batalha do Campo de Ourique, sejão como nobres, e chamê se meus vassalos assi elles como seus decendemtes. Os nobres se fugirem da batalha, se ferirem algûa molher com espada, ou lança, se não libertarê a el Rey. Ou a seu filho, ou a seu pendão com todas suas forças na batalha, se derem testemunho falso, se não falarê verdade aos Reyz, se falarem mal da Rainha, ou de suas filhas, se se forê para os Mouros, se furtarem as cousas alheas, se blasfemarem de nosso Senhor Iesu Christo, se quiserem matar el rey, não sejão nobres, nem elles, nem seus filhos para sempre. Estas são as leis da nobreza, e leo as o Cancellario del Rey, Alberto a todos. E respôderão, Boas são, justas são, queremos que valhão por nos, e por nossos decêdentes que vierem despois de nos. Todos os do reyno de Portugal obedeçam a el rey, e aos Alcaides dos lugares que ahi estiverem em nome del rey, e estes se regerão por estas LEIS DE JUSTIÇA.

O homem se for comprehendido em furto, pella primeira, e segunda vez o porão meio despido em lugar publico, aonde seja visto de todos, se tornar a furtar, ponhão na testa do tal ladrão hum sinal com ferro quente, e se nem assi se emendar, e tornar a ser côprehendido em furto, morra pelo caso, porem não o matarão sem mandado del Rey. A molher se cometer adulterio a seu marido com outro homem, e seu proprio marido denunciar della à justiça, sendo as testemunhas de credito, seja queimada despois de o fazerê saber a el Rey, e queime se juntamente o varão adultero com ella. Porem se o marido não quiser que a queimem, não se queime o côplice, mas fique livre; porque não hé justiça que ella viva, e que o matem a elle. Se alguem matar homem seja quem quer que for, morra pelo caso. Se alguem forçar virgem nobre, morra, e toda sua fazenda fique à donzela injuriada. Se ella não for nobre, casem ambos, quer o homem seja nobre, quer não. Quando alguem por força tomar a fazenda alhea, va dar o dono querella selle à justiça, que fará com que lhe seja restituida sua fazenda.

O homem que tirar sangue a outrem com ferro amolado, ou sem elle, que der com pedra, ou algum pao, o Alcaide lhe fará restituir o dano, e o fará pagar dez maravedis. O que fizer injuria ao Agoazil, Alcaide, Portador del Rey, ou a Porteiro, se o ferir, ou lhe façã o sinal com ferro quente, quando não pague 50 maravediz, e restitua o damno. Estas são as leis de justiça, e nobreza, e leos o Cancellario del rey, Alberto a todos,e disserão, boas são, justas são, queremos que valhão por nos, e por todos nossos decendentes q despois vierem. E disse o procurador del Rey Lourenço Viegas, Quereis que el rey nosso senhor va âs Cortes del rey de Leão, ou lhe dê tributo, ou a algûa outra pessoa tirando ao senhor Papa que o côfirmou no Reyno? E todos se levantarão, E tendo as espadas nuas postas em pé disserão: Nos somos livres, nosso Rey he livre, nossas mãos nos libertarão, e o senhor que tal consentir, morra, e se for Rey, não reine, mas perca o senhorio. E o senhor Rey se levantou outra vez com a Coroa na cabeça e espada nua na mão falou a todos: Vos sabeis muito bem quantas batalhas tenho feitas por vossa liberdade, sois disto boas testemunhas, e o hé tambê meu braço, e espada; se alguem tal cousa consentir, morra pello mesmo caso, e se for filho meu, ou neto, não reine; e disserão todos: boa palavra, morra. El Rey se for tal que consinta em dominio alheo, não reine;

e el rey outra vez:

assi se faça.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Colchas de Castelo Branco

Visita Guiada (VII) - Episódio 6 - RTP Play - RTP

Visita Guiada (V) - Episódio 12 - RTP Play - RTP

Visita Guiada (V) - Episódio 12 - RTP Play - RTP

MAFRA, MARAVILHA DA PORTUGALIDADE, VISTA DO CÉU


Maravilha da Portugalidade, Mafra foi o manifesto em pedra de um grande império mundial. Exigiu os esforços de 52 000 trabalhadores portugueses, vitimou milhares, fez um dos maiores edifícios do mundo, uma das mais belas bibliotecas da Europa e os maiores carrilhões do globo. Visto do céu, o conjunto parece esmagar a própria vila: a fachada tem 220 metros de largura, o complexo ocupa quase quarenta mil metros quadrados, tem 1200 salas, 4700 portas e janelas, 156 escadarias e 42 000 livros na famosa biblioteca. Ora, do que não será capaz o povo que ergueu esta extraordinária obra?



A célebre carta de António da Silveira, capitão de Diu, aos turcos que o sitiavam

Foto de Nova Portugalidade.


"Muyto honrado capitão bayxá. Bem vy as palavras de tua carta e do capitão do baluarte, que tens cativo per trayção e mentira de tua palavra, affirmada com tua chapa; o que fizeste porque nom hes homem pois não tens c... que és como molher mentirosa, e de pouco saber. Como me cometes que faça contigo concerto, pois diante de meus olhos fizeste traição e falsidade? Polo que nom tenho em nenhuma conta, porque de judeu he seres trédor. Eu quando vy tu'armada, e atégora, temi que me podias fazer algum dano; mas agora já estou seguro, porque de homem judeu he fazeres traição, e assy o fizeram os que tomaram Rodes e Belgrado, porque per batalha houveram medo; e se em Rodes estiveram os cavalleiros que estão aqui n'este curral, desengana-te que ele nom fora tomado. E sabe por certo que aqui estão portuguese acostumados a matar muytos mouros e que têm por capitão António da Silveira, que tem um par de c... mais fortes que os pelouros dos seus basaliscos, que nom ha medo nenhum a que nom tem c... nem verdade e de judeu faz traição; o curral diante de ti está, com tal gado que já lhe tens medo e cometes concerto para fazer trayção; o qual concerto, indaque o eu quisesse fazer, aquy estão taes cavalleiros que me deitarião ao mar e eles lho defenderiam." 

In Gaspar Correia (1558-1563) Lendas da Índia, edição de 1864, Academia Real das Sciencias de Lisboa, livro IV, p.35

O regresso que urge

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 Existe na generalidade dos povos, um recôndito desejo reverencial pela espectacularidade do poder e em Portugal, a rainha D. Maria Pia foi quem talvez melhor compreendeu a essência das funções que lhe estavam destinadas como consorte do soberano.

Sendo Portugal um país de escassos recursos materiais que proporcionassem a existência de um meio cortesão que pudesse equiparar-se ao das dinastias reinantes nos grandes países europeus, beneficiava contudo de um estatuto garantido pela íntima relação familiar  que colocava os Bragança no restrito grupo formado pelos Bourbons, Habsburgo e Sabóia. Profundamente interligadas por séculos de alianças matrimoniais, as casas reinantes
da Europa podiam mesmo ser consideradas como entidades onde o nome de cada uma as identificava num contexto geográfico e político, embora os laços de parentesco fossem iinvariavelmente de uma proximidade tal, que as tornavam numa única e grande família supranacional. 

O estatuto da dinastia portuguesa não advinha apenas da antiguidade da Casa de Bragança, mas também do próprio percurso histórico trilhado por um país já antigo, detentor de um desconcertante passado de glórias ainda ao tempo  testemunhadas pela posse - mesmo que teórica - de um importante património imperial no além-mar.

Se as atitudes ou a forma de reagir a contingências derivadas da sempre imprevisível situação política em galopante evolução no mundo de oitocentos, podia ser ditada pelo chamado "espírito do século", era contudo impossível impedir a manifestação do carácter das principais personalidades que eram o símbolo visível de um poder também ele em mutação.  

A rainha Maria Pia gostava daquela especial forma de exercício do poder que sempre foi, ainda é e para sempre será reconhecido, através de uma convenção tacitamente por todos aceite e que impõe a cerimónia da distância inatingível, mas que simultaneamente se aproxima das massas curiosas e sensíveis à identificação com símbolos que a todos irmana nessa cumplicidade que identifica as nações.

Esta rainha foi como uma bandeira, um hino ou uma prolixa declaração de grandes princípios e durante décadas, confundiu-se com o próprio Estado interiorizado então de uma forma por nós hoje dificilmente compreensível: era a Coroa, algo que nos nossos dias apenas poderá ser  identificável numa muito legalista e cerimoniosa Inglaterra.

Era teatral, gostava do fausto pelo que este significava de prestígio oferecido a alguém que encarnava a grandeza de uma nação. A rainha compreendeu que as massas não se impressionavam com a banalidade dos homens públicos que por entre os negócios do Estado cerziam as suspeitas cumplicidades propiciadoras de súbitos enriquecimentos que faziam erguer palacetes, angariavam numerosa criadagem e ofereciam uma bastante discutível imagem daquilo que era o gosto da época. Maria Pia de Sabóia  encarava a realeza como um palco onde os actos  se sucediam ininterruptamente, sendo todos eles merecedores de uma particular relevância imposta por um público atento e implacável crítico.

Gastava e podia ser generosa à medida do orçamento imposto pela escassez da dotação real que não era actualizada há quase meio século, recorrendo-se quando possível, aos rendimentos particulares da Casa de Bragança. Foi assim que os portugueses conheceram Maria Pia, ombreando com orgulhosas beldades coroadas do seu tempo e muitas vezes ofuscando-as com o seu porte soberano e o bom gosto que todos lhe reconheciam. Estivesse nas Tulherias ao lado de uma Eugénia de Montijo, ou na Hofburg com a prima Isabel, imperatriz da Áustria, a rainha portuguesa sabia sobressair num meio infinitamente mais opulento àquele que Lisboa conhecia.  Mesmo nos actos reservados às senhoras que num certo meio social eram obrigações naturais, a rainha fazia-se notar, estudando os locais onde se realizariam as cerimónias das quais seria o alvo de todos os olhares. Um ponto de luz, a cor ideal para o vestido com que se apresentaria, o séquito, tudo era meticulosamente preparado com a única finalidade do pleno cumprimento da obrigação imposta pelas suas funções. Filha de um agnóstico e suspeita de anticlericalismo, Maria Pia alardeava uma devoção que provavelmente se limitava aos aspectos exteriores do culto, à cerimónia imposta por mais um serviço protocolar, este sagrado e numa época em que a própria família italiana se encontrava em aberto conflito com um Vaticano que perdera o poder temporal. Ao contrário da sua nora - a futura rainha D. Amélia -, não se prendia a pensamentos profundos e a aspectos literários ou filosóficos que justificavam uma Fé em pleno século de todas as contestações e dúvidas. Se Amélia de Orleães era de uma religiosidade que hoje poderemos considerar eivada de um certo regalismo que advinha do percurso atravessado pela França natal ao longo de dois séculos, Maria Pia interessava-se pela posição que lhe competia impor no seu papel soberano, como a primeira entre as devotas e sem mais intermediários entre um distante deus e ela própria. Era a rainha e fazendo com que todos o notassem, isso bastava-lhe.

Numa Europa que iniciava o caminho da assistência social propiciada por um Estado até então afastado de preocupações tradicionalmente atribuídas à Igreja e concomitantes obras beneméritas, a função da caridade - assim se chamava a solidariedade no tempo dos nossos bisavós - era  o suprir ou aliviar das grandes desigualdades presentes numa sociedade geralmente indiferente à sorte do outro. O crescimento das cidades e o enorme afluxo de populações que abandonavam os campos, criou uma nova realidade que impôs a evolução desta caridade para algo mais permanente e que implicava a organização de estruturas e um programa de acção. Maria Pia pode ser situada num período de transição na época liberal e que entre nós conheceria na sua nora, a primeira grande impulsionadora daquilo que seria a assistência social no século XX.

"A rainha evitou a política e quando interveio, foi no estrito limite ditado pelas suas obrigações constantes no articulado constitucional - a regência -, ou, na sua conhecida reacção ao golpe de Saldanha que antes de tudo, significava aquilo que a soberana considerava ser o enxovalho da dignidade real, logo da Carta e do próprio Estado. O rebaixamento da dignidade da sua condição de rainha - e em tudo o que o conceito significa -, isso jamais admitiu".

Foi sem qualquer tipo de contestação, o elemento mais popular da família real portuguesa nas últimas décadas de vigência do sistema monárquico-constitucional. Era uma imagem perante a qual todos reverenciavam uma certa ideia  feita acerca de um esplendor que há muito se perdera, mas que nela era natural e perene.

Morreu longe de Portugal e ainda hoje se encontra injustamente exilada de uma terra, onde nem a brutalidade e maledicência republicana ousou afrontá-la. O país do qual sempre se considerou parte e os descendentes daquela gente que tanto lhe quis, merecem bem essa reparação que antes de tudo é moral.

Tenham as autoridades o sentido de Estado que tantas vezes lhes falta, repatriando a rainha Maria Pia para junto dos seus. 

 Nuno Castelo-Branco



terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Andrea Bocelli - Adeste Fideles


Adeste Fideles, mundialmente conhecido pelo título de Hino Português escrito e composto por El-Rei D. João IV de Portugal, a exemplo de muitas outras obras, na escola de música que fundou no Paço Ducal dos Bragança, em Vila Viçosa. Foram encontrados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no Palácio Ducal de Vila Viçosa, que era propriedade dos Duques de Bragança. Os ingleses atribuíram, erroneamente, a autoria desse hino a John F. Wade que não pode ter composto a partitura, uma vez que o seu manuscrito está datado ulteriormente, de 1760, pelo que Wade se limitou a traduzir o Hino Português, como de resto era designado à época, e usurpado os louros.

Fernão Álvares do Oriente, o goês que se bateu em Alcácer Quibir

Foto de Nova Portugalidade.

Fernão Álvares (c.1540-c.1600) , autor de Lusitânia Transformada [em Arcádia], foi soldado e mercador num tempo em que os portugueses estavam acostumados a dar ordens e não recebê-las, a mandar e não obedecer. Nascido em Goa de pais indo-portugueses, serviu a Coroa como soldado e por ela batalhou no Guzerate e no Mar da China antes de chegar ao Reino, quase quarentão e entretanto já elevado a nobre cavaleiro por D. João III.


Introduzido na corte, partiu com D. Sebastião para a Jornada de África, batendo-se em Alcácer Quibir. Capturado, foi resgatado e passou a Itália, onde parece ter recebido forte influência estilística. Acompanhou de perto a tomada de Portugal por Filipe I e parece não ter aderido de ânimo leve à junção das coroas Portuguesa e Espanhola. De regresso ao Oriente, deu mostras de grande patriotismo português e ganhou fama de contestatário à ordem filipina.

De patriotismo exaltante, a sua prosa poética lembra Camões - que terá conhecido na corte - e ainda desprende grande força e é perfeitamente legível. Representa bem a aliança da lira e da espada, assim como a mística do Império. Um autor que merece releitura e uma biografia.

MCB





segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente

Castelo Branco - O ALBICASTRENSE: JARDIM DO PAÇO - "PORMENORES"

Castelo Branco - O ALBICASTRENSE: JARDIM DO PAÇO - "PORMENORES": A NOSSA MAIOR PÉROLA Para último poste de 2017, só podia postar neste blogue,   uma publicação com   imagens de pormenores da maior ...

NASONI, O ITALIANO QUE ERGUEU O NORTE BARROCO

Real Associação da Beira Litoral: NASONI, O ITALIANO QUE ERGUEU O NORTE BARROCO: Palácio do Freixo, Porto Nascido na Toscana, em Itália, Nicolau Nasoni foi um dos mais destacados arquitectos barrocos de Portugal....

ÚLTIMA VISITA AO CORO ALTO DO MOSTEIRO DE SANTA-CLARA-A-NOVA, EM COIMBRA



Caros Amigos e Confrades,

Neste Natal, ofereça, como prenda, um vale para a última visita guiada ao Coro Alto do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova ou reserve, desde já, a sua entrada. 


Ajude a divulgar o evento, reencaminhando esta mensagem para os vossos contactos.

A visita será especialmente guiada pelo Presidente da Mesa Administrativa da Confraria da Rainha Santa e terá lugar no Sábado, dia 20 de Janeiro, às 10.30 horas.

Não perca e ofereça esta prenda aos seus familiares e amigos.
Lotação limitada.

À venda no Recordatório da Igreja da Rainha Santa Isabel.

Aproveite e passe pelo Recordatório para escolher algumas das suas prendas neste Natal. 

Recordamos que os irmãos e confrades têm 10% de desconto sobre todos os artigos.

Saudações fraternas,
António Rebelo

A ARTE DA PORTUGALIDADE: PORTUGAL

Foto de Nova Portugalidade.

Retrato de Lúcia, data incerta, do artista português Henrique Medina de Barros (1901/1988). Nascido na cidade do Porto, na antiga freguesia de Cedofeita, era filho de mãe portuguesa e pai espanhol. Levado pelas mãos da avó, com 10 anos de idade começou a frequentar a escola de Belas Artes, no Porto. Sete anos mais tarde, em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, apresentou o retrato da pintora Teodora Andresen, o que lhe valeu uma premiação.

Aos 19 anos seguiu para Paris, ingressando na Escola de Belas Artes. Permaneceria na capital francesa durante sete anos.Os convites que consecutivamente foi recebendo levaram-no depois a pintar em territórios como Inglaterra, Itália, Brasil, Argentina, Suécia, Dinamarca, Estados Unidos, País de Gales e Espanha. Nestes países e em Portugal, pintou figuras icónicas como Benito Mussolini, General Justo, Charlie Chaplin, Mary Pickford, Linda Darnel, Papa João Paulo II, António de Oliveira Salazar etc.


Fonte: Revivescência Tradicional.

Natal Real

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Em primeiro lugar, e mais importante, a celebração do Natal é a festa do Nascimento do Salvador, do Rei dos Reis, Jesus. Mas para além disso, há uma série de iconografia natalícia que apareceu fruto do querer da realeza fossem como próprios introdutores dos costumes ou como mecenas da sua realização.
Quanto à Árvore de Natal, apesar de originária das culturas e religiões pagãs que celebravam a fertilidade da natureza recorrendo a árvores enfeitadas, a árvore de Natal, da forma que chegou aos hodiernos tempos, desenvolveu-se nos costumes dos povos germânicos cristãos, a partir do século XVI. Porém, só com a intervenção da realeza, no século XIX, é que esta tradição de enfeitar o Pinheiro de Natal, assim como a utilização das demais decorações, se estendeu à restante Europa.
Preponderante na dispersão europeia do costume foi quando, em 1846, o Príncipe germânico Albert de Saxe-Coburgo-Gotha da Casa de Wettin, marido da Rainha Vitória do Reino Unido, instalou uma Árvore de Natal no Palácio de Windsor. A enfeitar o Pinheiro, foram pendurados nos ramos, nozes pintadas de dourado, bolas coloridas, frutas cristalizadas diversas e de múltiplas cores cobertas de açúcar, pacotes de doces, enfeites de correntes de papel colorido. Flores e laços de tecido, também coloriam a árvore. Por fim, como iluminação, penduraram pequenas velas em potes de vidro cuja luz reflectia no pó de vidro espalhado para dar mais luminosidade e efeitos e contrastes de luz à árvore.
Depois, bastou uma gravura da Família Real, junto do Pinheiro de Natal, publicada na revista Illustrated London News, para a tradição se estender por todo o domínio do Império Britânico e por toda a Europa cristã.
Corria, ainda, o mesmo século XIX, quando o Rei-consorte Dom Fernando II, marido da Rainha Dona Maria II, e primo do Príncipe Albert, pois nascera Prinz Ferdinand August von Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry, introduzir o mesmo costume no Reino de Portugal, país onde a tradição natalícia decorativa abrangia apenas o Presépio de que eram expoentes os de Machado de Castro, Barros Laborão e António Ferreira. Com o nascimento do Príncipe Real Dom Pedro e os infantes, Dom Fernando II – já Rei-consorte – começou a festejar o Natal segundo o costume germânico que experimentara durante a infância na gélida Alemanha. Para além da Árvore de Natal que enfeitava com bolas de vidro translúcidas de variadas cores e guloseimas, das coroas de advento, o próprio monarca se fantasiava de São Nicolau e distribuía prendas à família – conforme o confirmam gravuras a carvão ilustradas pelo Rei-artista. Depois, até o costume se difundir pela nobreza foi um passo, disseminar-se-ia, então, pela burguesia e, finalmente, pelo Povo, para durar até aos dias de hoje.

Quanto ao Presépio, em Portugal, os primeiros presépios de que há memória datam do século XVI, mas é no século XVIII, que se executam os melhores presépios, alguns dos quais verdadeiras obras de arte – e é disso que, verdadeiramente, se trata. O Presépio da Basílica da Estrela, no qual figuram cerca de 500 peças, foi uma encomenda da própria Rainha D. Maria I de Portugal – que mandou igualmente construir a Basílica e o Convento – a Machado de Castro. O nome Machado de Castro ou o da sua escola surgem ligados a diversos presépios que se acham dispersos de norte a sul do País, nomeadamente, o da Sé Patriarcal de Lisboa, fabricado em 1776.
Quanto ao Bolo-Rei, é legado dos romanos que, primeiro, persistiu somente em França onde tem duas formas de confecção: no Norte é em massa folhada e, no Sul, um brioche recreado com frutas caramelizadas, tal como o Bolo-Rei português que por isso deriva do segundo. Foi precisamente das suas viagens por França, que Baltazar Castanheiro II, filho do fundador da Confeitaria Nacional, trouxe a receita do Bolo-Rei, mais precisamente de Toulouse.
Mas claro, é mérito da Confeitaria Nacional e do seu entrepeneur de pastelaria pegar numa receita do bolo francês e convertê-la no icónico e típico doce português: o bolo redondo, em forma de coroa, com frutos secos e cristalizados e polvilhado com açúcar. O Bolo-Rei logo se tornou um sucesso, e a Confeitaria Nacional foi nomeada, por El-Rei D. Luís I, fornecedora oficial da Casa Real. Depois até se generalizar, dada a qualidade do produto, foi um ápice: o Bolo-Rei, assim chamado por causa da forma de Coroa, não mais abandonaria as mesas nacionais, sobretudo na época Natalícia.
Já na república velha, aquela instaurada por intermédio de um processo revolucionário, que durou entre 1910 e 1926, Afonso Costa e Bernardino Machado mudaram o nome do Bolo-Rei para Bolo-presidente, mas os portugueses não engoliram… nem a imposição, nem a nomenclatura nascida daquelas mentes intransigentes; e a designação Bolo-Rei prevaleceria ad eternum. Afonso Costa, teve que se contentar ao assomo ditatorial de tornar partido único o Partido Republicano Português e todas as demais formas de censura e coacção anti-democrática!
Se o bacalhau é o fiel amigo, o Bolo-Rei é o Real Amigo e sempre permanecerá. Não vale fazê-los de chocolate, recheados de chila e de maçã ou mesmo rebaptiza-los! Não adianta tentarem subterfúgios para mudar isso; inventem quantos pastelinhos quiserem e nomeiem-nos de ‘presidentes’ – como em Cebolais de Cima (história verídica) -, de ministros, de edis, de vereadores, mas o Real pastel perdurará sempre entronizado nos nossos corações e palato como Bolo-Rei!

Há, ainda, uma Canção de Natal, Adeste Fideles, mundialmente conhecido pelo título de Hino Português escrito e composto por El-Rei D. João IV de Portugal, a exemplo de muitas outras obras, na escola de música que fundou no Paço Ducal dos Bragança, em Vila Viçosa. Foram encontrados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no Palácio Ducal de Vila Viçosa, que era propriedade dos Duques de Bragança. Os ingleses atribuíram, erroneamente, a autoria desse hino a John F. Wade que não pode ter composto a partitura, uma vez que o seu manuscrito está datado ulteriormente, de 1760, pelo que Wade se limitou a traduzir o Hino Português, como de resto era designado à época, e usurpado os louros.
Miguel Villas-Boas

sábado, 23 de dezembro de 2017

SANTO E FELIZ NATAL!

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INSCRIÇÃO ORIGINAL DO TÚMULO D'EL REI DOM AFONSO HENRIQUES, O FUNDADOR

Foto de Nova Portugalidade.

Honremos a memória do Fundador de Portugal, D. Afonso Henriques, ao recordar a inscrição que estava no seu túmulo original, antes de este ter sido restaurado por D. Manuel I:

«Aqui jaz um outro Alexandre, ou outro Júlio César,
guerreiro invencível, honra brilhante do orbe.
Douto na arte de governar, alcançou tempos seguros,
alternando a sucessão da paz e das armas.
Quanto a religião de Cristo deve a este homem
provam-no os reinos conquistados para o culto da fé.
Alimentado pela doçura da mesma fé, cumulou,
além das honras do reino, riquezas para os pobres infelizes.
Que foi defensor da Cruz e protegido pela Cruz
assinala-o a Cruz, formada de escudos, no seu próprio escudo.
Ó Fama imortal, ainda que reserves para ti tempos longos,
ninguém pode proclamar palavras dignas dos seus méritos.»


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Especial Dia de Reis - Visita ao Palácio de S. Ben...

DEUS - PÁTRIA - REI: Especial Dia de Reis - Visita ao Palácio de S. Ben...: Para o próximo dia  06 de Janeiro , Dia de Reis, pelas  10:30 , a Real Associação de Lisboa estará de volta com os Roteiros Reais pr...

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Negros e portugueses: nós no século XVI

Foto de Nova Portugalidade.



Os mestres-músicos negros de D. Manuel



No Museu Nacional de Arte Antiga, de pintor português desconhecido e datado do primeiro quartel do século XVI, está patente ao público um políptico de cinco pinturas a que se convencionou chamar Retábulo de Santa Auta, anteriormente exposto no Convento da Madre de Deus para ilustrar passagens da vida daquela santa cujas relíquias ali foram depositadas em 1517. 

Numa das pinturas, alusiva ao Casamento de Santa Úrsula e do Príncipe Conan, a nossa atenção é desviada dos nubentes para um sexteto de instrumentos de sopro inteiramente composto por músicos negros, um dos quais toca trombone. No início do século XVI, a pintura sacra destinava habitualmente aos anjos a função de executar música, dado que a presença de Deus sempre se terá manifestado acompanhada de acordes celestiais.

Com excepção de um caso singular na Inglaterra de Henrique VII e Henrique VIII, onde foi célebre um trompetista negro chamado John Blanke - caso raro potenciado pelo exotismo - tudo indica que foram os Portugueses os primeiros a valorizar o talento e virtuosismo de instrumentistas africanos, usando-os como músicos da corte. Porém, o importante que nos importa reter neste particular é o facto de o negro aqui surgir como substituto dos anjos e, como homens, se mostrarem dignos de executarem peças musicais para um importante evento da corte. Não se trata, bem entendido, de trabalhadores braçais - carregadores, caiadores - ou até mesmo de lacaios e vendedores, mas de jovens conhecedores do reportório sacro que requeria anos de estudo e prática.

Se bem que no Renascimento era desaconselhado aos nobres aprender a tocar instrumentos do sopro - aos nobres e pessoas de elevada condição aconselhava-se a aprendizagem de instrumentos de cordas - a valorização artística dos negros e sua escolha face a concorrentes francos, italianos e tudescos assinala um importante evento civilizacional que deve ser lido como o reconhecimento de qualidades criadoras. Caso os instrumentistas fossem negros forros - ou seja, libertos - estes tinham direito a moradia,aposentadoria e vestiaria (casa, comida, trajo), assim como ao pagamento de 3 a 5.000 reais por ano, colocando-os em termos de rendimento numa "classe média antiga" equiparada aos mestres de ofício.

Nos reinados de D. Manuel I, D. João III e D. Sebastião, foi marcante a preocupação em enviar músicos para o Ultramar, ou ali formar jovens instrumentistas destinados a animar festas profanas e religiosas, animadores das festividades das casas dos senhores e governadores em terras do Brasil e do Oriente, ou ainda como elementos de destaque na corte católica do Manicongo, o Rei do Congo, aliado de Portugal.

MCB


Nova Portugalidade



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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

GRANDE REPORTAGEM DO DAILYMAIL SOBRE OS FUNERAIS D...

Real Associação da Beira Litoral: GRANDE REPORTAGEM DO DAILYMAIL SOBRE OS FUNERAIS D...: Honoured guests: Prince Charles joins royal elite at funeral for Romania's Michael I as tens of thousands mourn the monarch who s...

UMA CARTA COM QUASE SEIS SÉCULOS QUE DÁ QUE PENSAR

Foto de José Albuquerque.

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Carta enviada de Bruges, pelo Infante D. Pedro ao irmão D. Duarte, em 1426, resumo feito por Robert Ricard e constante do seu estudo «L’Infant D. Pedro de Portugal et “O Livro da Virtuosa Bemfeitoria”», in Bulletin des Études Portugaises, do Institut Français au Portugal, Nova série, tomo XVII, 1953, pp. 10-11).
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«O governo do Estado deve basear-se nas quatro virtudes cardeais e, sob esse ponto de vista, a situação de Portugal não é satisfatória. A força reside em parte na população; é pois preciso evitar o despovoamento, diminuindo os tributos que pesam sobre o povo.

Impõem-se medidas que travem a diminuição do número de cavalos e de armas.
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É preciso assegurar um salário fixo e decente aos coudéis, a fim de se evitarem os abusos que eles cometem para assegurar a sua subsistência.
É necessário igualmente diminuir o número de dias de trabalho gratuito que o povo tem de assegurar, e agir de tal forma que o reino se abasteça suficientemente de víveres e de armas; uma viagem de inspecção, atenta a estes aspectos, deveria na realidade fazer-se de dois em dois anos.
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A justiça só parece reinar em Portugal no coração do Rei [D. João I] e de D. Duarte; e dá ideia que de lá não sai, porque se assim não fosse aqueles que têm por encargo administrá-la comportar-se-iam mais honestamente.
A justiça deve dar a cada qual aquilo que lhe é devido, e dar-lho sem delonga..
É principalmente deste último ponto de vista que as coisas deixam a desejar: o grande mal está na lentidão da justiça.
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Quanto à temperança, devemos confiar sobretudo na acção do clero, mas ele [o Infante D. Pedro] tem a impressão de que a situação em Portugal é melhor do que a dos países estrangeiros que visitou.
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Enfim, um dos erros que lesam a prudência é o número exagerado das pessoas que fazem parte da casa do Rei e da dos príncipes.
De onde decorrem as despesas exageradas que recaem sobre o povo, sob a forma de impostos e de requisições de animais.
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Acresce que toda a gente ambiciona viver na Corte, sem outra forma de ofício.»
(arquivo Rainer Daehnhardt)
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D. Pedro, filho de D. João I e irmão do rei D. Duarte, foi um dos mais brilhantes governantes de Portugal - como regente na menoridade do seu sobrinho D. Afonso V. O ideal do Político brilhante e extraordinário. A falta que nos fazem os testemunhos de homens como este).

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