quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MESTRE GUILLAUME DE CHARTRES



GUILLAUME DE CHARTRES (1210 − 1218)

Guillaume de Chartres era filho Milon III, conde de Bar-sur-Seine, mas ignora-se a data do seu nascimento.
Dado como certo, foi o seu ingresso muito jovem na Ordem do Templo − foi admitido pelos irmãos da Comendadoria de Sours, próximo de Chartres − cujo percurso antes da sua eleição como Mestre em 1210 se perdeu no tempo.

O equilíbrio conjugado com a prudência foram factores preponderantes para a eleição de Guillaume de Chartres, que possibilitariam manter a união dentro da Ordem, face aos tempos conturbados que se avizinhavam.

O seu primeiro acto em que participou foi na coroação do príncipe consorte de Jerusalém, Jean de Brienne, título honorífico que o rei conservara, desde os tempos da conquista da cidade pelos exércitos de Saladino em 1187 e, posteriormente tornou-se imperador de Constantinopla.

Em 1211, o problema com o rei da Arménia foi solucionado mediante a intervenção papal. (Depois de reconquistado aos muçulmanos pelo príncipe Boemundo IV, este recusara-se a entregar aos seus legítimos donos a fortaleza que foi das primeiras que o Templo recebeu no Ultramar).

Nesse mesmo ano, deu-se por concluída a construção da fortaleza iniciada por Hugues de Payns iniciada em 1110. Este castelo, “Chastel Pèlerin”, também conhecido como “Athlit”, foi considerado inexpugnável.
(Esta fortaleza merece-nos um particular destaque, uma vez que foi completamente arrasada depois do seu abandono pelos Templários).

Erguido à ponta de um promontório, entre Cesaréia e Haifa, provocou mais danos nos muçulmanos que toda uma campanha militar.
Seria a partir desta torre que os Templários construíram todo o complexo da fortaleza. Erguia-se altaneira, plantada na esquina sudeste, projectando uma ampla visão para o mar.

Em 1218, os Templários auxiliados pelos Teutónicos e pelo barão flamengo Gauthier II d’Avesnes reforçaram esta torre. Durante o seu trabalho, põem a descoberto as fundações das antigas muralhas que usaram para reforçar a recém construção e, também descobriram fontes de água potável.
 
Depois da primeira linha defensiva, os Templários ergueram um outro pano de muralhas abarcando toda a extensão da largura do istmo. Esta muralha era protegida por um fosso. No extremo sul, ficava um recanto que enfrentava o mar.

Lá bem atrás do pano de muralha do segundo muro, elevava-se uma grande torre rectangular, construída com enormes blocos de pedra, ligadas por um pano de muralha que defendia a passagem que dava acesso para a segunda porta, que estava localizada a norte do istmo.
As duas torres foram concebidas com salas abobadadas, de dois pisos cada uma, encimadas por um terraço ameado.

Catedral de Laon
Por detrás deste sistema defensivo, surgia uma ampla praça de armas rodeada por diversos edifícios. No lado sul da praça, ocupando metade do seu comprimento, erguia-se uma igreja hexagonal, que segundo Jacques de Vitry, era um dos mais belos monumentos arquitectónicos de estilo gótico do Oriente. Esta igreja apresentava uma planta quase idêntica ao da capela Templária de Laon.
Bem ao lado da igreja, surgiam os edifícios reservados aos cavaleiros.
       
Na zona oeste do promontório ficavam as instalações portuárias que permitiam o abastecimento do castelo assim como o desembarque de passageiros. Ao seu redor, lojas e armazéns torneavam essas instalações.

As suas caves eram sobejamente espaçosas para prever qualquer situação mais delicada.
Depois de concluída a sua construção, em 1219, o sultão Malek-Mohadam que acabara de conquistar a fortaleza de Cesareia, tentou em vão invadir o castelo que designavam de “Ateleyt”.
Com o seu arsenal impressionante, encabeçados pelo Mestre Guillaume e defendida por 300 cavaleiros do Templo, não tardaram em repelir os atacantes.

Um caso caricato
 
Frederick II
Mais tarde, em 1229, o imperador Frederick II acreditando piamente que o castelo servia os seus propósitos para instalar uma das suas fortalezas costeiras, resolveu tomar a praça de surpresa.

Ao adentrar-se com a comitiva no recinto, exigiu a sua entrega sem mais delongas.
Os Templários, refeitos da surpresa de tão surpreendente e descabida ordem dada pelo imperador, vedaram-lhe a saída, armaram-se, e declaram que se Frederick não abandonar o local, seria imediatamente preso. 
A ira apossou-se do imperador, mas não teve outra alternativa senão retirar-se da tão almejada fortaleza.

O Mestre Guillaume de Chartres, atempadamente fez chegar homens bem como material bélico para a campanha na Europa.
Em 1212, as forças do Templo participaram na batalha de Navas de Tolosa, marco fundamental para a “Reconquista” em terras de Espanha.

Carga de cavalaria templária
Que tempos gloriosos se viveram! No campo de batalha, em uníssono brotavam das gargantas o cântico “Non Nobis Domine, Non Nobis, Sed Nomini Tuo Da Gloriam”, e partiam silenciosamente ao encontro com o seu Destino. Ledos e serenos, “intrépidos e bravos soldados aqueles que, enquanto revestem o corpo com couraças de aço, guarnecem as suas almas sob a loriga da fé; podem gozar de completa segurança, porque apetrechados com estas duplas armas defensivas, não devem temer os homens nem os demónios. Assim nem sequer teme a morte, antes a deseja. Nem ser vivo ou morto o poderá espantar, quando o seu viver é em Cristo; mais desejaria acabar por  separar-se do corpo para estar com Cristo, sendo isto o melhor” − capº. 1º. Loa à Nova Milícia − confiantes nas palavras de São Bernardo desfraldavam o Beaucéant, e como um todo, arremetiam contra a mourama. O mesmo aconteceu em 1217 na conquista de Alcazar.

As conquistas templárias nos reinos de Espanha exaltam a Ordem, e sucedem-se as doações de grandes senhores feudais e de Reis, que procederam à entrega da cidade de Tortosa e o castelo de Azud.

“A QUINTA CRUZADA (1209 − 1244)”

Papa Inocêncio III
Com início no ano de 1209 a 1244 procedeu-se a uma cruzada promovida pelo Papa Inocêncio III, com o apoio da dinastia dos Capetos abrangendo os reinados Filipe II, Luís VIII passando para Luís IX.

Esta guerra desenvolveu-se por várias fases; tinha como objectivo enfrentar o catarismo, cristãos heterodoxos (que não estão de perfeito acordo com a doutrina da fé), que se fixaram nos territórios feudais do Languedoque ao sul de França.

Ao longo desses anos, envolveram-se na contenda os condes de Tolosa e o reino de Aragão, terminando com a batalha de Muret, da qual os albigenses saíram com uma pesada derrota, e o movimento cátaro foi-se extinguindo lentamente.

 “A SEXTA CRUZADA (1212)”

Misto de fantasia misturada com a realidade? O facto é que chegou até nós transportada através dos séculos, a notícia que supostamente terá ocorrido no ano de 1212.

Gustave Doré
Reza a lenda que um rapaz oriundo da França ou da Alemanha começara a espalhar a notícia que lhe aparecera Jesus Cristo, com o fim de liderar uma cruzada para libertar Jerusalém do jugo muçulmano.

Tendo conseguido reunir cerca de 20 ou 30.000 crianças e jovens, teriam sido transportados por dois mercadores que os venderam como escravos quando desembarcaram em Alexandria.
 
Entretanto o Papa Inocêncio III convoca o IV Concílio de Latrão em 19 de Abril de 1213.
Quando este concílio reuniu em 15 de Novembro de 1215, foi considerado o mais importante realizado na Idade Média, resultando num conjunto de setenta decretos.

Enfrentando as diversas heresias que contestavam as doutrinas cristãs fundamentais, o concílio proclamou dogmaticamente doutrinas sobre os sacramentos, como a transubstanciação (transformação da substância do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo), assim como confessar os pecados uma vez por ano. Também foram emitidos procedimentos para combater a corrupção clerical. Neste concílio ficou determinado que os judeus usassem marcações específicas nas suas vestes…

Decepcionado com a cruzada de 1202, o Papa incentiva uma nova cruzada, exortando  os príncipes cristãos a cruzar de novo o oceano e, dirigindo-se aos convocados, apelou para a libertação da Terra Santa - “é preciso quebrar as correntes do cativeiro de Jerusalém… Estou pronto, meus queridos irmãos, a encabeçar este movimento (…), para vingar as injúrias feitas ao nosso Salvador, que agora é caçado nessa terra, regada com o seu sangue, e santificados pelo mistério da nossa redenção”.
Um longo soluço percorreu todo o Conselho, e imediatamente os bispos começaram a pregar a próxima cruzada.

No decorrer dessas embaixadas enviadas aos príncipes europeus, o Papa Inocêncio III faleceu (no dia 16 de Julho de 1216) antes de ver partir o próximo contingente para terras do Oriente. Por isso, esta tarefa coube ao seu sucessor Honório III que assumiu as rédeas dessa cruzada.

A QUINTA CRUZADA

A Quinta Cruzada iniciou-se a partir do ano 1217, com terminus em 1221.
Liderada pelo rei André II da Hungria e com a participação do rei de Jerusalém, Jean de Brienne, o rei sem trono, Leopoldo VI, duque de Áustria, Frederico II do Sacro Império, para além dos muitos nobres alemães concentrados em Lisboa, fazendo-se acompanhar dos templários que regressavam à Terra Santa, depois de terminarem a campanha militar na Europa.

Embarcados em Maio de 1218 e sob o comando de Jean de Brienne, os cruzados rumaram em direcção ao Egipto. Aportaram São João D’Acre e decidem atacar Damietta que lhes daria acesso ao Cairo.
Apoiado pelos barões sírios e pelos cruzados franceses, Jean de Brienne, pelo caminho conquistaram uma pequena fortaleza e aguardaram pelos reforços vindos de Roma, que chegaram em Junho do mesmo ano, comandadas pelo cardeal Pelágio.

O prepotente e petulante cardeal, recusa-se a entregar o comando das tropas ao rei de Jerusalém, refutando que os soldados eram da Igreja, e como tal, deveriam reconhece-lo como líder supremo.
Frequentemente ingeria em assuntos do foro militar! – Lá diz o velho ditado “dá Deus nozes a quem não tem dentes…”

Os cruzados cercaram Damietta; honra seja aos seus defensores, que suportaram o cerco com bravura. Exaustos pela fome e pelas febres que grassavam na cidade, juntamente com os fortes combates com os cruzados, por fim Damietta caiu em 5 de Novembro de 1219.

A ocupação de Damietta

Conquistada a cidade, segue-se uma disputa entre os conquistadores. Em 21 de Dezembro, os italianos tentaram expulsar os cruzados franceses. A 6 de Janeiro de 1220, foi a vez de os franceses tentarem expulsar os italianos. Então os contrincantes resolveram entrar em tréguas em 2 de Fevereiro, para resolverem o destino a dar à cidade.

Por um lado, os cruzados italianos preferiam instalar um posto comercial, e os franceses queriam antes recuperar Jerusalém e os bens do reino pedido em 1187, sendo esse o principal motivo da Cruzada. Estava difícil de sair desde impasse!.. enquanto isso, e o rei Jean de Brienne exasperava pelo trono de Jerusalém!

No dia 29 de Março, Jean de Brienne e os barões da Síria resolveram abandonar a Cruzada. Os interesses comerciais sobrepunham-se aos interesses da conquista da Terra Santa. Antes que seguissem o exemplo de Jean de Brienne, o cardeal manda encerrar o porto da cidade, impedindo mais evasões.

Frederico II não tinha vontade de participar nesta Cruzada. Mas uma vez que prometera o envio de tropas, essas chegaram por fim comandadas pelo duque Ludovique I da Baviera e pelo Mestre teutónico Hermann von Salza em Maio do mesmo ano – dizem algumas más-línguas, que o reforço era composto somente por 500 homens.

Decidindo chamar novamente Jean de Brienne (com o perigo eminente de ser excomungado), o cardeal, com estes reforços decidiu invadir o Cairo. O rei de Jerusalém via a insensatez deste plano, mas decidiu juntar-se a Pelágio a 7 de Julho.

Sultão Al-Kamil
O sultão Al-Kamil renova mais uma vez a oferta de paz, mas Pelágio é peremptório na recusa. Depois de algumas escaramuças com a vanguarda do exército muçulmano, chegaram a Mansoura, em 24 de Julho.
As cheias do rio Nilo adequavam-se à táctica que se desenhava na mente de Al-Kamil.
Romperam os diques, e inundaram as planícies, obrigando os cristãos a ocupar uma estreita faixa de terra.
Pelo Nilo, Pelágio tinha a frota Ayyubid barrando-lhe a passagem. Por terra, apresentava-se-lhe um formidável exército. Restava-lhe a rendição.

Tudo terminou a 7 de Setembro de 1221, com o abandono de Damietta, e com a obrigação de aceitarem uma trégua de 8 anos.

O exército prometido pelo imperador Frederico II nunca chegou, o que lhe valeu uma segunda excomunhão.

A 25 de Agosto de 1219 morre o Mestre Guillaume de Chartres de peste que eclodiu nas fileiras cristãs, frente aos muros de Damietta.

Escudo de armas: - Esquartelado; I e IV Cruz do Templo em campo de prata; II e III sobre campo azul, três barbos de ouro postos em faixa e gironados a preto e ouro.




CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1210, O rei de Aragão doou aos Templários o castelo de Azud e a cidade de Tortosa.
1210, 14/Setembro – Jean de Brienne casa com Maria de Montferrat, rainha de
          Jerusalém. A 3 de Outubro são consagrados reis de Jerusalém na catedral de Tiro
          com a presença do Mestre de Templo Guillaume de Chartres.
1211, Conflito entre a Ordem do Templo e o rei da Arménia Leão II, pela posse do
          castelo de Bagras, que este reconquistara aos muçulmanos.
1212, Cruzada das crianças.
1212, Derrota dos muçulmanos na batalha de Navas de Tolosa. O reino almóada da
          Hispânia, existente desde 1145, desaparece.
1213, Famosa vitória de Ubeda. Entre os Templários que mais se distinguiram,
          encontramos Gomez Ramirez, preceptor de Castela, que foi proposto a Mestre da
          Ordem.
1215, Novembro – O Papa Inocêncio III apela a uma nova cruzada, durante o sermão de
          abertura do Quarto Concílio de Latrão.
1216, Janeiro – Morte de Inocêncio III.
1217, Vitória sobre os mouros alcançada na batalha de Alcazar
1217, Setembro – André II da Hungria e Leopoldo VI, duque de Áustria, desembarcam
          em São João D’Acre para apoiar as tropas reunidas por Jean de Brienne.
1217, Dezembro – Os francos abandonam o cerco da fortaleza do Monte Tabor.
1218, 29/Maio – O exército de Jean de Brienne desembarca em Damietta.
1219, Primeira incursão dos mongóis de Gengis-Khan contra os territórios muçulmanos.
1219, Março – Os muçulmanos desmantelam as fortificações de Jerusalém.
1219, 25/Agosto – Morre o Mestre Guillaume de Chartres.

*++Fr. João Duarte-Grande Oficial/Comendador Delegado da Comendadoria Sta. Maria do Castelo de Castelo Branco.    

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