sábado, 7 de setembro de 2019

Não foi excepção

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Mugabe foi inventado pelos soviéticos e aclamado pelo Ocidente como um homem de excepcionais qualidades. Sem tirar nem pôr, nada o separava dos machéis e outra gente que a boa consciência fez crismar como "nacionalistas" [de coisa alguma] e "freedom fighters", expressão de cintura larga onde cabiam os Ches, os Bin Ladens e os Pol Pots.

É sabido que o Ocidente tudo fez para impedir a solução compromissória representada pelo bispo Muzorewa que venceu as eleições gerais de 1979 - eleições justas, democráticas - teimando em não lhes reconhecer legitimidade, pois a legitimidade de armas na mão da ZANU era, como o foi em Moçambique com a FRELIMO, a única condição exigida pela boa consciência dos areópagos.

Depois, foi o que se sabe: o oligofrénico destruiu os seus compagnos de route - só não matou Joshua Nkomo, pois providencial cancro na próstata o retirou do número dos vivos - depois mandou retirar por decreto os lugares parlamentares reservados à minoria branca, destruiu a economia reeditando a deskulakização e as fomes bíblicas, mandou demolir todas as casas pertencentes a membros de tribos minoritárias que se haviam fixado em torno da capital, confiscou todos os poderes, baniu a oposição e empurrou para o exílio mais de 30% da população. Perante o desastre, o soba louco inventou cabalas e conspirações universais para desculpar as políticas ubuescas: a conspiração da rainha Isabel, a conspiração dos "pornógrafos britânicos" e outras espantosas maquinações que só uma transbordante veia ficcionista à Swift se atreveria passar ao papel.

Mugabe é o retrato da África que se quis pura e absolutamente negra, do racismo que não se queria ver ao espelho, da regressão até aos limites da luta pela sobrevivência. Mugabe foi a excepção: foi a regra de ouro, a mais perfeita decantação do pesadelo em que se transformou o continente. A culpa - se a definição importada do direito tem alguma possibilidade de vingar num continente sem lei - não é de Mugabe, mas de todos os estúpidos inteligentes que o colocaram onde imerecidamente não podia ter estado e de onde saiu quase morto. Como um dia fez questão em dizer, "o Zimbabwe é meu e ninguém mo tira".

O continente vai morrendo, num movimento que surge como imparável. Nunca tantos africanos sofreram tantos atropelos àqueles direitos que os bem-pensantes palradores invocam. Onde estão os Bernard Henri-Lévy, os Daniel Cohn Bendit, os Al Gore, os Bob Geldof e demais bufarinheiros dos negócios sentimentalóides?

MCB


Fonte: Nova Portugalidade

DEUS - PÁTRIA - REI

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