segunda-feira, 9 de maio de 2011

MESTRE EUDES DE SAINT-AMAND




EUDES DE SAINT-AMAND (1171 – 1179)

Eudes ou Odo de Saint-Amand nasceu na Provença em 1110 (?), foi baptizado na região de Artois e era proveniente de uma nobre família de Limousin.
Provavelmente embarcou cedo na aventura em busca de glória, uma vez que os seus feitos militares depressa se revelaram na Palestina.
Foi marechal do reino e, posteriormente, visconde de Jerusalém antes de entrar para as fileiras do Templo.

Depois de Philippe de Milly ter abandonado o mestrado da Ordem, impunha-se uma nova chefia pragmática, e inteligente. A escolha recaiu em Eudes de Saint-Amand, uma vez que os dignitários da Ordem viam crescer a influência de Saladino.
     
Sem ter em conta a opinião do Templo, o rei Amalrico pactuou com El Beled, o chefe dos Ismaelitas, uma seita conhecida como “Assassis” ou assassinos. No pacto selaram o compromisso de El Beled ajudar Amalrico na luta contra o Islão. Como pagamento pela colaboração, isentava os Assassis do tributo que pagavam aos Templários.
     
O recém-eleito Mestre dos Templários opôs-se a Amalrico I, após ser confrontado pela acusação de ter mandado matar um emissário do Velho da Montanha (xiita islâmico), às mãos do cavaleiro Gauthier Maisnil, quando este se dirigia para a fortaleza de Masyaf na Síria. A morte repentina de Amalrico põe fim a este confronto com o advento de Balduíno IV.
   
Eudes de Saint-Amand adquire a reputação de duro, inflexível e intransigente.    
Guillaume de Tyr escreveu a propósito do Mestre: «Homme méchant, superbe, arrogant, ne respirant que la fureur, sans crainte de Dieu et sans égard pour les hommes».    “Feminino vilão, bonito, arrogante, respirando a ira de Deus sem medo e sem ter em conta para os homens”.    
(Na verdade, Guillaume de Tyr não suportava os poderes conferidos às Ordens pela Santa Sé e, particularmente aos Templários).
    
O Papa Alexandre III através da bula de 1172 conferiu novos poderes há Ordem, permitindo-lhes ter o seu próprio clero, após uma profissão de um ano de noviciado, consentir a construção casas de Priorados ou oratórios para o enterro dos irmãos, evitando contactos com o público.
       
Nur ad-Din morre em 1174, e o seu império cai sob o domínio de Saladino, que em 1177 lança uma ofensiva contra a Palestina, assolando a periferia de Ascalon.


BATALHA DE MONTGISARD
Saladino

Saladino à frente de 20 a 30.000 homens, segundo Guillaume de Tyr, tem como objectivo atacar Jerusalém. Pelo caminho ataca Ramla, Lida e Apollonia (Israel).    
As informações que obtivera sobre as tropas de Balduíno permitiam-lhe uma marcha descontraída. Sobrevalorizando o adversário, permite que o exército se espalhe para se reabastecer e pilhar o que pudesse.
   
O rei de Jerusalém reúne cerca de 3.000 de infantaria e 375 cavaleiros,  dos quais faziam parte 80 templários, comandados pelo Mestre Eudes de Saint-Amand e seguidos por Renaud de Châtillon, Jocelín III de Courtenay (tio de Balduíno), Reinaldo de Sidón e Aubert, bispo de Belém; com este pequeno exército vai ao encontro de Saladino, surpreendendo-o em Montgisard, a 24 de Novembro de 1177.
  
Os cristãos carregaram pela retaguarda o desprevenido exército de Saladino. Voluntarioso, o Mestre Eudes toma a iniciativa (como habitualmente) de lançar os seus cavaleiros ao ataque. “O anjo da morte parecia segui-los para a peleja” escreveu um cronista, varrendo todo o ser vivo que se lhes deparava pela frente.  
Cerca de noventa por cento do exército de Saladino, incluindo a sua guarda pessoal de Mamelucos, foram destruídos. Apenas um décimo das suas forças conseguiram pôr-se a salvo refugiando-se com Saladino no Egipto.
     
O exército de Balduíno saldou-se pela perda de 1.100 homens, e 750 feridos, assegurando desta forma a sobrevivência do Reino de Jerusalém durante o seu reinado.
       
Após a destruição do exército de Saladino, os Templários são contemplados com várias doações importantes, algumas das quais feitas por Renaud de Châtillon, Senhor de Margat, que atribuem à Ordem metade das rendas de várias cidades.
   
Entretanto Saladino decide fazer tréguas entre ele e os Estados Cruzados com o fim de reconstruir o seu depauperado exército, regressando ao ataque em 1179.
   
Apesar da forte oposição de Saladino, contrário à construção de um castelo no Vado (Vale) de Jacob (violando o tratado de paz assinado com Balduíno), durante o mestrado de Eudes de Saint-Amand concluída a construção do “Chastellet”.
    
Em Maio de 1179, Saladino intenta invadir o reino de Jerusalém, mas depara-se com uma forte resistência aos seus ataques, vindas do “Chastellet” defendida ferozmente pelos Templários e os homens de Humphrey II de Toron, Condestável do Reino de Jerusalém. Saladino cria uma base em Banias, e envia forças para as zonas costeiras.   
Em resposta, Balduíno move o seu exército para Tiberíadas, e de lá marcham para a fortaleza de Safed avançando na direcção de Toron.

Cavalgando ao seu encontro, juntaram-se-lhes os cavaleiros do Templo liderados pelo  Mestre Eudes, um grupo de Hospitalários comandados pelo Mestre Roger de Moulins e uma força do Condado de Trípoli, encabeçada pelo conde Raymond III. À distancia avistavam-se as tendas de campanha dos muçulmanos.  
Estavam reunidas as condições para um confronto bélico. Assim surgiu a batalha de Marj Ayyun…

A BATALHA DE MARJ AYYUN

Uma vez mais, o exército de Saladino foi apanhado desprevenido! À imagem do ano de 1177, seus homens encontravam-se espalhados com o intuito de pilharem o que pudessem.
   
Descendo com os nobres à planície, sem delongas Balduíno atacou o incauto acampamento, deixando a infantaria para traz.
   
Aparentemente a vitória sorria a Balduíno!... Pensando que a batalha estava ganha, os francos baixam a guarda e deram descanso à infantaria após a sua marcha forçada.
 
O exército de Saladino outrora disperso, ia engrossando as suas fileiras, enquanto Raymond e os cavaleiros do Templo se postaram entre as margens dos rios Ayyun Marj e Litani.  
Subitamente, exército principal de Saladino lançou um ataque sobre as hostes cristãs apanhando-os desprevenidos. A derrota foi inevitável! O rei Balduíno ficou seriamente ferido e, Eudes de Saint-Amand foi feito prisioneiro.
 
Saladino pretendia trocar o prisioneiro por um seu sobrinho, cativo dos Templários, mas o Mestre retorquiu citando um estatuto da Ordem: 
“Por nenhum motivo quero dar um exemplo que fomente a cobardia entre os monges, que se deixariam capturar tendo em mente o pagamento de um resgate. Um Templário deve vencer ou morrer. Só se pode pagar com o próprio punhal e cinto”.
 
Depois de ouvir esta resposta, o chefe muçulmano agrilhetou-o, submetendo-o a um tratamento cruel, e pô-lo a definhar numa masmorra.
  
(Que nobreza de comportamento! Aguardou a face da morte e esperou por ela). 
Os ventos da vitória sopravam a favor do “malik”; aproveitando a ocasião, dirigiu-se para o castelo do Vado de Jacob, e as vagas sucessivas de muçulmanos contra os muros do castelo surtiram os efeitos desejados; a 30 de Agosto, os cruzados são derrotados na batalha de Vadun Iacob e Saladino finalmente liberta-se do “Chastellet”, não deixando pedra sobre pedra.
  
O Mestre Eudes de Saint-Amand faleceu em Damasco no cativeiro, em 19 de Outubro de 1179.


Escudo de armas: − Esquartelado; I e IV Cruz do Templo sobre campo de prata; II e III sobre campo de prata três faixas em sinople com um bordo dentelado. 




CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1173, Saladino manda construir uma uhanqab (convento) no Cairo e adopta o titulo de
          malik (rei) e ocupa o Alto Egipto e envia uma expedição ao Iémen.
1174, 18/Abril − O Mestre subscreveu a confirmação do rei Amalrico de uma anuidade 
          aos Hospitalários.
1174, 15/Maio − Morte de Nur ad-Din. Saladino apodera-se da Síria.
1174, 11/Julho − Morte do rei Amalrico I. Sucede-lhe Balduíno IV.
1174, Manuel I Comneno imperador bizantino, manteve-se em guerra com Kilij Arslan
          II sultão seljúcida de Run, até 1176.
1174, 13/Setembro − Mestre Eudes, foi citado numa acta de Balduíno IV.
1176, Os turcos seljúcidas do Run derrotam o exército de Manuel I em Myriokephalon.
1176, Novo testemunho do Mestre Eudes, ao termo da confirmação da venda do Casal
          de Beit Daras.
1177, Cruzada dirigida pelo conde da Flandres, Filipe da Alsácia.
1177, 24/Novembro − Saladino é derrotado em Montgisard.
1178, Mestre Eudes, recebe metade das rendas de Brahin, do Casal Albot e do Casal de Talaore conforme prometido por Reinaldo, Senhor de Margat.                            
1179, Fevereiro − Conclui-se um acordo entre os Mestres Eudes e Roger des Moulins.
1179, Sucedem-se vários ataques de Saladino nomeadamente à cidade de Tiro.
1179, 19/Outubro − Morre o Mestre Eudes de Saint-Amand.


Autor:  ++ Fr. João Duarte. Comendador da Comendadoria de Santa  Maria do Castelo de Castelo Branco.

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