domingo, 19 de janeiro de 2020

COMO DERROTAR O VELHO DO RESTELO QUE SE APODEROU DE NÓS, NOS SABOTA E NOS MATA?

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A inexistência de qualquer forma de conversa ou dissensão em Portugal, seja nos partidos ou na dita "sociedade civil", a respeito da União Europeia não se explica pela História, a política ou a geografia, mas pela psicologia. Se as três primeiras importassem, Portugal seria o menos europeu de todos os povos da Europa: andou pelo mundo durante pelo menos dois terços da sua existência; nunca teve, para lá da aliança inglesa, dos casamentos espanhóis, do comércio flamengo, da arte italiana e das manias francesas, preocupações europeias ou interesses europeus; e foi sempre coisa evidente para todos, século atrás de século, fossem as cabeças mais ou menos conservadoras, mais monárquicas ou republicanas, mais de esquerda ou de direita, que esta estreita faixa de terra pobre e seca só fugindo de si mesma poderia fazer-se relevante. Pela História, a política e a geografia, pois, somos, na melhor das hipóteses, europeus à maneira excêntrica dos russos ou dos ingleses: receptáculos distantes e curiosos dos brilhos da Europa carolíngia; europeus incompletos, europeus de fronteira, europeus que o são sem por isso poderem abdicar de ser o resto. Somos europeus embaixadores da Europa no mundo (e do mundo na Europa) muitos mais que participantes na vida europeia. Aliás, procure-se fora da estufa aclimatizada da grande empresa, da universidade e das andanças de Erasmus por portugueses de verdadeira convicção europeísta e não se achará um só.

O motivo da nossa actual e totalitária eurofilia é psicológico; explica-se por uma conjugação perfeita de quase tudo o que, aceitemo-lo, passou a haver de mau na psique nacional: uma natureza servil; a indisponibilidade para o risco; o medo da aventura; um conservadorismo limitativo e castrador; um derrotismo asfixiante; pior de tudo, a esperança aparente de que a mediocridade portuguesa - uma pobreza sistémica e cada vez mais notória, mas que ainda vai permitindo uma vida de pequeno conforto - possa continuar a ser sustentada pelas economias prósperas do norte. Tudo isto é indigno, e nem sequer funciona. A prova de que a UE é um fardo antes de ser uma vantagem é que Portugal não é hoje apenas o mais pobre da Europa ocidental, mas o mais pobre de quase toda a Europa comunitária. A prova é o quase milhão de jovens desempregados forçados ao exílio como metecos em Londres e Berlim. A prova é que Portugal não é hoje nem uma democracia, pois não há um cêntimo português gasto sem autorização da Comissão. A prova é que até o argumento miserabilista dos "fundos europeus" é um argumento a prazo, pois Portugal passará de beneficiário a contribuinte da UE, pelo que se estima, ainda esta década. É assim por muito que se não queira ver o que todos sabem e ninguém quer exteriorizar. Na Europa dinâmica e atenta de além-Pirenéus, a impossibilidade de manter sem reformas profundas a União tornou-se facto aceite, e compreende-se que marche-se rumo á unidade plena e à eliminação dos seus antigos Estados, ou a uma Europa de países soberanos onde o poder se ache muito mais descentralizado do que hoje, algo novo terá de surgir. Em Portugal, não: aqui, o mesmo medo psicótico continua a gelar qualquer esforço para pensar o amanhã. Oxalá o futuro nos devolva em bondade esta apatia doentia e suicida. Contudo, a História mostra que assim nunca é: pela recusa em agir há sempre um preço terrível a pagar, e nunca um povo se deu bem por deixar-se ultrapassar pelos acontecimentos.

RPB

Para responder justamente a estas perguntas, a NP abre-se dia 23, pelas 19h00, à sociedade civil para um debate-conferência na Casa da Sertã, em Lisboa. Aqui, o link do evento: https://www.facebook.com/events/1584336331704041/

Fonte: Nova Portugalidade

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