sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Poderia a civilização europeia ter sobrevivido sem nós?

A imagem pode conter: 3 pessoas

É impossível olhar para o Mediterrâneo do século XVI - aceite-se, coração do mundo da Antiguidade, pelo menos, até Vasco da Gama - e não notar que, no embate decisivo que a civilização europeia travou pela sua sobrevivência contra a ameaça turca, a sua sobrevivência parece quase inimaginável tirando Portugal da equação. Com a conquista do império egípcio dos mamelucos pelos otomanos em 1517 e a extensão do poder do Sultão de Constantinopla do Adriático ao Irão e da Hungria ao Índico, o espaço islâmico conheceu unidade que não via desde o século IX, transformação que lhe permitiu o assalto ao Mediterrâneo que atingiria ponto alto em Lepanto (1571) e à Europa, submetendo a Hungria em Mohacs (1526) e quase tomando Viena, portão da Europa central, em 1529.

A expansão otomana para a Europa e o Mediterrâneo ocidental teve na coligação dos três impérios católicos de Portugal, Espanha e Áustria constante e decisivo adversário. E, se a Portugal não coube impor ao Turco derrota tão dramática como as de Lepanto ou de Viena, seria absurdo ignorar o peso do contributo português. Em que direcção teria soprado o vento da História se, por altura do seu avanço para norte e oeste, os otomanos pudessem ter feito uso pleno dos imensos recursos financeiros que o comércio da Índia gerava? Teriam os turcos sido batidos se beneficiários do comércio que tinha sustentado durante séculos os mamelucos do Cairo e a oligarquia de Veneza, e que Portugal desviou para a Rota do Cabo ou diminuiu significativamente através do apossamento das rotas asiáticas pela rede de fortalezas e armadas que os portugueses controlavam desde Goa? Não há dúvida de que, sem os portugueses no Oriente a negar à Sublime Porta recursos decisivos e a obrigá-la a desviá-los para uma luta distante contra o Estado da Índia, a sobrevivência da Europa teria sido, ou muito mais difícil, ou improvável. É uma constatação que não pode deixar de impressionar-nos quando consideramos o impacto que Portugal teve sobre a História do mundo.

RPB


Fonte: Nova Portugalidade

Sem comentários:

Enviar um comentário