quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A TRAÇOS LARGOS

Castelo Branco

Quem visitar a cidade de Castelo Branco e não estiver elucidado sobre o seu passado histórico, limitar-se-á a apreciar os Jardins do Paço Episcopal, ex-libris da cidade, parte do seu património histórico e a magnifica paisagem que se avista do cimo das muralhas do castelo; para lá chegar, não há melhor maneira que percorrer a pé o velho burgo, enveredando por ruas cujo traçado medieval foi executado de acordo com o usado noutras cidades europeias.
Sem a pretensa veleidade de ensinar aos meus ilustres confrades a história desta cidade esquecida pela História, quero tão só recordar a traços largos um passado longínquo que a torna digna de maior atenção.
Lenda e Realidade:
As origens da sua fundação perderam-se na memória dos tempos, misturando-se assim a lenda com a verdade.
Presumivelmente a sua fundação remonta aos tempos da famosa cidade romana Castraleuca para uns, e Belgaia para outros, embora não haja qualquer prova que fundamente qualquer destas hipóteses.
De qualquer modo, achados arqueológicos indicam ter existido na zona formada pelo “Triângulo de Mércules” uma vila rústica romana (onde ainda hoje pode ser visitada a igreja de fundação templária da Nossa Senhora de Mércules, edificada sobre um templo de culto a Mercúrio) e uma vila urbana na encosta do castelo.
Na incerteza de uma data concreta, partiremos do principio que em 1213/14 foram doados à Ordem do Templo, vastíssimos territórios designados Vila Franca da Cardosa, por um fidalgo de nome D. Fernando Sancho, filho de D. Sancho I de Portugal e de sua esposa D. Dulce, havendo quem defenda ser filho de D. Garcia Mendes, descendente por bastardia do Conde D. Henrique de Borgonha.
Dada a extensão da propriedade, esta doação foi confirmada por El-Rei de Portugal D. Afonso II com a condição dos Templários defenderem, povoarem e expandirem o território.
Sob a protecção dos Cavaleiros do Templo e confiando nas muralhas do poderosíssimo castelo já então por eles erguido, verificou-se um rápido e crescente número populacional originando grande desenvolvimento tanto na produção agrícola, como na criação de gado.
Por esta altura já os Templários de Castelo Branco tinham sob a sua alçada os territórios designados por Açafa que englobavam Vila Velha de Ródão e de Idanha.
Pela importância adquirida, é-lhe concedido o primeiro Foral por D. Frei Pedro Alvites 8º.(?) Mestre da Ordem em Portugal (1212-1224?) confirmado posteriormente em 1215 pelo Papa Inocêncio III, onde já lhe é atribuído o nome de Castelbranco.
Desde os inícios do séc. XIII que Castelbranco alternava as suas actividades com Tomar, sede-mãe dos Templários em Portugal, tendo sido também lugar de paço residencial dos Mestres do Templo.
Nos paços dos Comendadores reuniram-se pelo menos seis Capítulos-gerais dos três reinos – Portugal, Leão e Castela (1228; 1253; 1264; 1265; 1266 e 1267), tendo sido o primeiro presidido pelo português D. Frei Martim Sanches (1226-1229?), então Mestre destes três reinos.
Paço dos Comendadores e Alcaides-mores

Na altura a vila não era murada nem tampouco havia sido construído o paço dos Comendadores e Alcaides-mores, pelo que a reunião teve lugar na vetusta igreja de Santa Maria, de estilo românico (que ainda hoje pode ser visitada; ao longo dos séculos sofreu várias alterações devido a destruições quer pelo homem, quer pela acção da natureza), onde após terem celebrado missa, foram debatidas questões de limites, pertenças e prerrogativas existentes entre as comendas de Ródão e Sertã (pertença dos Hospitalários), estando também presente D. Froilhe Emiges que fez doação à Ordem do Templo a sua “villa” de Cira ou Xira, assim como de muitas possessões nos três reinos.
A partir de 14 de Março de 1319 os bens dos Templários de Castelo Branco foram revertidos a favor da recém criada Ordem de Cristo.
Em 1550 Castelo Branco recebe novo Foral de D. Manuel I e mais tarde, em 1535, recebe Carta de D. João III através da qual o rei concede à localidade o título de Vila Notável.
Em 1771, D. José I concede a Castelo Branco através de Carta Régia a categoria de cidade.
 
Origem do Nome

Na realidade só se pode conjecturar sobre o topónimo “Castelo Branco”.
Houve quem lhe atribuísse o nome baseando-se na tradução das palavras Castra = Castrum = Castelo e Leuca = Leucon = Branco ou alvo.
Também há quem opine ser devido aos “amplos mantos brancos dos Templários” avistados no alto do castelo.
A mais inverosímil, é atribuída ao Dr. José Hermano Saraiva que no seu programa televisivo “Horizontes da Memória”, presume que os Templários caiaram o castelo de branco!
Segundo o Padre Luís Gonzaga de Azevedo, este nome foi dado pelos Templários em lembrança de um castelo situado na Síria.
Na minha modesta opinião, esta ultima opção ainda é a mais aceitável.
Em 1110 no decorrer da primeira cruzada foi conquistada a fortaleza de Safita, diminutivo de Burj Safita que significa literalmente em árabe “torre clara”, tendo ficado inicialmente sob os cuidados dos Hospitalários e mais tarde entregue aos Templários, que passam a chamar-lhe Chastel Blanc.
Ainda assim, na documentação até agora encontrada, surge sempre a expressão Vila Franca da Cardosa, até que o Papa Inocêncio III conforme já foi referido atrás, a chama de Castelbranco.





Comendadoria de Santa Maria do Castelo
Frei João Duarte – Grande Oficial/Comendador Delegado da
Comendadoria Sta. Maria do Castelo de C. Branco

Editado nos Cadernos Templários, Ano II de Setembro de 2007 em Coimbra

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