sexta-feira, 5 de agosto de 2016

SUBTILEZAS DO PALADAR NA OBRA O COZINHEIRO DO REI D. JOÃO VI

Portada de O Cozinheiro do Rei D. João VI, de Hélio Loureiro
Portada de O Cozinheiro do Rei D. João VI, de Hélio Loureiro

O Cozinheiro do Rei D. João VI é um livro de aromas e sabores, que tem por base acontecimentos históricos.

Hélio Loureiro é um conhecido autor de livros de culinária e gastronomia. Escreveu catorze livros de cozinha, de que podem ser exemplos “Receitas para Vinho do Porto”; “Gastronomia Portuense”; “Gastronomia e Vinho Verde…uma tentação”; “ Sabores de hoje, melhor com vinho verde”; “ Receitas com tradição” e “ À mesa com a nossa selecção”. Mas pouca gente sabe que Hélio Loureiro é autor de um romance , “O Cozinheiro do Rei D. João VI “, editado pela Esfera dos Livros, já em 2008. Passou despercebido então. E talvez seja agora altura para o ler, ou reler, num contexto em que mais claramente se discute a importância cultural da gastronomia e ganham visibilidade na televisão, na Internet, e nos jornais, os workshops e programas de culinária, apelando-se às subtilezas de um espectador-gourmet.
O Cozinheiro do Rei D. João VI é um livro de aromas e sabores, que tem por base acontecimentos históricos. Hélio Loureiro procura com ele mostrar "que […] a mesa é palco de convívio, de alegria, mas que pode também ser local de conspirações [...] e se morre pela ingestão de alimentos"; nos hábitos alimentares fica patente “a fragilidade humana que com muita facilidade se vende e se corrompe, desviando-se dos princípios que por vezes são valores inabaláveis”. (Loureiro, 2008: 11)
António de Vale das Rosas, protagonista da obra é um aprendiz que vai para o Palácio de Mafra, em 1805, servir na cozinha do futuro Rei D. João VI. O Cozinheiro do rei, com o seu inegável talento para combinar ingredientes e sabores, conquista a amizade do seu amo, um grande apreciador da boa comida. António confeccionará o prato fatal que levará D. João VI à morte.
«O nosso Rei não era grande amante de doces. Tentou-se apenas por um leite-creme queimado e uma laranja laminada, salpicada de açúcar e uma pitada de canela e flor de laranjeira». (Loureiro, 2008: 194) O doce esconderá o sabor do arsénico, que passado algumas horas começou a fazer nefasto efeito.
Há alguma ironia nestes doces que disfarçam venenos e nestas receitas tradicionais que escondem traições. O livro está semeado de simbologia numérica. Como se a quantidade fosse, nas receitas como na vida, um dos aspectos da qualidade. Estrategicamente, o leitor, ao longo da obra, deparar-se-á com catorze receitas, catorze formas de ver o mundo, catorze formas de o mudar.

mundiario

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