terça-feira, 15 de novembro de 2016

MOUZINHO DE ALBUQUERQUE, UM HERÓI PORTUGUÊS

Em 12 de Novembro de 1855, nascia Mouzinho de Albuquerque, um heróico oficial de cavalaria português do século XIX e uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas, que se notabilizaria durante as gloriosas campanhas de África (1894/95), e que ganhou grande fama em Portugal por ter protagonizado, em 1895, a captura do imperador nguni Gungunhana, na terra de Chaimite, e pela condução da ulterior campanha de pacificação das populações locais de Chaimite e de Gaza que afiançariam lealdade à administração colonial portuguesa, no território que viria a constituir o presente Moçambique.
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque nasceu, como acima indicado, a 12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, Leiria, e era filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon.
A 23 de Novembro de 1871, muito novo, com somente 16 anos de idade, assentou voluntariamente praça no Regimento de Cavalaria Nº 4, ingressando de seguida no Colégio Militar da Luz, completando o curso na Escola do Exército em 1878, com o posto de Alferes. Era o inicio da fabulosa e destemida carreira militar de Mouzinho de Albuquerque.
Em 1871 matriculou-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra, cidade onde contraiu matrimónio com sua prima, D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão.
Em 1882, toldado pela doença, a brilhante carreira iniciada por Mouzinho sofreu um revês: incapaz de frequentar o 4º ano do curso universitário retornou a Lisboa, onde durante dois anos não exerceu qualquer actividade. Recuperado, em 1884, foi promovido a Tenente e nomeado regente de estudos no Colégio Militar.
Em 1886 indigitado para um posto na fiscalização do Caminho-de-Ferro de Mormugão,  Mouzinho partiu para a Índia, e dois anos depois é nomeado secretário-geral do governo do Estado da Índia. Notável administrador colonial, a sua carreira é meteórica, e, em 1890, é promovido a Capitão e nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que desempenhou até 1892, tempo do regresso a Lisboa.
Volvidos dois anos, em 1894, volta às colónias, como Comandante do esquadrão de Lanceiros n.º 2, e que se haveriam de associar às forças da expedição militar de António Ennes que tinham por móbil subjugar as rebeliões indígenas no sul de Moçambique.
Foi aí que Mouzinho de Albuquerque se distinguiu nas campanhas de África, designadamente, a que conduziria ao aprisionamento, em Chaimite, a 28 de Dezembro de 1895, do chefe das insurreições, o vátua Gungunhana. A 11 de Novembro de 1895, as tropas comandadas por António Ennes, entre as quais se encontrava Mouzinho, tomaram Manjacaze, sede de  Gungunhana, que se pôs em fuga, em direcção a Chaimite, onde é acossado, três dias depois, pelas tropas capitaneadas por Mouzinho. Após um arrojado cerco à povoação, prendendo o imperador Africano e aprisionando grande parte da sua família, estes entregam oito diamantes, mil libras em ouro, armas e respectivas munições e todo o marfim e gado que possuíam como penhor dos prejuízos causados pelas insurreições. Gungunhana e os demais cativos são entregues, em Lourenço Marques, a António Ennes, governador-geral da colónia, acabando por ser enviados para Lisboa. Após aquele sucesso militar que lhe granjeou enorme projecção nacional e internacional, Mouzinho de Albuquerque é empossado governador-geral de Moçambique, a 13 de Março de 1896. Ainda no mesmo ano é designado Comissário Régio.
Para o temerário Mouzinho os êxitos militares prosseguem, pois comandou ainda diversas campanhas de afirmação territorial de Portugal em África: Naguema (3 de Março), Mocutumudo (6 de Março ) e Macontene (21 de Julho), todas em 1897. Após as quais, a 18 de Novembro do mesmo ano, Mouzinho de Albuquerque regressa a Portugal com desígnio de assegurar junto do Ministério do Reino um empréstimo que lhe possibilitasse empreender determinadas reformas que julgava imprescindíveis.
Em 15 de Dezembro de 1897, Mouzinho de Albuquerque aporta em Lisboa onde é, qual triunfador romano, recebido em apoteose, tendo inclusive direito a uma espécie de desfile triunfal pelas ruas da Capital – medidas as respectivas distâncias, naturalmente. Depois iniciou um périplo pelas capitais da Europa, Londres, Paris, Berlim, onde, com grande divulgação mediática, fez diversas palestras e colóquios nas respectivas Sociedades de Geografia.
Já novamente, em Moçambique, é exonerado das funções de Comissário Régio e volta à Metrópole.
A 28 de Setembro de 1898, o herói Mouzinho de Albuquerque assume funções como oficial às ordens do Rei e é designado ajudante de campo efectivo d’El-Rei Dom Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e nomeado pelo Rei para a mais importante das tarefas, a de aio do Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, então com treze anos, para a sua instrução passar a ter mais uma componente militar e a ser uma preparação para reinar.‘Faz dele um Rei’, disse-lhe Dom Carlos. Ficou célebre a Carta que Mouzinho escreveu então ao Príncipe Real e Duque de Bragança: ‘Quando Vossa Alteza chegou à idade em que a superintendência da sua educação tinha que ser entregue a um homem houve por bem El-Rei nomear-me Aio do Príncipe Real (…) ‘. Começam uma viagem pelo Reino, para conhecer o Povo e os seus anseios. Porto, Penafiel, Braga, Viana do Castelo, quase todo o Norte do País ficou a conhecer e a admirar o seu Príncipe Real e Mouzinho de Albuquerque.
Mas as intrigas da Corte não eram o terreno belígero indicado para o temperamento de Mouzinho, que apontara os problemas da política da época e tecia fortes críticas à partidocracia vigente que com o clima de indecisão política agonizava a própria Monarquia. Este ambiente repugnava o próprio Dom Carlos I:
‘Governe-se com o Parlamento, é esse o meu maior desejo, mas para isso é necessário que ele também faça alguma coisa. É preciso obras e não palavras. De palavras, bem o sabemos, está o País farto. Não quer discussões políticas das quais pouco ou nenhum bem lhe virá, o que quer é que se discuta administração, que se discutam medidas que lhe sejam úteis. Assim poderá o País interessar-se pelo Parlamento; com discussões de mera política, interessará os amadores de escândalos vários, esses sim, mas fará com que a parte sensata e trabalhadora do País se desinteresse por completo daquilo que para nada lhe servirá.’, escreveria El-Rei, o que levaria ao célebre decreto que permitia a João Franco governar sem o periclitante Parlamento, com as consequências trágicas que se conhecem.
A inveja dos áulicos e dos políticos tecem então uma teia de suspeições e maledicências a que o carácter do herói Mouzinho de Albuquerque não foi imune. Atribuíram-lhe as mais vis mentiras, especialmente, por causa da amizade honesta com a Rainha Dona Amélia que reconhecia os desmandos dos partidocratas e dos cortesãos e via nele reminiscência da rectidão alva dos antigos cavaleiros-heróis portugueses.
Porém, os inuendos, as detracções, as calúnias e as infâmias avolumam-se e acossam o herói contra uma posição para si insustentável, e, impossibilitado de lidar com toda essa insídia, quer pelo seu carácter de homem impoluto quer pela sua própria espartana formação militar, opta pelo suicídio – como os grandes romanos que renunciavam a morrer corrompidos pela lassidão do poder e do sistema, mas faziam desse gesto de oferecer as veias ao pugio o derradeiro de uma honra que não estavam dispostos a perder ou sequer ceder.
8 de Janeiro de 1902… morre, em Lisboa, Mouzinho de Albuquerque, perante a consternação geral do País que chora a partida do Herói de Chaimite.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica

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