segunda-feira, 15 de junho de 2020

"A Expansão Quatrocentista Portuguesa"

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Palavras do Professor Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011), a mente que melhor estudou os Descobrimentos e a Expansão portuguesa, sem preconceitos, sem anacronismos e sem veneração a seitas, fés e partidos. As palavras do Professor parecem ter sido escritas para os dias de hoje:

"Mas a descolonização posterior à Segunda Guerra Mundial teve inesperada consequência para a historiografia. (...) Entenderam que a história dos descobrimentos, conquistas e colonizações e a etnografia feitas pelos antigos senhores não eram mais do que a tentativa de justificar o seu domínio sobre as populações indígenas e a espoliação de suas terras e bens. Acusaram os Europeus de introduzirem a escravatura, forma última de degradação, a fim de desenvolverem as economias de exportação - e no entanto todas essas sociedades já antes tinham escravos, o tráfico florescia, e depois só pôde florescer porque os régulos vendiam os seus súbditos ou cativos. (...) Exige-se, no entanto, que os antigos colonizadores, ridiculamente, peçam desculpas pelo passado, e apresenta-se uma visão desse passado com uma Idade de Ouro a anteceder a chegada dos intrusos e a Idade de Ferro a viver-se após essa intrusão. Chega-se ao ponto de considerar que a declaração dos direitos do homem e do cidadão e a democracia não representam um passo gigantesco na evolução da humanidade, antes não passariam de hipócrita artimanha para esconder as pretensões imperialistas. (...)

"Uma História isenta, e toda a História, investigação conduzida cientificamente, não pode deixar de o ser, esbarra hoje com o alastrar da intolerância e do fanatismo, escudado no sagrado, sedento (de novo!) de destruir os inimigos da Fé - e inimigos são até os que outra Fé professam. Não vale a pena negar o choque de civilizações, infelizmente demasiado evidente, cada uma delas fechando-se à mudança e recusando o intercâmbio. Orgulhosa da sua verdade absoluta que não desiste de impor à sociedade de acolhimento mesmo quando só representa uma minoria."

Fonte: Nova Portugalidade

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