quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A PRAÇA DO IMPÉRIO

Lá se vai a Praça do Império: mais uma pouca vergonha da Câmara Municipal "costeira"
 
Profunda e arrogantemente imbecil, o tal Zé que não faz falta alguma, alegadamente escarra mais umas tantas sandices a respeito do património que "urge não preservar". Segundo aquilo que o texto do Público alega, para esta coisa ..."os brasões são sinais do colonialismo". Refere-se ao simulacro de brasões que  só com muita imaginação turística, ainda conseguem passar por tal na Praça do Império.

Há muito desapareceram, apenas restando uns raquíticos vestígios que estão muito longe daquilo que os canteiros durante décadas mostraram aos visitantes daquela zona da capital. A verdade é outra, pois uma rápida passeata pelas imediações, é mais que suficiente para verificar-se a progressiva degradação de todo o conjunto. O jardim  não passa de um baldio semi-abandonado. Fonte luminosa? Onde? Quando, em que dias? A passagem subterrânea sempre sujíssima, borrada com porcarias garatujadas. O Padrão dos Descobrimentos, enegrecido. O prolongamento arrelvado em direcção à casa oficial do Sr. Silva das marquises, com obras de Sta. Engrácia, papelada por recolher; a prenda tailandesa, desprotegida e à mercê da gandulagem da Urban "Art". A lista a cargo da incompetência camarária é vasta, perfeitamente safernandizada e bem ao gosto salgado-costista.

A obliteração de uma História ainda bem presente e por sinal vivida in loco - na África e na Ásia - por uma boa parte da população portuguesa, deveria então ser acompanhada pela destruição de outros elementos do extinto império. Nem as palmeiras lisboetas escapam, agora condenadas pela praga de um mortífero besouro ao qual a CML não prestou qualquer atenção. Assim sendo, há que demolir o Mosteiro dos Jerónimos, erguido para comemorar a gesta no Oriente e que para cúmulo, também ostenta catatuas brasileiras, esferas armilares, brasões reais e túmulos dos Aviz que devem ser imediatamente despejados "à francesa-St. Denis" pós-1789; a Torre de Belém, carregada de símbolos imperiais manuelinos; há que mandar picar as Armas do Reino em todos os principais edifícios públicos - os únicos de valor, foram erguidos pela Monarquia -, assim como na generalidade de palácios e mosteiros, na estátua de D. José, no Arco da Rua Augusta e na Estação do Rossio, nos chafarizes e fontanários, nas igrejas, actuais museus, etc. Também podem queimar os coches, já que o "novo espaço" ainda está e previsivelmente ficará às moscas. Há quem ainda não tenha percebido que o império outrora exposto em mapas nas salas de aula, continua a existir de outra forma. Arribou à Europa, desde a nossa alimentação até às músicas que ouvimos, às gentes que connosco se cruzam nas ruas de uma Lisboa que há cinco séculos habituava-se às partidas e às chegadas. As pedras e os símbolos de outrora, são, ao contrário daquilo que um passageiro autarca possa julgar, elos que não se rompem por apetites ou isoladas manias. 

Esta é uma das piores Câmaras Municipais de sempre e dela Lisboa guardará triste memória. Comparado com esta gente, o catastrófico Abecassis era um Ludovice, um Mardel. 

Interessante seria, se este bufante indivíduo fosse obrigado a indemnizar o município pelos milhões de prejuízo que causou, quando politicamente embargou a abertura do túnel do Marquês.

Nesta republiqueta de sarjeta a impunidade dita a regra, é imperial. Imperial, mas sem brasões.

 ***
Adenda: há algumas semanas, levei uns amigos estrangeiros a passear em Belém e diante dos fanados brasões, expliquei-lhes o que ali existira e o que significavam. Ficaram surpreendidos pelo desleixo e obliteração da história e ainda lhes garanti que a situação não era recente, tinha muitos anos. No entanto, a verdade é que eu, como tantos outros, deveria ter agido atempadamente, alertando a Câmara e os jornais. A culpa também é minha, pois nada fiz e critico agora, aquilo que podia ter sido evitado. Realmente, é fácil falar.

Estamos uma vez mais perante um facto consumado, até porque o grunhido de resposta dado pelo Zé ao jornalista, leva a questão para o patamar da política. Já ganhou o caso, pois agora com ele terá os mesmos incondicionais de sempre. Querem apostar?

Nuno Castelo-Branco

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