O Culto da Arte era, para além das Suas responsabilidades como Monarca, o interesse maior para Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Luís I. ‘Escrevia muito, traduzia obras estrangeiras, e desenhava; mas o seu entusiasmo ia sobretudo para a música. Tinha uma grande colecção de violinos. E um bom mestre-capela, Manuel Inocêncio dos Santos, autor do hino do monarca’, escreveu Fontes Pereira de Mello.
Desde muito cedo, o rigor na educação do Príncipe e a disciplina para a aculturação e aprendizagem marcaram a vida de Dom Luís, então Duque do Porto – título reservado ao 2.º Varão dos Monarcas Portugueses -, como se pode constatar numa nota íntima do Diário de Viagem do próprio, datada de 14 de Dezembro de 1846: ‘Levantei-me às 7. Vim acabar de preparar a minha lição d’alemão; estive com o mestre d’alemão; até às dez menos um quarto fui para o Viale [professor de Filosofia], a lição foi recapitulada da ethica, e a história da 7.ma
Cruzada, recreação até ao meio-dia. Ao meio dia vim ler de alguns instrumentos que tenho que mandar vir. À uma hora estive tocando rebeca com o Manuel Inocêncio [professor de Música], às duas horas fui para o jardim; às duas horas vim preparar a minha lição d’inglez e trigonometria espherica. Jantámos às 7. Luiz’.
Enquanto infante, ainda longe de pensar vir a ser Rei, Dom Luís serviu na Marinha, iniciando a Sua carreira em 1846, como guarda-marinha, e exerceu o seu primeiro comando naval em 1858, visitando as colónias africanas portuguesas. A par da carreira naval, Dom Luís dedicava-se à sua paixão pela música executando com mestria o violoncelo, instrumento com que animava os saraus do Paço Régio.
De Dom Luís, são variadíssimos os seus atributos desde criança: línguas (falava e escrevia alemão, francês, inglês, latim, etc.), desenho e pintura, esgrima – na qual surpreende o seu mestre d’armas Henri Petit -, equitação e a música para a qual mostrava especial engenho desde muito jovem. O professor de Música dos Príncipes – prole de Doma Maria II e de D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha – era o conceituado Manuel Inocêncio Liberato dos Santos por recomendação da antiga regente a Infanta Dona Isabel Maria. O Mestre encontrou no discípulo Dom Luís, um aluno especialmente dotado musicalmente, o que foi comprovado nos exames públicos que o Duque do Porto prestou em 1846 e nos quais foi aprovado Com Louvor. Também os serões familiares eram animados por Dom Luís ao piano ou ao violoncelo e com a voz de tenor do pai D. Fernando II.
Dá-se uma reviravolta, com a morte de Dom Pedro V, e Dom Luís volta já Rei da Sua viagem à Bélgica onde acompanhou a irmã Dona Antónia e o cunhado Príncipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen.
Já Rei e já casado, o Reinado de Dom Luís I assiste aos melhores momentos da Arte em Portugal: na literatura surgem os nomes maiores como Eça de Queiroz, Antero de Quental, Camilo Castelo-Branco, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Alexandre Herculano, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, entre outros não tão grandes. É a época dos ‘Vencidos da Vida’ e das ‘Conferências do Casino’! É o tempo, também, do apogeu da pintura e escultura com Malhoa, Columbano e Rafael Bordallo Pinheiro, Henrique Pouzão, Soares dos Reis, Silva Porto, Teixeira Lopes, Alfredo Keil.
Dom Luís I ao gosto e grandeza da época não deixa os Seus créditos por mãos alheias: organiza uma enorme e distinta colecção de Pintura com que institui a Galeria de Pintura no Real Paço da Ajuda, na ala norte, e que franqueia ao público que pode visitar a colecção aos Domingos.
Também a Sua erudição não sofre com as novas funções de Servir a Nação como Rei. Sem as descurar, naturalmente, a música – até como escape – tem um papel preponderante na vida do novo Rei: compõe uma Missa para violoncelo, uma Barcarola e uma Avé Maria que o próprio Rossini elogia, pelo que não raras vezes comporá obras dedicadas ao Rei de Portugal, Dom Luís I.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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