quarta-feira, 6 de maio de 2020

El-Rei D. Carlos - Carreira Militar

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé e sapatos


Dom Carlos nasceu já na qualidade de príncipe herdeiro da Coroa de Portugal, pelo que recebeu desde cedo os títulos oficiais de 4.º Príncipe Real de Portugal e 21.º Duque de Bragança e Ministradas as primeiras letras, passou a acumular a aprendizagem das mais variadas disciplinas e áreas em que se distinguia – como a pintura e a ciência -, sempre summa cum laude, com a instrução militar. Como tutor de Dom Carlos de Bragança, El-Rei D. Luís nomeou o tenente-coronel de engenharia Gromicho Couceiro e para a equitação, o escolhido foi o general Vito Moreira. Em pouco tempo seria atribuído a D. Carlos o posto de comandante honorário do Colégio Militar. Aperfeiçoou a esgrima e ainda mais o tiro, no qual foi reconhecidamente, exímio. Em 28 de Setembro de 1879, D. Carlos é nomeado guarda-marinha e ainda alferes do Regimento de Lanceiros 2 da Rainha.


O Duque de Bragança começou então a Sua preparação para Reinar, para ser o Chefe Supremo da Nação o que implicava ser o Comandante Supremo do Exército de Terra e Mar e conheceu e privou com os Ministros da época. Várias vezes recolheu ensinamentos de estratégia militar do General de engenharia e Ministro da Guerra o Conselheiro Caetano Pereira Sanches de Castro que fora membro da Comissão da Defesa de Lisboa e dos seus fortes - algumas das famosas linhas de Torres -, membro da Comissão incumbida de apresentar o plano geral das obras de melhoramento da Capital, sendo-lhe confiada pessoalmente a apresentação do plano geral das obras de defesa do Porto de Lisboa. O Conselheiro Sanches de Castro havia sido o Director-Geral das Fortificações e Presidente da Comissão de Defesa que formulou os projectos, considerados excepcionais, das baterias do Bom Sucesso, do Forte de São Julião da Barra e dos redutos de Sacavém e Alto do Duque. Então esse “curso” de estratégia com o Ministro da Guerra General Conselheiro Sanches de Castro haveriam de ser muitos importantes para Dom Carlos e para a Sua carreira militar, que foi, aos 21 anos, promovido a capitão de Lanceiros 1.


Já casado com a Princesa Maria Amélia de Orleães e Bragança, e com o posto de tenente-coronel, em 1887, Dom Carlos é nomeado Presidente da Subcomissão de Defesa Marítima da Barra do Tejo e da Cidade de Lisboa, onde demonstrou de forma inequívoca os seus vastíssimos conhecimentos militares e inteligência estratégica e que culminaria na publicação da obra de referência: A Defesa do Porto de Lisboa e a Nossa Marinha de Guerra, e que haveria de ser aprovada unanimemente pela Comissão de Defesa.


A Comissão Superior da Guerra entendeu ser obra de antologia e considerou-a como Anteprojecto Geral da Organização da Defesa do Porto de Lisboa e que seria obra de referência para todos os vindouros estudos e projectos concernentes à defesa da barra do rio Tejo.
O brio militar mereceu-lhe a promoção a coronel e a nomeação para membro da Comissão Superior da Guerra.


Quando a vida do Rei seu Pai chegou ao fim, D. Carlos, como foi projectado e educado para isso, foi automaticamente alçado Rei prolongando a Dinastia e dando continuidade à chefia do Estado permitindo uma evolução - sem quebrar a linha - fruto da substituição geracional. O Príncipe hereditário foi, assim, preparado e habilitado para Reinar assimilando conhecimentos e as mudanças da sociedade: o novo Rei era fruto de um longo trabalho de preparação política, militar, técnica e cultural para Comandar da melhor forma a Nação que, assim, encarnará e representará como ninguém.

‘Que é a história, senão a vida que continua?’, escreveu Júlio Dantas.

Pela profundez do raciocínio e pelo singular saber de quem acumulava iluminação nas mais diversas áreas do conhecimento, superiormente preparado para a série de tarefas que advêm com o ofício de Reinar, El-Rei era não só o principal recurso moral, mas, também, o último recurso executivo, pois activo e bom trabalhador, com qualidades de inteligência e erudição, o mais bem apetrechado cientificamente, e cuja profunda formação militar habilitava a ser efectivamente o Comandante Supremo e era na maioria das vezes o único capaz de solver os conflitos e entraves que empenavam a administração executiva do Estado.


O Rei era efectivamente o General dos Generais e o Almirante dos Almirantes, aquele que fazia a Guerra e decidia a Paz, e assim como era apanágio dos Reis, tinha os postos privatísticos do Rei de Portugal: Generalíssimo ou de Marechal-General do Exército e Almirante-General da Armada.
O Rei era o Português mais bem preparado e educado e o mesmo fez com seus filhos D. Luís Filipe, Príncipe Real e Duque de Bragança e o Infante Dom Manuel, então, Duque de Beja, que tiveram o tenente-coronel José de Castro como preceptor de balística, táctica e topografia, e, a equitação fazia, naturalmente, também, parte da educação dos Príncipes.


Dom Luís Filipe assentou praça de tenra idade; El-Rei Dom Carlos I foi atribuindo, ainda, ao Príncipe Real e Duque de Bragança, postos do exército, como no Esquadrão de Lanceiros d’El-Rei, Regimento de Cavalaria nº 2 e nomeou-o ainda Comandante honorário do Colégio Militar. Dom Luís Filipe ocupou os postos de oficial às ordens do Rei, alferes em 1902, tenente em 1906, capitão em 1907 e os Regimentos de Cavalaria n.º 8 e de Infantaria n.º 18 carregavam às ordens do Príncipe Real.


Aos treze anos do Príncipe Real é nomeado Seu aio o herói Mouzinho de Albuquerque, e a sua instrução passou a ter uma componente ainda mais militar e a ser uma verdadeira preparação para reinar. Com a morte de Mouzinho é nomeado como aio do Príncipe Real o coronel Francisco da Costa.
Já o infante Dom Manuel, que aos seis anos já falava e escrevia em francês, estudou línguas, história e música com o professor Alexande Rey Colaço, e, em 1907, iniciou os seus estudos de preparação para ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir carreira na Marinha. Após uma estadia de alguns dias em Vila Viçosa, com toda a família, havia regressado mais cedo a Lisboa precisamente para se preparar para os exames da Escola Naval, tendo ido esperar os pais e o irmão ao Terreiro do Paço e eis que o destino de todos foi interrompido pelo terrível e terrorista Regicídio que a Dom Carlos I e a Dom Luís Filipe veio arrancar tão cedo à vida e a Dom Manuel baralhar e voltar a dar noutra direcção. Dom Manuel II viu-se alçado Rei.


Agora, num exercício de imaginação, façam-se as devidas comparações entre o Ontem e o Hoje!

Miguel Villas-Boas 

Sem comentários:

Enviar um comentário