terça-feira, 19 de maio de 2020

O Tratado de Windsor: 634 anos (1386-2020)

A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas sentadas


A mais antiga aliança diplomática em vigor, o Tratado de Windsor foi assinado no dia 9 de maio de 1386, na Casa capitular da Capela Real do Palácio de Windsor. Estavam presentes, como plenipotenciários portugueses em representação de D. João I, o chanceler Lourenço Anes Fogaça e o Mestre da Ordem de Santiago Fernando Afonso de Albuquerque, e como ingleses, em representação de Ricardo II, os cavaleiros Richard Alberbury e John Clanowe e o doutor Richard Ronhale.

Dispõe o primeiro artigo no sentido de que, a fim de assegurar «o bem público e tranquilidade dos Reis e dos vassalos e dos dois Reinos», seria estabelecida uma «liga, amizade e confederação geral e perpétua», inclusive com os respectivos aliados. Para além desta cláusula, sem dúvida fundamental, contêm-se no tratado outras pelas quais se oferece segurança e capacidade de comerciar aos naturais dos dois reinos, assim como se veda aos mesmos qualquer auxílio a inimigos. Foi também previsto que os herdeiros e sucessores dos reinos de Portugal e da Inglaterra fossem «obrigados a jurar e a renovar, ratificar e confirmar as suas alianças».

Testemunho de uma aliança seis vezes secular, o Tratado de Windsor não foi, contudo, o primeiro instrumento diplomático a ser formalizado entre Portugal e Inglaterra. De facto, e excluindo as relações de forte cooperação militar facilitadas pelos ingleses no que à conquista de Lisboa diz respeito, o primeiro tratado anglo-luso data de 1353, reinando D. Afonso IV em Portugal e Eduardo III em Inglaterra. Consistiu, essencialmente, no estabelecimento de um acordo comercial durante 50 anos. Não obstante, vinte anos volvidos, no seguimento de dificuldades políticas, o rei D. Fernando enviava novos plenipotenciários para negociar um tratado de «verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua paz e amizade, união e aliança» com Eduardo III de Inglaterra, assinado no dia 16 de junho de 1373.

Seguiu-se o Tratado de Windsor, já referido, e só no século XVII é que voltariam a ser formalizados novos acordos, tais como o Tratado de Whitehall, de 1661, que estabelece o casamento de D. Catarina de Bragança com Carlos II. Ficou célebre o discurso de 12 de Outubro de 1943, do primeiro-ministro britânico Winston Churchill à Câmara dos Comuns, no qual citou, com total impassibilidade e grande espanto dos presentes, todo o rol das datas dos antigos tratados anglo-lusos – a velha aliança ia ser mais uma vez evocada a fim de negociar com o Governo português um acordo de facilidades no Açores, para efeito da guerra submarina que então era travada.

Nuno de Abreu e Lima


Fonte: Nova Portugalidade

Sem comentários:

Enviar um comentário