quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

MONSANTO



Cadernos Templários                                                                                     Julho/Setembro 2008






A Traços Largos – MONSANTO * / **



Monsanto

Monsanto, outrora designada por Monte Santo, é uma aldeia de beleza singular e de contrastes entre o presente e o passado.
Com os seus dezoito hectares, encontra-se instalada na encosta de uma elevação escarpada do monte que impetuosamente irrompe da extensa planície tornando-se no perfeito exemplo da proporcionada junção da obra humana com a natureza.
Sendo um local muito antigo, com vestígios de presença humana desde o Paleolítico, é naturalmente recheado de muitas lendas que ainda perduram na memória dos populares.
Na falda do monte, podemos encontrar vestígios arqueológicos de um castro Lusitano e de villae e termas romanas no campo de S. Lourenço.



Capela de S. Pedro de Vir-a-Corça
Antes da povoação, encontra-se a Capela de S. Pedro de Vir-a-Corça ou de S. Pedro de Vila Corça, de construção granítica (séc. XII), e que ostenta uma cruz rosácea.
Já na aldeia, perto da Igreja da Misericórdia (séc. XVI), podemos apreciar a Torre de Lucano (séc. XIV), que ostenta orgulhosamente uma réplica do galo de prata com que foi galardoada em 1939, ao ter conquistado o título da aldeia mais portuguesa de Portugal.


Um pouco mais à frente deparamos com a casa onde viveu o escritor Fernando Namora, enquanto por ali exerceu medicina. Prosseguindo caminho, passamos por lojas de artesanato onde não faltam as célebres marafonas e um pouco mais adiante, sentimo-nos transportados no tempo ao depararmos com casas de granito que parecem ter nascido das rochas e, recordamos as palavras de Cardoso Mata:
Nunca se sabe em Monsanto/Que as águias roçam com a asa/Se a casa nasce da rocha/Se a rocha nasce da casa.
 
Continuando, enveredamos por um caminho tosco e íngreme, onde o silêncio só é quebrado pelo ruído dos nossos passos, o chilreio de um pássaro ou o barulho das giestas fustigadas por um lagarto alarmado com a nossa presença.
Após mais algum esforço, apresenta-se subitamente ante o nosso olhar atónito uma mole de muralhas assentes num maciço rochoso, conferindo-lhe uma forma irregular. Por fim o castelo, que mais parece ser obra de titãs do que executada por mãos humanas, tal é a altura e espessura das paredes!
 
Erguido cinquenta anos antes que a fortaleza de Castelo Branco, o castelo de Monsanto, de seu nome Gualdim Paes, seu restaurador, fazia parte da estratégia de conquista do vale do Tejo aos mouros, pertencendo à primeira ocupação templária, enquanto Castelo Branco pertenceu à segunda e definitiva progressão.

Conquistada no decurso do ano de 1165, a fortaleza após reconstruída e repovoada, foi doada por D. Afonso Henriques ao seu protegido e mítico Procurador da Casa do Templo em Portugal, Dom Frei Gualdim Paes, vindo a receber do mesmo rei o primeiro foral em 1174, posteriormente confirmado por D. Sancho I em 1190 e mais tarde por D. Afonso II. Em 1510 D. Manuel outorga-lhe novo foral e eleva Monsanto à categoria de vila.
Embora a Ordem do Templo tivesse mandado reedificar a fortaleza e as muralhas em 1293, dos sete torreões que intercalavam a sua cerca, pouco resta.

Ao entrarmos neste impressionante castelo, sentimos um silêncio quase religioso que nos impele ao sentimento de um profundo respeito por todos aqueles que construíram um território a que podemos chamar Pátria.
 

Ruínas da Capela de São Miguel

O acesso ao castelo, com três recintos, portas a escadarias, faz-se pela casa do Guarda.
Num dos recintos encontra-se a torre de menagem (onde existiu a Capela de Santa Maria do Castelo), a cisterna, a Capela de Santiago e a porta da traição (assim designada para em caso de cerco, os sitiados pudessem desferir ataques por surpresa ao inimigo).
Ao lado do castelo, mas intramuros, podemos apreciar as ruínas da Capela de São Miguel, um templo românico de pedra de granito, que ainda conserva a porta axial de arco de volta perfeita com quatro arquivoltas e com motivos decorativos nos capitéis. Ao seu redor, encontram-se várias sepulturas escavadas na rocha.
A alguma distância e sobre uma rocha, eleva-se uma torre sineira com dois arcos geminados de volta perfeita.
 Fora de portas, descobrimos a torre de vigia (Atalaia) de planta quadrangular (séc. XVI), a que deram o nome de Torre do Pião.

Submetido a um programa de intervenção, muito deste castelo se poderia recuperar.
Ferido por uma explosão de pólvora e desgastado pela acção do tempo, este colosso continua firme no cumprimento do seu desígnio; lá do alto, mantém o seu olhar protector sobre a velha Egitânia que placidamente dorme a seus pés.

“Ama os Castelos. São monumentos de Religião, de História, de Arte e de Lenda, legado dos teus maiores. Representam a Pátria”.
J.R. de Legisima (Espanha)


*Consulta: “Castelos Templários da Beira Baixa de António Lopes Pires Nunes”.

**++Fr. João Duarte – Grande Oficial/Comendador Delegado da Comendadoria Sta. Maria do Castelo de C. Branco    

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