Com a divisão do Império Romano, em 395 d.C., integrada no Império Romano do Oriente, a Grécia começou a ser flagelada pelas investidas de inúmeros povos bárbaros, como por exemplo as hordas hunas. As arremetidas bárbaras devastam a Hellas e mergulham-na na miséria, por isso em troca de apoio na luta contra os bárbaros, a república de Veneza, senhora de uma portentosa Marinha, recebe diversas bases comerciais que depois expande. Com as cruzadas junta-se uma nova variável à confusão: os senhores francos que passam a reinar governando pequenos reinos nessa Península grega que é constituída por mais de 2.000 ilhas, dividindo assim, com Veneza, o território helénico, que só aparentemente se encontrava sob suserania bizantina.
Mas começa a expansão do Império Otomano que culmina com a queda de Bizâncio em 1453 e de Atenas em 1456. Nesse 28 de Maio de 1453, Constantinopla é conquistada pelo Império Otomano e cai o Império Romano do Oriente onde estavam incluídas as regiões da Hélada que acabariam por ser conquistadas uma após outra, muito pela acção da frota do pirata Barba Roxa que chegou mesmo a almirante da armada turca.
Porém, nunca os gregos se adaptaram à dominação turca que os reduzira praticamente à escravidão, e desde o início lutaram pela sua independência, mas não por uma Nação grega, pois não havia um conceito de nacionalidade grega. Após cerca de quatrocentos anos de domínio opressivo turco, nas últimas décadas do século XVIII, a Czarina da Rússia, Catarina a Grande decidiu promover a Causa dos gregos que tal como os russos eram cristãos ortodoxos. Apesar da recusa dos países ocidentais em colaborar com as insurreições das antigas províncias do comummente chamado Império Bizantino contra o Império Otomano, na região dos Balcãs começaram a nascer os primeiros eivos de liberdade. Mas o que mais contribuiu para essa ideia de libertação da Grécia foi um movimento cultural que defendia o renascimento do clássico grego, e a partir desse movimento diversos europeus fizeram eco das aspirações gregas. A Sociedade Filomusa, em Viena, era apoiada entre outros pelo Tzar Russo e pelo Rei da Baviera. Mas o momento crucial para as aspirações gregas foi a visita de Lorde Byron à Grécia. Byron que tivera uma educação refinadamente clássica simpatizou de imediato com a causa grega e tornou-se seu encomiasta. O laureado poeta granjeou para a causa muitos outros aristocratas europeus e que se voluntariaram espontaneamente para combater ao lado dos cristãos orientais. É desta época o fascínio por tudo o que era grego, e a própria opinião pública se deixou convencer fosse pela propaganda de Byron fosse pelas antiguidades clássicas gregas que enchiam os museus ingleses e franceses. Em Abril de 1824, dá-se o acontecimento decisivo para a libertação da Grécia: a morte de Lorde Byron em Messolóngi -que acabaria por cair nas mãos dos turcos. A opinião pública, consternada, pressionou as potências ocidentais a intervir e as armadas inglesa, russa e francesa, destruíram a esquadra turca em Outubro de 1827, em Navarino, preparando o caminho para a independência. Em 1829, a Grécia conquistou a sua autonomia através do Tratado de Adrianópolis. O Conde Capo D’Istria parecia vislumbrar-se como o líder para a nova Grécia, mas o seu assassinato levou as potências europeias a aplicar o regime de Monarquia para a recém-criada Nação.
Contudo, não havia Casas Principescas, Reais ou Imperiais nativas nos países balcânicos.
As Dinastias imperiais Comnenus e Paleólogo, que reinaram em Constantinopla, haviam-se extinguido aproximadamente quatrocentos anos antes. A Grécia, um dos novos países que surgiram das insurreições que perduraram por todo o século XIX, procurou, então, um príncipe estrangeiro para ocupar o trono vago.
Os gregos enviaram delegados a El-Rei D. João VI de Portugal para propor que o seu filho mais velho, D. Pedro, Duque de Bragança, se tornasse o primeiro Rei da Grécia independente. D. Pedro, como membro da Casa de Bragança, que por sua vez era um ramo português da Dinastia Capetíngea – lembre-se que o Conde Dom Henrique de Borgonha, pai do Rei Dom Afonso I Henriques de Portugal era bisneto de Roberto II Capeto, Rei de França, e sobrinho-neto de Hugo, abade de Cluny -, e como tal descendente dos Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo – a última Dinastia bizantina dos Palatinos que por intermédio de Miguel Paleólogo se apoderaram do Poder Imperial de Bizâncio e que com eles conheceu novo período de esplendor até à Queda de Constantinopla e do Império em 1453. Para o Reino de Portugal, a proposta era muito aliciante, pois o príncipe real era afastado do Brasil o que impediria a sua independência e ia, enquanto primogénito, na senda do prescrito nas leis fundamentais, sancionadas pelos antigos usos e costumes portugueses, reinar Nação estrangeira.
Só que o convite dos gregos com a oferta do trono heleno chegou a D. Pedro imediatamente após os eventos do Dia do Fico – a 9 de Janeiro de 1822, D. Pedro pronunciou a frase histórica: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!”
“O príncipe regente, porém, não traiu a confiança nele depositada pela nação brasileira, que o aclamaria seu Defensor Perpétuo. Amando verdadeiramente o povo da pátria que o viu nascer e tendo a intuição profunda da missão histórica que lhe seria dada desempenhar na terra bárbara e selvagem do Novo Continente, resistiu à vaidade de ostentar em sua fronte o diadema da pátria de Homero e de Péricles. E, assim, o Príncipe D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, recusou a coroa dessa Grécia imortal, berço maior da cultura humana”.
Com a declinação da Coroa grega por parte de D. Pedro, os gregos optaram em 1832 pelo Príncipe Otto da Casa de Wittelsbach como seu Rei.
Mas a história grega que se relaciona com Portugal não fica por aqui. Corria, ainda, o mesmo século XIX, mais precisamente 1862, quando os gregos se revoltam contra o seu Rei, Oto I, e depõem-no, oferecendo o trono grego, desta feita, ao Rei de Portugal D. Luís I que recusa diante da tarefa enormíssima que seria Reinar em duas Nações tão díspares e distantes uma da outra. Perante esta negativa, os gregos não esquecem Portugal e viram-se para o antigo Rei consorte Dom Fernando II, viúvo da Rainha Dona Maria II, nascido Príncipe Ferdinand August von Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry e como tal, também Capeto e Paleólogo, que, também, recusa o trono da Hélada. Então os gregos escolheram Jorge, Príncipe da Dinamarca, da Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, ramo principal da Dinastia de Oldemburg para ocupar o Trono vago.
Relativamente à Grécia ficou por aqui, mas, em Setembro de 1868, após um controverso reinado, uma revolução chefiada por Juan Prim depõe e expulsa a Rainha Isabel II de Espanha e a restante Família Real, e o governo provisório empossado, em 1869, não desejando implantar uma República oferece a coroa espanhola a Dom Luís I, numa tentativa de União Ibérica, mas que ia contra os ensejos do jovem Monarca de Portugal e dos Portugueses. Prim vira-se então para D. Fernando II destacando como enviado especial Ángel de Los Ryos, um famoso jornalista castelhano, portador de uma missiva secreta. Então, com quarenta e nove anos D. Fernando II estava com plena aptidão para suportar o peso de uma Coroa, mas a hipótese, mesmo que remota de uma Guerra entre as duas Nações, ou mesmo uma nova Guerra Civil entre partidários de uma União Ibérica e a maioria dos que o encarariam como traição e rejeitavam veementemente qualquer hipótese de agregação dos dois Reinos, leva a que D. Fernando também rejeite a oferta. ‘Non hay nada más difícil que hacer un Rey’, exclamaria Prim.
Mais tarde, depois do casamento morganático de D. Fernando com a antiga cantora lírica suiço-americana Elise Hensler, feita Condessa de Edla por outorga de Ernts II Duque reinante de Saxe-Coburgo-Gotha, e os anticorpos da corte à novel aristocrata, levam a que Prim volte à carga por intermédio do mesmo de Los Ryos, agora embaixador espanhol em Lisboa. Nova negativa de D. Fernando ao trono espanhol e a Prim. Mas desta feita, Dom Fernando propõe como candidato ao trono vacante do Reino de Espanha o seu primo, Príncipe Leopoldo de Hoenzollern-Sigmaringen, marido da Infanta Dona Antónia de Portugal. Perfila-se, então, uma portuguesa para Rainha consorte de Espanha. Não se verifica, pois a sugestão é rejeitada, mas como temido por D. Fernando, esta pretensão desemboca numa guerra: a franco-prussiana de 1870. Era isto que, primeiro Dom Luís I e depois D. Fernando II queriam, com as suas recusas, evitar para Portugal.
Mas o desfecho da história não perde, ainda que ténue, uma ligação a Portugal: o Trono do Reino de Espanha acaba por ser ocupado pelo Príncipe Amadeu de Sabóia, irmão da nossa Rainha Maria Pia, digníssima corsorte D’El-Rei Dom Luís I de Portugal.
Serve este artigo que relata estes episódios da nossa História para mostrar e demonstrar o enorme prestígio internacional – mesmo já no final do século XIX -de que os nossos Augustos Reis de Portugal gozavam junto das restantes Cortes e Nações europeias. Um tempo em que a pisada portuguesa era indelével. Tempo de Reis, claro!
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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