‘A antiga fascinação exercida nos espíritos pelo poder dos reis e poder dos exércitos tem sido igualmente atenuada pelo poder superior que modernamente se reconhece ter essa coisa impessoal chamada dinheiro’, escreveu o atento Ramalho Ortigão.
É verdade que nenhuma outra instituição causa e causava mais fascínio que a Real: o Rei é a encarnação da Pátria, da História de uma Nação milenar, que pelo engenho e pela conquista traçou as fronteiras na Península e pela imaginação e curiosidade das caravelas dilatou o Império.
Desventurados os Povos que não têm História, pois não ter História é quase não ter Nação; é quase não ter Pátria. Felizes, ao contrário, aqueles que têm História, e que têm um Rei para encarná-la; o Rei personifica a Nação e como tal tem o precioso dom único de encarnar a sua História que nos é dado o júbilo de a recordar naquela figura humana, o Rei é a nascente inesgotável e intensa das energias sociais e anímicas da Nação. Ali passavam 771 anos de Nação, de Reino; de Portugal que respira perto de nós, porque a cada passo que o Rei dá, sente-se atrás de si, o rastro da própria imortalidade da Pátria e, como tal, da própria perpetuidade de um Povo.
Foguetes a arrombar nos céus, faixas e bandeiras a pender nas árvores, mantas coloridas nas janelas, tudo sinais com que as multidões compactas acolhiam o Rei. Era a comunhão entre Rei e Povo, repristinação dos primórdios da nacionalidade organizada sob o modelo daquela Monarquia tão democrática; o Elo natural que só as revoluções, de uma minoria que se apropriou dos meios de força e coacção, conseguiu quebrar. O Rei é amado pelo Povo, mas temido e odiado pelos minúsculos do seu tempo, como o são aqueles cujo exemplo acorda remorsos e cuja palavra obriga a corar.
‘E cada página destas se devora com paixão, como se os novos se quisessem consolar da mediocridade inglória da república burguesa revendo, pela imaginação, as aventuras, as marchas, as vitórias, as fanfarras da epopeia imperial’, reiterava assim, esse fascínio, Eça de Queiroz in Notas Contemporâneas – Positivismo e Idealismo.
Efectivamente, nunca a criação republicana burguesa animará e fascinará o Povo da mesma forma que a Presença do Rei e nunca despertará uma exuberância emocional semelhante com qualquer matéria relacionado com a Monarquia.
Existe uma afabilidade transversal, difusa entre as pessoas que provoca um interesse atento e permanente a tudo o que são assuntos reais. Essa é a qualidade original e exclusiva da Realeza: garantir a continuidade da realização do projecto nacional. A mística real é fruto da relação instantânea e afinidade natural que se estabelece entre o Rei e o seu Povo, vínculo inquebrantável desde a Fundação.
A que razões atribuir, hoje, o desapego por este assunto principal, pois que por toda a parte onde existe Monarquia, prima o mesmo desenvolvimento? – Talvez que ao delírio aberrativo da «bola» que consome, totalmente, o dinamismo das idades naturalmente irrequietas e desvia as jovens atenções, do culto pelo Rei para o culto do esférico… foi trabalho hábil, esse, mas que neste País dado sempre a possíveis exageros, ameaça abafar o patriotismo bem orientado; orientado por um Rei.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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