Filipe Camarão, herói português
Henrique Dias, patriota luso, caudilho da Insurreição Pernambucana e cavaleiro da Ordem de Cristo
Elemento central na formação da nacionalidade, a diversidade étnica fez-se, também, carácter distintivo da expansão imperial portuguesa. Se podia ter-se erguido sobre o esmagamento dos povos que encontrou, o império português tratou, pelo contrário, de integrá-los na arquitectura do Estado. Assim foi na Ásia, onde eram as populações autóctones – a rede burocrática em que assentava o império era composta, em regra, por locais – o alicerce da presença lusa. No Brasil, hoje o mais importante Estado de língua portuguesa, a política de tolerância racial levada a cabo por Lisboa foi essencial para a formação da nação brasileira.
Disso singular evidência foi a participação – reconhecidamente determinante – de negros, índios e mestiços na defesa do Brasil aquando da agressão holandesa àquele território. Nos recontros de Guararapes, célebres por terem posto cobro ao estupro do Brasil pela WIC neerlandesa, as tropas lusas foram, com efeito, comandadas por Henrique Dias e Filipe Camarão, ambos portugueses de cor. Dias era um negro nascido na Colónia; já o seu o seu heróico companheiro, outro dos capitães da Insurreição Pernambucana, era um brasileiro de sangue ameríndio. Este último nascera em família tupinambá, tendo-se convertido à fé cristã devido ao labor evangelizador da Companhia de Jesus. Grata a nação portuguesa pelo seu inexcedível serviço, o Rei D. João IV fez de ambos fidalgos e cavaleiros da Ordem de Cristo. Veja-se, por isso, o fosso existente entre a sensibilidade portuguesa e e a imperante entre outros europeus, só libertos da cegueira racista no século XX. Entre nós, onde a cor nunca antes fora critério, o racismo dito científico só a partir do século XIX - resultado da exposição de Portugal a uma Europa prenhe de cientismo, positivismo e darwinismo - se vulgarizou.
Rafael Pinto Borges
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