sábado, 1 de abril de 2017

BAÇAIM, A CAPITAL DESCONHECIDA DA ÍNDIA PORTUGUESA

Foto de Nova Portugalidade.

Cedida a Portugal por Badur Xá em 1534, a fortaleza de Baçaim, na costa ocidental indiana, rapidamente se transformou num dos principais centros de actividade portuguesa no Índico. Após a haverem obtido, os portugueses renovaram-na, expandiram-na e apetrecharam-na com a mais moderna maquinaria de guerra. Já à sombra das fortificações, e para que de Baçaim se fizesse um centro comercial de primeira importância, ergueram um conjunto urbano imenso e que surpreendia pela complexidade e completude. 

Baçaim foi verdadeiramente, e talvez mais que qualquer outra localidade por nós erguida na Índia, uma cidade europeia em terra asiática. Feita de raiz onde antes só houvera mato, Baçaim era casa de grande número de portugueses chegados do Reino. Foi, e isso a distingue, planeada especificamente como centro urbano capaz de implantar a presença portuguesa, servir de base ao comércio que a Coroa lá mantinha e resistir a investidas inimigas. Em 1536, dois anos sobre a sua conquista, abriu-se lá uma igreja; três anos mais tarde, concluir-se-ia o forte de São Sebastião. Em 1547, fez-se a Igreja de São José que, renovada e aumentada em 1601, passaria então a coroar um conjunto que incluía um convento e um colégio. Outras igrejas, hospitais, conventos e colégios - eram dois, e ambos com currículo equivalente ao de uma universidade - apareceriam depois, marcando presença na cidade jesuítas, franciscanos e dominicanos. 

Enquanto capital da Província do Norte, segunda grande subdivisão do Estado da Índia no subcontinente, Baçaim atrairia repetidamente o interesse dos adversários de Portugal. Caiu em 1739 após longo cerco e em situação de claríssima inferioridade de homens e meios. Uma tentativa posterior de reconquista, ensaiada décadas mais tarde, seria violada e inviabilizada pela intervenção inglesa, que tomou para si a cidade antes que os portugueses pudessem recuperá-la dos maratas. Baçaim seria depois desprezada pelos britânicos, que prefeririam concentrar-se na expansão de Bombaim, e progressivamente abandonada pelos seus habitantes. As suas magníficas ruínas, contudo, continuam a testemunhar a grandeza da herança portuguesa na Ásia.

Rafael Pinto Borges

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