sexta-feira, 14 de junho de 2019

Ainda a 10 de Junho: o segredo da sobrevivência da Portugalidade


Com efeito - as estatísticas não mentem - Portugal realizou o impossível: sobreviveu quase um milénio no escalvado e quase improdutivo canto extremo ocidental da Europa, construiu o Brasil numa dimensão quase continental, resistiu à corrida ao continente africano e aí deixou cinco estados, manteve-se na Ásia até ao limiar do terceiro milénio, arrancou a ferros Timor dos braços da Indonésia muçulmana. Os povos revelam-se na adversidade. A grandeza de Portugal só se revelou quando se finaram as grandes gestas náuticas, as retumbantes vitórias militares e a riqueza da casas da Mina e da Índia. Quando o Império iniciou o seu ocaso, não foram nem os príncipes nem os eclesiásticos purpurados que mantiveram a vida nos Concelhos, que animaram os hospitais e as Misericórdias, que reuniram fazendas e sangue para refazer os panos de muralha. Até mesmo quando o inimigo sobre nós triunfou e quando por cavalheirismo de guerra permitiu que os Homens Bons reunissem família e pecúlio e zarpassem para terras portuguesas, nos mais pequenos rincões ficaram os pobres aos quais coube resistir silenciosa e teimosamente.

Resistir parece ser o segredo da longevidade portuguesa. Mal governados - por vezes, até, governados por irresponsáveis criminosos - os portugueses souberam transformar as mais clamorosas derrotas em vitórias testemunhais. Pessoas há que no transcurso das suas vidas mudaram três vezes de terra, só para se manterem em terra portuguesa. Lembro os goeses. Abandonaram Goa em 1961, saltaram o Índico e estabeleceram-se em Moçambique. Em 1975, novamente fizeram as malas e aportaram a Lisboa. Caramba, que outro povo é capaz de se sacrificar a tal ponto ?

Miguel Castelo-Branco




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