Muito antes da Fundação da Nacionalidade Portuguesa em 1139, e da Independência com o Acordo de Zamora em 5 de Outubro de 1143 e ainda antes do Condado Portucalense, a primeira entidade política da Península foi o Reino de Tartessos.
Apontado como tendo existido no século I a.C., este Reino situava-se no Sudoeste da Ibéria, e era apontado pelo latino Plínio-O-Velho como o Povo mítico da Ibéria. A Civilização Tartéssica com as suas origens no período final da Idade do Bronze, era uma cultura oriental autóctone com inícios no século VIII a.C.. A sua área principal foi o oeste da Andaluzia, no entanto depressa estendeu a seu predomínio até à costa leste da Península e, no que a Portugal concerne, até ao estuário do Tejo, com peculiar ocorrência no Algarve.
A evolução deste Reino deve-se aos contactos multilaterais com outros povos, designadamente os Fenícios, que eram originários da região que é hoje o Líbano. Sem Estado central, os fenícios organizavam-se em Cidades-estado, muito normal na época. Com a terra pouco propícia a ser cultivada, cedo se dedicaram ao comércio, sobretudo naval, aproveitando a excelente localização geográfica e a navegabilidade do grande lago que é o Mediterrâneo. Ao longo do nosso mar interior fundaram inúmeras feitorias, entre as quais a lendária Cartago. Foi daí que começaram a desenvolver o comércio com a costa meridional da Península, onde se situava o Reino Tartéssico. Foi a partir de Tartessos que os fenícios expandiram as suas rotas comerciais estabelecendo contacto com toda a Península Ibérica. A influência tartéssica será duradoura no sul de Portugal até ser substituída pela forte presença celta, resultado de processos migratórios dos Celtissi, para esta zona.
Passado o reino de Tartessos à condição de mito, e com o declínio da civilização fenícia uma nova potência emergiu no mundo conhecido: Cartágo. Foi o comércio Púnico que pôs todo o Mediterrâneo a comerciar entre si.
Porém, e porque o devir da história é constante, começaram as Guerras Púnicas, com a emergente Roma a tornar-se pouco a pouco a senhora do mundo.
Foi na sequência da Segunda destas guerras que em 200 a.C. os romanos começaram a conquistar a Península Ibérica aos cartagineses. Cartago delenda est. Assim à volta de 136 a.C. o Cônsul Decimus Junius Brutus conquista nesse processo a cidade de Cale.
Alguns historiadores têm defendido que os gregos foram os primeiros a assentar em Cale e que o nome deriva da palavra grega Kallis, "belo", referindo-se à beleza do vale do Douro. Outros, por causa do morro granítico da Pena Ventosa, defendem que deriva da palavra indo-europeia Kal (pedra); outros ainda, presumem que a palavra Cale veio da palavra latina para "quente". A principal explicação para o nome, porém, é que ele é um gentílico derivado do povo Castro que se estabeleceu na área da Cale. De facto, Cale não era mais do que o povoado da Sé do Porto, e era assim chamado porque o povo que habitava essa região era o Calaico.
O primeiro contacto dos Calaicos com outro povo, foi com os romanos na data acima referida, embora só em 74 a.C., com Perpena, tribuno lacticlávio (lugar-tenente) de Sertório, foi conquistada Cale; mas só depois das Guerras Cantábricas de Octávio César Augusto foi conseguido o domínio efectivo da região, também, a partir das quais, os romanos passaram a subjugar completamente a Ibéria a que chamaram de Hispânia.
Com o domínio romano veio a sua organização territorial em conventus e civitates.
A Callaeci (Calécia) ou Gallaeci depois Gallaecia (Galiza), tornou-se independente da Terraconense e abrangia todo o Norte de Portugal.
Cale tinha dentro da Calécia uma localização estratégica, pois, na região, todos os caminhos lá iam dar. Além de estar relativamente perto das maiores regiões de extracção aurífica, era aí que se situava um dos portos de maior navegabilidade do Douro, inclusivamente, com um cais.
Este Porto tornou-se de tal forma importante, diga-se fundamental, que ficou associado ao nome do povoado onde se localizava. Assim os romanos juntaram o designativo Portus ao nome Cale e rebaptizaram a civitates de Portus Cale.
Roma começa o seu declínio e por volta de 409 d.C. os Suevos transpõem os Pirenéus e instalam-se em toda a Península, mas principalmente nas áreas de Bracara Augusta, Portus Cale, Lugo e Astorga. Bracara Augusta, antiga capital romana da Gallaecia tornou-se tal-qualmente a capital da Diarquia Sueva. Depois foi a vez dos Visigodos que acabariam por conquistar o reino suevo em 584 d.C.
Originariamente Portus Cale, toda a região em volta da civitates passou depois a ser designada pela Monarquia Visigótica como Portucale, pois o latim vulgar variava de acordo com a origem geográfica. A denominação Portucale aparece pela primeira vez, no fim do século V, na Crónica de Idácio de Chaves.
E eis que vieram os Mouros e a parte sul de Portucale foi conquistada em 711.
Em 868, o galaico Vimara Peres, vassalo do Rei de Leão, Galiza e Astúrias reconquista a região entre Douro e Minho, incluindo Portucale, e funda o primeiro Condado de Portucale, assim designado para o diferenciar do restante território.
A presúria de Vimara Peres prosperou e Portucale foi governado pelos seus descendentes, até à derrota de Nuno II Mendes pelo rei Garcia II da Galiza na Batalha de Pedroso, em 1071.
Falecido Garcia II, em 1091, o Rei Afonso VI de Leão e Castela retoma a unidade dos Estados Paternos. Porém, intensificaram-se as acometidas dos Almorávidas o que precipitou a distribuição dos poderes militares e por esta altura os territórios passaram para a administração de Raimundo de Borgonha casado com D. Urraca, filha do Rei de Leão. Entregue ao Conde Raimundo, este, não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo - tendo perdido Lisboa que fora cedida aos Reis de Leão pelo califa de Badajoz. Assim Afonso VI decide fortalecer ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta ao recém-chegado D. Henrique de Borgonha.
Dom Henrique, pai d’El-Rei Dom Afonso I Henriques, era o 4.º filho de Henrique de Borgonha, pertencendo portanto à família ducal da Borgonha, e assim sendo bisneto de Roberto I de França e sobrinho-neto do Abade S. Hugo de Cluny, e, irmão dos também duques Odo I e Hugo I.
D. Henrique, não sendo primogénito, fez vida como cruzado, sentindo-se atraído pelas zonas de maior perigo e daqui se compreende a sua vinda para a Península Ibérica, onde a Reconquista aos mouros era mais arriscada. Portucale estava sob domínio sarraceno desde 711, e em 868, o galaico Vimara Peres, vassalo do Rei de Leão, Galiza e Astúrias reconquista a região entre Douro e Minho, incluindo Portucale, e funda o primeiro Condado de Portucale, assim designado para diferenciar do restante território.
O nosso conde D. Henrique, que casara pelos trinta anos com D. Teresa de Leão - filha de D. Afonso VI de Leão e de Ximena Nunes – já antes do seu casamento se distinguira na fronteira sul da Península, no combate aos Almorávidas. Agora casado com a Infanta Teresa, e apoiado pelos interesses políticos da Ordem de Cluny, imiscui-se estrategicamente e com ambição na política no Reino de Leão e Castela, conquistando a sua pretensão poder junto da Corte leonesa.
A fim de aumentar a população, valorizar o seu território e consolidar a sua autoridade, D. Henrique deu foral e fundou novas povoações, entre elas a vila de Guimarães, onde fixou a sua habitação, num Paço, dentro do Castelo que ali fora edificado no século anterior, atraindo para ali, com várias regalias, muitos dos seus compatriotas francos. Vimaranes resultou de uma presúria de Vimara Peres e significa Quinta de Vimara (Peres) - ou seja era uma povoação, mas privada. Só com o Conde D. Henrique se tornou efectivamente uma Vila, pois o Conde atribuiu-lhe foral e, facto importantíssimo, para ser considerado "O Berço da Nacionalidade" foi aí ter sido estabelecido o centro administrativo do Condado Portucalense. Em 1095 era, também, já Senhor de Braga, ou seja, D. Henrique e sua mulher tinham a tenência dos territórios que abrangiam, Guimarães, Braga, Porto, Coimbra e Santarém. A 9 de Dezembro de 1097, em Compostela, D. Henrique intitula-se ‘Comes Portucalensis – Conde de Portucale’.
Com a morte de Afonso VI, D. Henrique age como Soberano de uma potência e território independentes.
Continuou a ilustrar-se pelas armas, e, em 1100, batalha com os mouros Almorávidas, em Malagón.
Em Setembro de 1104 estabelece com D. Raimundo um Pacto Sucessório em que reconhece este último como único herdeiro de Afonso VI e se prometem mutuamente amizade e assistência. Como contrapartida deste acordo, Raimundo promete a D. Henrique a cidade de Toledo, com parte do seu tesouro, ou, em alternativa, a Galiza. Neste pacto não há qualquer referência a Portucale. Em 13 de Setembro de 1107 morre Raimundo e no ano seguinte o infante D. Sancho que lhe deveria suceder. Em Portucale, D. Henrique continua a sua senda conquistadora, submetendo os mouros em Sintra.
Na cidade de Coimbra doa à diocese o Mosteiro de Lorvão usando o mesmo formulário de chancelaria que 15 anos antes fora usado pelo herdeiro do trono em acto análogo, o que evidencia, que a partir daquele momento começou a agir como Soberano de uma potência independente. D. Henrique tomou partido contrário a D. Urraca como herdeira de Afonso VI e, em 1110, na batalha de Campo de la Espina, vence as tropas de D. Urraca; em Novembro do mesmo ano dá-se a conferência de Monzón entre D. Henrique e D. Urraca; em Novembro do mesmo ano D. Henrique cerca D. Afonso I em Peñafiel. Este cerco foi desfeito pela intervenção de D. Teresa que convence o marido a retirar o apoio a D. Urraca enquanto esta não definir claramente os termos da aliança. Em Fevereiro ou Março de 1111, D. Henrique cerca D. Urraca, que entretanto fizera as pazes com o Rei de Aragão. Na Primavera deste ano o perigo espreita em Portucale perante a ameaça almorávida sobre o Tejo. No inverno deste último ano D. Henrique dominou territórios dependentes quer de D. Urraca quer de Afonso I, tais como Zamora, Astorga e Oca. Em 1112 faz a Paz com D. Urraca que, por sua vez, também a fizera com o filho.
Inesperadamente, D. Henrique falece, em Astorga, nos últimos dias (entre 24 e 29) de Abril de 1112, sem ver concretizada a aspiração de transformar o Condado Portucalense em Reino independente. Por sua determinação foi sepultado na Sé Catedral de Braga, e, durante a menoridade do seu filho o Infante Dom Afonso Henriques, a governação do Condado passou para a viúva Dona Teresa.
Em 1121, esta, auto intitula-se «Rainha», mas os conflitos com o Clero e a sua relação com o fidalgo galego Fernão Peres, a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, originou a insurreição dos Portucalenses e do próprio filho o Infante D. Afonso Henriques, invariavelmente afastados, por forasteiros, da gestão dos negócios públicos. O seguinte, já seria Portugal.
Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica
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