terça-feira, 7 de abril de 2015

EXCELENTE INTERVENÇÃO DO PROF. ANTÓNIO FILIPE PIMENTEL







O Observador pediu a algumas personalidades influentes, dos mais variados sectores e actividades que respondessem a quatro perguntas decisivas para o futuro colectivo do país. À pergunta: De que perfil precisamos na Presidência da Republica?

António Filipe Pimentel, Director do Museu de Arte Antiga, respondeu:

"Neste ponto estou em completo embaraço: sou monárquico, por rigorosa convicção intelectual, pelo que a questão se me afigura de índole rigorosamente sofística (com a devida vénia, claro), partindo do princípio de que a figura do Presidente da República terá algum impacte na reforma da estrutura política, da qual mais ou menos directamente emerge. O pobre senhor, qual ele seja, será sempre vítima das contradições internas do cargo/função: se interventor, contribuirá poderosamente para o aumento do clima de conflitualidade institucional; se colaborante apagar-se-á e será acusado pela oposição de conivência com o Governo e quebra da sua função arbitral (sobram os exemplos de uma e de outra, até com ritmos que configuram uma coreografia pré-determinada: colaborante no 1º mandato; interventivo e conflitual no último, sendo o caso presente atípico por alteração violenta das condições meteorológicas). Não lhe queria estar na pele…

Em tempos de bonança é um bom posto de pré-reforma política – mas em tempos alterosos, como os nossos…. Creio que o futuro mostrará, tarde ou cedo e não sabemos a que custo, o arcaísmo do modelo. Ao invés, sou um crente convicto na sociedade civil. É dela e só dela que haverá de emergir (assim necessitamos) a regeneração do corpo político. E isto só pode fazer-se no quadro dos partidos institucionais e “de regime” (que podem, todavia, não ser exactamente estes). É uma maçada e nada meridional — gostamos sempre de fundar as coisas outra vez — mas vai ter de ser assim se queremos salvar a democracia: ou melhor, se queremos construir uma verdadeira democracia e não este simulacro que a Europa nos comprou… Mas vai levar muito tempo*.

* Como diziam aqueles dois velhos Franciscanos, discutindo a questão do celibato dos eclesiásticos: “Não será coisa para o nosso tempo – só se for para os nossos filhos ou os nossos netos”….
 

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