Muitas das personalidades da cultura e da política contemporâneas da época em que viveu Sua Majestade, o Rei Dom Carlos I de Portugal, foram unânimes em reconhecer os seus enormes méritos e talentos fosse como Rei, fosse como homem, artista ou mesmo como cientista, não raras vezes se empenhando como enaltecedores do prodigioso monarca. Também, apesar da sua curta vida, O Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança de todos granjeava os maiores elogios!
‘D. Carlos rejeitou desde o início do seu governo todas as sugestões ambíguas que pudessem vir a comprometer a Nação e propôs-se, sem detença, restaurar a amizade entre Portugal e Inglaterra. (…) D. Carlos viu restabelecidas as antigas relações com a Grã-Bretanha e ocupados, na sua maior parte, os territórios ultramarinos e conquistou, além disso, pelas suas qualidades pessoais, uma posição de verdadeiro prestígio na Europa do seu tempo, em cujo equilíbrio cooperou com talento e êxito.’ – Dr. Luís Vieira de Castro, in “D. Carlos I”, p. 287
‘Com uma instrução geral que o não deixava encontrar hóspede em qualquer assunto de conversação; conhecedor e possuidor de línguas, especialmente do francês e do inglês, por forma que delas se servia como de sua própria; dado ao gosto e cultura das Belas-Artes, em uma das quais, a Pintura, foi distintíssimo; habituado nos sports e, como atirador, excepcionalmente forte – reunia a tudo isso ser o homem mais bem-criado do seu País, dotado de um humor sempre igual, sem descair nunca na vulgaridade, nem deixar perceber de si, em qualquer circunstância, sinal de contrariedade, despeito ou irritação.’ – João Franco Castello-Branco, in “Cartas D’El-Rei Dom Carlos I a João Franco Castello-Branco, Seu Último Presidente do Conselho, Lisboa”, 1924
‘Porque foi, por exemplo, morto D. Carlos? (…) E no entanto já hoje se pode afirmar sem erro que D. Carlos não foi morto pelos seus defeitos, mas pelas suas qualidades. Respirou-se! Respirou-se! – o que não impede que, a cada ano que passa, esta figura cresça, a ponto de me parecer um dos maiores reis da sua dinastia. Já redobra de proporções e não se tira do horizonte da nossa consciência. (…) Não foram os seus defeitos que o mataram, foram as suas qualidades. Só o assassinaram quando ele tomou a sério o seu papel de reinar, e quando, João Franco, quis realizar dentro da monarquia o sonho de Portugal Maior. Foi esse o momento em que, talvez pela primeira vez na história, os monárquicos aplaudiram um crime que os deixava sem chefe, e se abriram de para em par as portas das prisões, congraçando-se todos os políticos sobre os corpos ainda mornos dos dois desventurados. Carlos I teve culpas, e algumas muito graves, na verdade!… Todavia as maiores recaem sobre alguns dos seus Ministros que o aconselhavam muito mal, o que tornou possível o advento da República, em 1910. E tão infeliz foi o Monarca, que no próprio Paço Real foi traído por indivíduos que ele sentava à sua mesa…’ – Raul Brandão, in “Memórias”, 1.º Volume, Renascença Portuguesa, Porto, 1919, p. 289
‘Foi uma coroa de espinhos a que o moço rei teve para colocar sobre a cabeça, e nem o brio da juventude lhe permitiu um instante o gozo da vaidade, a que se chama fortuna. (…) E antes, depois e sempre, em todo o decurso deste já longo terramoto, cujo fim não vimos ainda, o moço rei, sozinho, desajudado de homens prestigiosos que lhe amparassem o trono, com partidos desconjunturados que na hora do perigo se demitem, confessando meritoriamente a sua impotência, ouvia estalar os tiros sediciosos do Porto e crescer a vozearia, confundindo os erros da sociedade com a responsabilidade da Coroa, esperando a salvação da queda da monarquia. Como se, no jogo mais ou menos imperfeito das instituições vigentes, houvesse alguma espécie de tirania! Como se o homem, que ontem se sentou no trono, pudesse ser responsável pelos erros acumulados em dezenas, em centenas de anos! Como se a desesperança, a apatia, o abandono com que a sociedade portuguesa se submete à oligarquia das clientelas e cabalas que a exploram, fossem filhas da acção perniciosa da Coroa! Como se, pelo contrário, não pudesse o rei queixar-se de tantos que desertam o seu posto…’ – F.A. Oliveira Martins, “El-Rei D. Carlos I” in “Semana de Lisboa”, 1/1/1893
SAR O Senhor Dom Luís Filipe de Bragança, 5.º Príncipe Real de Portugal e 22.º Duque de Bragança foi assassinado – juntamente com o Rei, Seu Pai – pelos criminosos republicanos da organização terrorista Carbonária, em 1 de Fevereiro de 1908, no episódio que ficou tristemente conhecido na nossa História como ‘O Regicídio’.
‘A sua história, como a sua própria vida, mal chegou a começar. Contido e delicado, falando pouco e ouvindo com atenção; gostando de inquirir e de se informar, pela sua precoce seriedade e sentimento das responsabilidades afigurava-se-me uma encarnação do que eu penso de D. Pedro V, com alguma alegria a mais. Se houvera vivido, ele, que fora preparado para reinar, a que destinos teria conduzido Portugal?’ – João Franco Castello-Branco in ‘Cartas D’El-Rei D. Carlos I’
‘Exercia a sua insinuante figura, a um tempo tão moça quão varonil uma atracção indefinível, por todos experimentada. Acrescia um amor pela sua terra, um fervor no sentimento patriótico que a todos também se comunicava, enquanto que uma educação primorosamente cuidada servida por uma inteligência claríssima e auxiliada pela prodigiosa memória da sua Casa, contribuía poderosamente para o êxito triunfal da viagem, destinada afinal a marcar apenas os derradeiros lampejos de glória de um Reinado a que ia em breve pôr termo a mais atroz tragédia da história.’ – Ayres D’Ornellas in «Viagem do Príncipe Real», Lisboa, 1908, pág.8.
‘É Vossa Alteza Príncipe, há-de ser Rei; ora, Príncipe e Rei que não comece por ser soldado, é menos que nada, é um ente híbrido cuja existência se não justifica. Há poucos anos andava pela Europa, num exílio vagabundo de judeu errante, um Imperador que num momento de crise esqueceu que o seu título vinha do latim Imperator, epíteto com que se saudavam os vencedores, e que se não vence sem desembainhar a espada – sine sanguine victoria non est. Por um erro igual já subiu um Rei ao cadafalso e outros foram despedidos do trono para o exílio sempre doloroso e humilhante. Príncipe que não for soldado de coração, fraco Rei pode vir a ser.’ – Joaquim Mouzinho de Albuquerque in ‘Carta ao Príncipe Real’ Dom Luís Filipe de Bragança
Mataram o Rei! Mataram o Príncipe Real e com a sua morte, num período tão abundante de esperanças, acontece o principal sinal das mais trágicas desilusões.
Pesquisa de Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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