sexta-feira, 22 de junho de 2018

Algumas das maiores vitórias portuguesas nos 1560's

Foto de Nova Portugalidade.

Quem tiver lido as obras do comandante Saturnino Monteiro, saberá que Portugal teve tantas, mas tantas batalhas ao longo do século XVI que é de se estranhar não haver, tanto quanto eu saiba, cursos que se especializem sistematicamente nesta matéria. Foi-me difícil escolher as que me parecem ser as principais vitórias portuguesas na década de 60. Excluí o Cerco de Mazagão em 1562 porque planeio fazer no futuro um artigo inteiro sobre esse confronto. Para já, ficam aqui extraídas do terceiro volume do comandante Saturnino as que me parecem, pessoalmente, ser as principais vitórias lusas nessa década. Desfrutem!
"No dia 20 de Janeiro do ano de 1568, Malaca estava em festa para comemorar o aniversário de Dom Sebastião, que nesse dia completava catorze anos de idade e assumia o governo de facto. Juntamente com outros fidalgos e gente grada da cidade estava o capitão Dom Leoniz Pereira, divertindo-se num jogo de canas quando, subitamente, no meio de grande alvoroço, o foram avisar que estava à vista uma grande armada que devia ser do Achém.
Não se perturbou Dom Leoniz e, com uma fleuma capaz de fazer inveja ao mais fleumático dos ingleses, continuou a jogar, limitando-se a dizer: “Ainda bem que os Achéns vieram, porque assim poderemos festejar o aniversário del Rey com huma grande victória!” E só quando terminou o jogo é que foi observar a armada inimiga!
Ao fim de alguns dias de conversações inúteis, o Rei do Achém desembarcou as suas tropas, construiu várias tranqueiras em volta da cidade e começou a batê-la com a sua artilharia. Respondiam os portugueses com a sua e, por vezes, faziam surtidas contra as posições inimigas.
Desta forma continuou o cerco por cerca de um mês sem que os Achéns conseguissem abrir brecha nas muralhas da cidade e muito menos quebrantar o ânimo dos defensores.
A 16 de Fevereiro, na sequência de um bombardeamento terrível que durou um dia e uma noite e a coberto de espessas nuvens de fumo, os muçulmanos achéns encostaram centenas de escadas às muralhas e começaram a subir por elas como formigas, fazendo alarde de grande valentia e determinação.
Mas os portugueses não se desorientaram. Lançando sobre os assaltantes grande quantidade de pedras e panelas de pólvora e travando com eles renhidos combates acabaram por os obrigar a desistir, depois de terem sofrido pesadas baixas.
Neste cerco os Achéns tiveram três mil mortos e tantos feridos que se viram obrigados a mandar queimar um certo número de navios por não disporem de gente para os guarnecer.
Em finais de Abril do ano de 1568, largou de Goa uma armada capitaneada por Dom Luís de Almeida. Certo dia foram avistadas embarcações que vinham do Mar Vermelho. Contra elas foram imediatamente as nossas, que depois de uma bem travada peleja as conseguiram render.
No dia 20 de Janeiro de 1568, ao completar catorze anos de idade, el Rey Dom Sebastião assumiu o governo de Portugal e do seu vasto império, que então se encontrava no apogeu.
Um dos seus primeiros actos como Rei foi nomear Dom Luís de Athaíde como Visorey da Índia Portuguesa. Dom Luís de Athaíde chegou a Goa a 10 de Setembro de 1568, acompanhado por cinco naus, em que iam embarcados muitos fidalgos ávidos de ganharem honra e proveito.
Dom Luís de Athaíde, durante o seu governo, continuou a mandar armadas para o mar, disposto a pôr um fim às actividades dos corsários malabares que, por essa altura, infestavam a costa ocidental da Índia, então controlada pelos portugueses.
No ano de 1569, saiu de Goa mais outra armada, com a missão de continuar a caça aos corsários. Poucos dias depois, foram avistadas ao alvorecer embarcações de malabares navegando. Imediatamente a nossa armada foi atrás delas.
Os soldados portugueses atiraram-se para dentro das embarcações inimigas, armados com escudos e espadas, travando com os mouros um terrível combate, e começando-se a pelejar muito denodadamente às espingardadas, e frechadas, e com muitas bombas, e artifícios de fogo com que de parte a parte se tiravam, travou-se a peleja de maneira que não deixava de fazer a vitória duvidosa.
Às espadas foram os mouros todos mortos sem se tomar algum vivo.
Pouco tempo depois, o Visorey mandou aprontar mais uma armada, cujo comando entregou a Aires Teles.
Quando os mouros viram aproximar-se a nossa nau, pejada de soldados cobertos com armaduras reluzentes desmoralizaram e fugiram para terra.
Em princípios de Maio do ano de 1569, largaram de Goa um galeão e uma pequena nau, com propósitos comerciais, de abastecer as Molucas e ir buscar pimenta a Sunda.
A caminho, a nau passou por Achém, onde começaram a ser avistadas numerosas velas saindo do porto.
Tratava-se de uma poderosa armada, composta por vinte galés, vinte juncos e cerca de duzentos navios mais pequenos, com que o Rei daquela cidade se preparava para ir novamente pôr cerco a Malaca na Malásia.
Vendo aparecer inesperadamente uma nau portuguesa deu imediatamente ordem aos seus navios para a irem tomar.
Por três dias contínuos os portugueses, com um único navio, se bateram contra o seu adversário duzentas vezes mais numeroso, que acabou por se retirar.
Nas palavras de Saturnino Monteiro; «na verdade, o combate que aquele travou ao largo do Achém, em fins de Maio de 1569, é um dos mais espantosos combates navais de todos os tempos, em que uma única nau, guarnecida apenas com quarenta soldados se bateu durante três dias consecutivos contra duzentos navios, dos quais afundou cerca de quarenta, obrigando os restantes a bater em retirada muito destroçados."
(Batalhas e combates da marinha portuguesa volume III, de Saturnino Monteiro).

Ricardo da Silva

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