“O Rei morreu, longa vida ao Rei!”, ditado popular tantas vezes utilizado até ao século XVIII, em que as monarquias ditavam o destino do seu povo.
Mas a Revolução Francesa veio mudar o paradigma com a instauração da Primeira República, exemplo seguido por outros regimes europeus, iniciando a queda do absolutismo. Hoje, no continente europeu existem apenas dez países onde as casas reais se mantêm de pé, divididas entre sete monarquias constitucionais, dois principados e um grão-ducado, algumas sem o mesmo poder de outros tempos, poucas com autoridade legal forte. Resta ainda Andorra, dividida entre Espanha e França, um co-principado à espera de ser abraçado pelo actual rei de Espanha, Filipe VI. Conheça os monarcas dos nossos dias, embalado pela frase de uma das vozes do golpe liberal francês, o historiador Adolphe Thiers: “O rei reina, mas não governa.”
Espanha. Irmão ibérico monarca
Foi o Império Romano a implantar esta tendência na península, nos finais do século III a.C., mas é preciso viajar até ao século XX para se assistir à instauração do regime que existe hoje em Espanha. A Casa de Bourbon ocupa o trono real desde 1700 – a dinastia mais recente depois da austríaca, que terminou no início do século XVIII –, com a ascensão de Filipe V, o primeiro rei Bourbon de Espanha (1700-1724).
Dois séculos mais tarde, o rei Juan Carlos I tomava posse, após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975. Foi aprovada uma nova Constituição (1978) que marcou um período de transição para a democracia e instaurou a monarquia parlamentar hereditária, dando ao rei a designação de chefe de Estado e comandante das Forças Armadas, com funções representativas internacionais, mas também de moderação e cooperação com o governo. Foram quase 40 anos de reinado que culminaram o ano passado com a abdicação, dando sucessão ao seu filho, príncipe Filipe das Astúrias – agora Filipe VI –, que passará a coroa real à filha Leonor, caso a rainha Letizia não lhe conceda nenhum filho.
Dois séculos mais tarde, o rei Juan Carlos I tomava posse, após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975. Foi aprovada uma nova Constituição (1978) que marcou um período de transição para a democracia e instaurou a monarquia parlamentar hereditária, dando ao rei a designação de chefe de Estado e comandante das Forças Armadas, com funções representativas internacionais, mas também de moderação e cooperação com o governo. Foram quase 40 anos de reinado que culminaram o ano passado com a abdicação, dando sucessão ao seu filho, príncipe Filipe das Astúrias – agora Filipe VI –, que passará a coroa real à filha Leonor, caso a rainha Letizia não lhe conceda nenhum filho.
Bélgica. País dos três com rei
A Casa da Bélgica é quem reina o país desde 1831, depois da independência conquistada e da aprovação da Constituição, um ano antes. O país seria constituído como monarquia parlamentar, designando o príncipe alemão Leopoldo de Saxe-Coburgo-Saalfeld (Leopoldo I) como o primeiro rei – com poderes idênticos aos do monarca espanhol –, para mais tarde, em 1970, introduzir um governo federal, dividido em comunidades. Entre 2010 e 2011, o rei Albert II teve um papel importante na resolução da crise governamental – a mais longa do mundo e mais grave da sua história. Em 2013, após a abdicação de Albert II, o rei Philippe tomou as rédeas da casa real belga – desde 1991 que o filho mais velho é o sucessor, independentemente do sexo –, com a missão, como chefe da nação, de unir um país dividido entre flamengos (Flandres, parte holandesa) francófonos (Valónia, parte francesa) e a capital, Bruxelas.
Dinamarca. Mulher no poder
Com mais de mil anos, a quarta monarquia mais antiga do mundo só em 1849 é que aboliu o Absolutismo. O “Acto de Sucessão”, assinado em 1953, permitiu que mulheres pudessem subir ao trono. E foi o que aconteceu em 1972 com Margarida II, sucedendo ao seu pai Frederico IX, da Casa de Oldenbourg, que pertence à Casa de Glucksbourg desde 1863, e no trono desde 1448. O sucessor será o seu primogénito absoluto (desde 2009 que é assim), Frederico, que não poderá actuar politicamente de forma livre, mas participará no diálogo com a estrutura multipartidária no sistema parlamentar da Dinamarca.
Liechtenstein. Caso singular
Outro principado onde a lei semi-sálica ainda impera (prioridade para qualquer descendente masculino). A Casa de Liechtenstein gere desde 1608 este pequeno Estado, elevado a principado em 1719. Num acontecimento histórico no Leste da Europa, a população do Liechtenstein votou para aumentar os poderes do príncipe Hans-Adam II em 2003, podendo vetar qualquer legislação ou dissolver o parlamento. Tecnicamente estes poderes passaram no ano seguinte para o seu filho, Príncipe Alois, mas Hans Adam II continua como chefe de Estado. Em 2012, a família real ameaçou pedir exílio à Áustria, caso o referendo sobre a perda dos seus poderes legislativos vencesse. Resultado: o príncipe manteve o seu direito de veto com 76 % dos votos contra a proposta. Assim se mantém uma das monarquias mais abastadas da Europa, casa de monarcas poderosos.
Luxemburgo. O Grão-Ducado
O mais pequeno dos 28 países da União Europeia constitui-se como o último Grão-Ducado europeu – título inferior ao rei — nascido em 1815, e um Estado independente desde 1839, após o Tratado de Londres declarar a separação com a Holanda. Henrique tomou posse no ano 2000 após a abdicação do seu pai Jean, da segunda Casa de Nassau, família reinante desde 1890. Como chefe de Estado colabora com o parlamento e com o Conselho de Estado. Em 2008, durante a discussão sobre a lei que permitia a eutanásia, o governo decidiu retirar o poder de veto ao Grão -Duque. O seu herdeiro Guillaume não terá vida fácil neste paraíso fiscal.
Mónaco. Principado dos Grimaldi
Um dos espectadores mais assíduos dos jogos do clube de futebol AS Mónaco FC é também príncipe desta território, Alberto II, que sucedeu em 2005 ao seu pai Rainier III, conhecido por ter casado com a actriz Grace Kelly. As terras monegascas têm sido governadas pela Casa Grimaldi há mais de 700 anos. O primeiro rei, um mercante que virou pirata chamado Lanfranco Grimaldi, italiano de gema, invadiu a região mediterrânica em 1297. Após a sua morte, o primo, Rainier I tomou o trono, de onde descendem todos os outros monarcas que se seguiram. O príncipe Alberto, sendo chefe de Estado como nas outras monarquias, goza de maior poder político que a maior parte dos monarcas europeus, dividindo-o com o parlamento, obrigado a submeter-se às decisões do monarca – estabelecido na Constituição de 1962, onde se declarou que o poder executivo é entregue ao príncipe regente. Existe ainda um apontamento de causar inveja: ninguém paga impostos (salvo raras excepções, como ser de nacionalidade francesa). E quem será o herdeiro desta ilha dos poderes? O seu filho Jacques Honoré, irmão gémeo de Gabriella Thérèse Marie, o próximo na linha de sucessão.
Noruega. A mais popular em 2014
Um país jovem que esteve sobre o domínio da Dinamarca ( 1380-1814) e da Suécia (1814-1905) só elegeu o seu rei, Haakon VII, em 1905. Mais um herdeiro nórdico da monarquia constitucional governada pela Casa de Oldenbourg desde a subida ao trono do primeiro rei norueguês. Desde 1990 que a sucessão passa para o o filho mais velho. O Rei Harald V, de 77 anos, é o soberano em actividade, sucedendo ao seu pai Olav V em 1991. O seu papel cerimonial inclui porém um detalhe importante: a partir da aprovação do parlamento, pode pertencer ao Conselho de Estado que se reúne no Palácio Real em Oslo (todas as sextas-feiras às 11h00). O próximo será o príncipe Haakon Magnus, que terá de obedecer ao poder simbólico do rei proclamado na Constituição de 1814, ser o Alto Protector da Igreja da Noruega, Grande Mestre da Ordem Real de St.Olav e obviamente, estar presente em cerimónias importantes.
Reino Unido. God save the Queen!
É provavelmente a monarquia constitucional mais badalada nas últimas décadas. Quem não conhece a Rainha Isabel II, no poder desde 1952, após a morte do seu pai George VI? O príncipe William? Ou Charlotte Elizabeth Diana? Todos membros da Casa de Windsor criada em 1917, família reinante. Isabel II é chefe da Commonwealth e da Igreja anglicana britânica, tendo uma posição neutra – raízes da Magna Carta de 1215 e da Guerra Gloriosa em 1688 que ditaram o fim da monarquia absoluta – mas podendo fazer uso da prerrogativa real – entenda-se, poderes da Coroa – se o governo assim o aprovar, como declarar guerra a outro país ou desaprovar leis.
Suécia. “A mais moderna”
Em Estocolmo reina a casa que descende de um marechal francês do exército de Napoleão, Jean Baptiste Bernadotte eleito príncipe da Suécia em 1810 – o rei sueco, Karl XIII, era demasiado novo para reinar. Passados oito anos, Bernadotte tomou o nome de João Carlos XIV, que também se tornou rei da Noruega ( Carlos III), até 1905, aquando do fim da união entre os dois países nórdicos. Em 1980, durante o reinado do actual rei Carlos Gustavo XVI, a Suécia tornou-se na primeira monarquia a ditar que o herdeiro seria o primeiro filho a nascer, independentemente do género, dando à princesa Vitória, o direito a subir ao trono. Em 1974, através do acto da Constituição, ficou decretado que o “Rei não poderia mais governar sozinho”, entregando o poder executivo ao Riksdag, parlamento sueco. Actualmente, o país auto proclama-se como a “ mais moderna das monarquias”.
Holanda. O mais novo dos Reis
A Casa de Orange-Nassau está na cadeira real desde a criação do reino dos Países Baixos em 1815, sendo o rei William I, o primeiro. Em 2013, Beatriz da Holanda, de 75 anos, abdicou, a 30 Abril, no dia nacional do país. A coroa passou para o filho, Willem-Alexander – o mais novo da Europa – algo que não acontecia há mais de 100 anos por terras da laranja mecânica. A sucessora será a filha Amália. Neste país, o rei, para além de chefe de Estado, é presidente do Conselho de Estado, algo que remonta ao século XVI, onde todas as leis passam por aqui.
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