João Franco anunciara no início de mandato o intento de governar à inglesa, ou seja, energicamente, mas com equidade, dentro do espírito das leis, com harmonia mas também com firmeza. Em 25 de Maio 1906, João Franco anuncia o seu programa de governo: ‘tolerância e liberdade para o país compreender a monarquia’, tendo o Conselho de Estado amnistiado os crimes de imprensa. Aproveitando a onda de liberdade, a oposição desencadeia uma vaga de ataques a João Franco e ao Rei Dom Carlos – novamente, a falsa questão dos adiantamentos. A oposição dos dissidentes progressistas entende-se com os republicanos e chega mesmo a instituir-se um comité revolucionário com os dissidentes, Visconde da Ribeira Brava e Alpoim, e, os republicanos Afonso Costa e Alexandre Braga. Estas dissidências não se verificavam por exemplo do lado da Maçonaria que deixa o conforto das acções de beneficência e sai das sessões místicas das lojas para, na sombra, mesmo reunindo membros que nutriam uns pelos outros ódios figadais, unificar-se pelo móbil revolucionário sob direcção do prestigiado grão-mestre Magalhães Lima – coesão que manteria até ao golpe do 5 de Outubro de 1910. A unidade maçónica permitiu a formação de uma organização secreta conjurante e armada: a Carbonária. A Carbonária Portuguesa, liderada por Luz de Almeida que arregimentava a artilharia civil, a partir de 1909, apoiada pelo próprio grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, lançou-se no patrocínio das bombas dos anarquistas como João Borges e no recrutamento de fidelidades nos quartéis. As chefias militares, a braços com a pesada burocracia não tomavam consciência da enraizada 5.ª Coluna Carbonária entre soldados e sargentos.
Por outro lado, os republicanos do PRP lançaram-se na propaganda demagógica e Brito Camacho profere a famosa frase que expõe, claramente, a agenda republicana: ’havemos de obrigá-los às transigências que rebaixam ou às violências que comprometem’. Tudo serve de desculpa para denegrir o governo e o Rei: por exemplo começa a greve académica de Coimbra em Março de 1907, com o falso pretexto da reprovação de um candidato a Doutoramento em Direito; foi dito que João Franco, depois de quebrado o apoio dos progressistas, passou a governar à turca, mas tratou-se de uma ditadura apenas administrativa, à maneira da ditadura clássica romana; especulavam que o Rei intervinha muito na governação! Ora a verdade é simplesmente a opinião que sobreviveu! Vae Victis! Sim, porque a História é feita pelo vencedor!
Em 28 de Janeiro de 1908 é descoberta uma conspiração urdida pelos dissidentes progressistas e pelos republicanos. São detidos vários membros do directório republicano como Afonso Costa, António José de Almeida, Luz de Almeida, Egas Moniz e João Chagas. Luz de Almeida era o líder da brigada de artilharia, a Carbonária; António José de Almeida tinha entendimentos com o exército e mobilizava anarquistas como o bombista João Borges. Também foi preso Ribeira Brava, enquanto Alpoim, depois de se refugiar em casa de Teixeira de Sousa, fugiu para Espanha, instalando-se em Salamanca. A revolta foi descoberta e sufocada graças à acção do governo e do general Malaquias de Lemos, que dela tivera conhecimento pela indiscrição de um conjurado, que tentou cativar um polícia amigo, que, ao invés, foi expeditamente avisar os seus superiores.
Então João Franco ‘força’ El-Rei a assinar o Decreto de 31 de Janeiro que prevê a deportação dos que atentassem contra a segurança do Estado. O decreto foi assinado por Dom Carlos em Vila Viçosa. O monarca terá, então, dito: ’assino a minha sentença de morte!’.
A Família Real, como era comum no início de cada ano, encontrava-se em Vila Viçosa, pois aí passava um período de vilegiatura pela quadra natalícia no Paço Ducal – que Dom Carlos I adorava -, com os seus amigos mais chegados.
Em 1 de Fevereiro de 1908 - vai fazer precisamente 107 anos - a Família Real Portuguesa regressa no Comboio Real das férias de Natal, em Vila Viçosa, e é vítima de um atentado terrorista que ficaria conhecido na História de Portugal como o Regicídio.
Quando Suas Majestades os Reis Dom Carlos e Dona Amélia e os Príncipes Dom Luís Filipe e Dom Manuel percorriam o Terreiro do Paço num landau, os “primos” carbonários Manuel Buiça, Alfredo Costa e mais três lançaram-se “A Eles!”. Na exaltação vermelha do plano urdido secretamente na penumbra pelas organizações secretas e republicanas, o Costa disparou cobardemente pelas costas dos membros da Família Real e acertou El-Rei Dom Carlos na nuca; num acto de enorme coragem o Príncipe Real Dom Luís Filipe sacou do coldre o seu Colt e começou a disparar sobre o assassino de seu Augusto pai, mas os solavancos da carruagem fizeram-no errar a pontaria e, acabou, também, assassinado pela repetição de tiros do terrorista. O Buiça, que tirara a carabina escondida no varino descarrega a arma atingindo Dom Manuel no braço direito, enquanto a Rainha Dona Amélia aos gritos de “Infames!”, e, “armada” de um ramo de flores, tentava corajosamente, mas em vão, proteger a sua amada Família. O tenente Francisco Figueira trespassou, então, o Buiça com a espada e pôs-lhe fim aos intentos assassinos. Os outros acabaram, merecidamente, no fogo das armas da polícia.
Numa carta a seu amigo, SAS O Príncipe Alberto I do Mónaco, escrita em Fevereiro de 1907, Sua Majestade El-Rei Dom Carlos I exteriorizara a solução para o Reino: "Considerando que as coisas aqui não iam bem, e vendo os exemplos de toda a Europa, onde não vão melhor, decidi fazer uma revolução completa em todos os procedimentos do governo daqui, uma revolução a partir de cima, fazendo um governo de liberdade e de honestidade, com ideias bem modernas, para que um dia não me façam uma revolução vinda de baixo, que seria certamente a ruína do meu país." As elites republicanas – sim porque o Regicídio e mesmo o golpe que implantou a república não foram urdidos pelo Povo chão -, trataram de apressar o assassinato do Rei para precipitar a queda da Monarquia, pois a reforma de Dom Carlos impediria os seus intentos de chegar ao poder. Por isso mataram o Rei de 44 anos! Por isso, mataram o Príncipe Real de 20, e, com a sua morte, num período tão abundante de esperanças, aconteceu o primeiro sinal das mais trágicas desilusões.
Sua Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Carlos I de Portugal gozava de uma admiração tal por todo o mundo, que pela primeira vez um Rei britânico, simultaneamente Chefe da Igreja Anglicana, entrou numa Igreja Católica, o que aconteceu na missa de requiem pelas almas d’El-Rei e do Príncipe Real, em St. James.
Por Miguel Villas-Boas - Plataforma de Cidadania Monárquica
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