A gastronomia portuguesa é diversa, rica, apaladada e reveladora de mil viagens dos sabores. Quando comparada com as gastronomias continentais europeias - de base camponesa ou com estrita separação entre comida para o povo e cozinha palatina - a gastronomia lusa revela inesperadas surpresas, influências e sínteses que lembram um laboratório de experiências que atravessou o tempo longo da história de uma nação que desbravou os mistérios do Mar e se insinuou em todos os continentes inventariando espécies animais e vegetais para as trazer para a mesa. Os doces, os agridoces, os salgados, os condimentados, os picantes - nas entradas, nas sopas, nos guisados, nos cozidos, nos fritos e nos assados - mais a doçaria carregada de referências distantes, são hoje (finalmente descoberta pelo mundo!) um riquíssimo património de cultura.
Já no século XVII se espantavam os viajantes com as iguarias servidas em Lisboa. De Domingos Rodrigues (1637-1719), cozinheiro do Conde do Vimioso, chegou-nos a Arte de Cozinha, publicada em Lisboa em 1683. Dela, retiramos ao acaso uma breve relação das muitas receitas que nos despertam irreprimível vontade de as degustar:
Pastéis de galinha, pastéis de lombo de vaca, pastéis de camarões, pastéis de peitinhos de galinha, pastéis de ameijoas, empadas de peito de vitela, empadas de veado salsichadas, perdiz recheada com almôndegas, perdizes cozidas em vinho branco, empadas de perna de javali, perna de carneiro recheada, perdiz doce, peru recheado com arroz, peru assado com salsa real, ovos recheados com peixe, ovos recheados com carneiro, cebolas recheadas com carneiro, chouriços mouros (com carne de aves), coelho albardado, coelho assado e lardeado, torta de peixe, peixe mourisco, peixe frito em manteiga, ovos de talhadas, trouxas de ovos, ovos em fatias, ovos moles, claras de ovos em castelo polvilhadas com canela, pão de ló de amêndoas, biscoitos de nata, chocolate ...
DEUS - PÁTRIA - REI
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