sábado, 10 de agosto de 2019

Patologia ideológica e realismo político

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Celebrar-se-ão em Outubro 70 anos da proclamação da República Popular da China, convidando a uma oportuna reflexão sobre o que realmente interessa nas relações entre Estados, não raro interceptadas por obsessões ideológicas que acabam, sempre, por prejudicar os países que sucumbem à cegueira da ideologia.

De Moisés Silva Fernandes, leio com notável atraso“A iniciativa gorada de Franco Nogueira para o estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China continental em 1964”.

Salazar quis reconhecer o governo da República Popular da China em 1949 e nessa inclinação se manteve até aos anos 60. Porém, por pressões externas (EUA) e internas (extrema-direita), foi adiando essa decisão, não obstante Adriano Moreira, Franco Nogueira e os diplomatas portugueses posicionados na Ásia continuassem favoráveis a tal reconhecimento de jure. Até 1963-64, as autoridades chinesas abstiveram-se de criticar Portugal, e em 1963 Zhou Enlai até pediu os bons ofícios de Salazar para uma clara oposição à continuação dos testes nucleares. Já antes, por ocasião da invasão da Índia portuguesa pela União Indiana, os chineses haviam assumido uma discreta defesa dos interesses portugueses, reforçada pela possibilidade de em Goa estabelecerem uma base naval. Mesmo no conturbado quadro da Revolução Cultural, em que Macau se viu invadida por milhares de Guardas Vermelhos, o governo chinês impediu a tomada da cidade no decurso do chamado movimento 1-2-3, obrigando os agitadores a abandonar o território e promovendo uma manifestação que assinalava a antiga amizade luso-chinesa. À cabeça da manifestação, um sintomático cartaz com os retratos de Salazar e Mao Tsé Tung não deixava dúvidas quanto à posição chinesa!

Hoje, com o agudizar da guerra comercial entre a China e os EUA, importa que não só saibamos recusar pressões externas, assim como nos devemos manter vigilantes ante forças internas "atlantistas" que possam, por patologia ideológica, pôr em perigo as excelentes relações entre Portugal e a China.

MCB

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